Valem menos do que um cão?
Octávio Carmo, Agência ECCLESIA
Eu, pecador, me confesso: dei a notícia do assassinato de um casal de cristãos no Paquistão com a tristeza e o choque natural perante a barbárie em causa, mas rapidamente houve outras notícias, outras entrevistas, infelizmente mais choques e preocupações. Não me surpreendeu que não viesse ninguém para as ruas protestar, por exemplo, diante da embaixada do Paquistão. O mesmo se diga em relação aos cristãos que morrem na Síria ou no Iraque, bem como aos milhões que aí são forçados a deixar tudo para trás, em troca de uma sobrevivência precária.
Felizmente, eles não sabem que aqui no Ocidente há pessoas que, lutando por aquilo em que acreditam, são capazes de fazer de fazer vigílias contra touradas ou contra a morte de um cão, mas os cristãos, pelo contrário, parecem assistir com indiferença ao martírio dos seus irmãos. Imagino o choque: será que eu valho menos do que um cão?
O recente relatório sobre a liberdade religiosa da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (cuja apresentação ficou mais marcada pelas ausências institucionais do que pela presença de quem de direito), as entrevistas ao patriarca Gregório III Laham e o testemunho do arcebispo libanês Issam John Darwish ajudam a combater o que foi definido como “iliteracia religiosa”.
Não quero acreditar nisso, mas talvez haja quem pense que as comunidades religiosas atingidas pelo fundamentalismo ‘merecem’ esse castigo e estão a provar do seu próprio veneno; talvez a falta de humanidade chegue ao ponto de considerar um crente como cidadão de segunda ou de terceira, face a outras vítimas das barbáries e das tragédias que se multiplicam no planeta.
Estes homens e mulheres, no entanto, representam um património de humanidade que não pode ser descurado ou maltratado, pelo contrário: a resposta ao extremismo, ao fundamentalismo, ao Mal, exige um fundo comum de valores, de espiritualidade, muito mais do que uma mera intervenção militar, armando ou desarmando as partes em conflito segundo interesses momentâneos.
A violência não se combate com mais violência e a intolerância exige um acréscimo de fraternidade e de diálogo na vida das comunidades crentes. Só assim se poderá ver no outro um irmão, com quem construir um mundo mais digno do desígnio divino para todos.
Direitos humanos