Editorial

Na catedral, no bairro ou na fábrica

Agência Ecclesia
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Memórias e exemplos de D. Manuel Martins (editorial)

O báculo ou a mitra têm lugar na catedral, no bairro, na fábrica, junto de quem passa fome ou está desempregado. Era a certeza de D. Manuel Martins, tantas vezes repetida e sobretudo vivida. Não como visitante, mas como residente. De facto, o primeiro bispo de Setúbal não passava e andava junto dos pobres, das famílias sem trabalho e da fome que marcou os anos 70 e 80 na Península de Setúbal. Esses eram os seus ambientes para ser bispo, os caminhos para o báculo do pastor e os ambientes para a denúncia pela força da palavra e pelo exemplo, que deram cor ao perfil de um bispo.

O falecimento de D. Manuel Martins não exige apenas homenagens e evocações do passado. É necessário recordar o seu trabalho nos fundamentos de uma diocese, as suas presenças em todos os contextos dos seus diocesanos e a sua capacidade de cuidar de todos e a todas as horas. Passadas algumas décadas, descobrem-se imediatamente marcas da sua ação e das suas palavras certeiras em muitas pessoas e instituições, escolhidas para serem o rosto da sua missão de bispo. E percebe-se caminho não andado noutros ambientes, noutras lideranças. Em causa, está a capacidade, ou não, de fazer dos direitos humanos e da dignidade da pessoa uma causa primeira, nunca esquecida. Não como princípios e verdades proclamadas, mas razões cimeiras para o acordar em cada dia, desde a madrugada, a determinar todos os projetos em todos os ambiente, porque todos são sagrados.

A despedida do primeiro bispo de Setúbal foi digna! Mas notaram-se muitas ausências: os que de perto conviveram com D. Manuel Martins, sobretudo os seus diocesanos, nomeadamente os sacerdotes, lá estavam, carregando-o até ao túmulo e mostrando que, neste tempo, é necessário continuar a sua missão na Península de Setúbal. As lideranças da sociedade não se notaram. E tanto teriam a agradecer a um homem que transformou uma região e tanto contribuiu para a construção da democracia!

Ficam as memórias e sobretudo os exemplos.

Obrigado D. Manuel Martins!

Paulo Rocha



Diocese de Setúbal