Realça D. Carlos Azevedo, bispo auxiliar de Lisboa, numa entrevista ao Jornal «Voz Portucalense»
O Bispo português e portuense, D. Carlos Azevedo, Auxiliar de Lisboa, foi um dos 110 Bispos que estiveram presentes num Curso de Formação destinado aos novos Bispos recentemente nomeados, ainda no pontificado de João Paulo II. Outro foi o também Bispo Auxiliar de Lisboa, D. Anacleto Oliveira.
Recorde-se que D. Carlos Alberto Moreira de Azevedo foi ordenado Bispo no mesmo dia em que João Paulo II disse aquelas palavras que acabam de ser reveladas: “Deixem-me partir ao encontro do Pai” – o dia em que foi anunciada a sua morte, cerca das 20h de 2 de Abril deste ano de 2005. Pouco depois de terminar a solene cerimónia da ordenação, na Igreja da Trindade no Porto, era conhecida a notícia: falecera o Papa João Paulo II.
D. Anacleto Oliveira foi ordenado alguns dias mais tarde, a 24 de Abril, no santuário de Fátima, já que pertencia ao presbitério de Leiria Fátima.
Regressado de Roma, D. Carlos Azevedo teve a amabilidade de dirigir algumas palavras à Voz Portucalense, dando conta da importância desse encontro de reflexão em Roma.
Voz Portucalense (VP) – Quer explicar-nos o sentido do encontro que acaba de manter em Roma e qual a sua finalidade e alcance?
D. Carlos Azevedo (DCA) – Tratou-se de um encontro ou Curso de Reflexão, convocado pela Congregação da Santa Sé para os Bispos, que é presidida pelo Cardeal João Baptista Re. Constou de um conjunto alargado de conferências pronunciadas quer por especialistas em várias matérias teológicas e pastorais, que por pessoas ligadas à Cúria Romana, com o intuito de nos porem a par dos principais dicastérios romanos. Foi portanto uma acção de formação, que nós acolhemos bastante bem, dada tanto a relevância dos temas como a boa organização.
VP – Em que local ou locais teve lugar?
DCA – Realizou-se numas óptimas instalações situadas perto de Roma (não no centro da cidade, mas em arredores próximos), orientada pela Regina Apostolorum e pelo Grupo Legionários de Cristo, que tem 300 seminaristas, que sempre nos acompanharam e auxiliaram desde que entrámos até que saímos, para que tivéssemos o máximo de disponibilidade para os nossos trabalhos. Uma organização impecável.
VP – E quanto aos temas abordados?
DCA - Tivemos uma primeira conferência por alguém da Congregação da Doutrina da Fé (antes era o Cardeal Ratzinger que se encarregava dessa conferência, como Prefeito da Congregação)...
Conferências e temas
VP – E quem substitui agora o Cardeal Ratzinger como Prefeito da Doutrina da Fé?
DCA – É um cardeal americano, vindo dos Estados Unidos, que tem por apelido Levada, um nome que parece ter origem em antepassados açorianos.
Os temas das conferências: uns achamos menos concretos, os que trataram da paróquia e da escassez do clero. Porém, parecendo o tema muito concreto, foi tratado por alguém da Congregação do Clero, mas a comunicação foi apenas teórica e mereceu alguma contestação sobretudo dos novos Bispo da América Latina, onde existem poucos padres para dioceses de grandes extensões, algumas do tamanho de Portugal... Eles esperavam certamente propostas de solução que não fossem apenas o ideal... e o ideal sabemos qual é: que houvesse um pároco para cada paróquia...
De resto, foi muito interessante, por exemplo a comunicação de Dominique Pécaud, um jesuíta francês que está na Organização Mundial do Trabalho e que é conselheiro do Presidente da Organização e que apresentou um estado das características actuais da globalização, com dados muito concretos sobre as consequências para a Igreja em todo o mundo: o estado actual e o que se pode prever.
Foi também muito interessante a intervenção do Cardeal Angelo Scola, Patriarca de Veneza, uma das figuras mais notáveis da Igreja em Itália, que falou do tema “O Bispo e a Cultura”: muito interessante e com muitos desafios para actuação no mundo da cultura hoje – apresentou a cultura como algo que não é secundário na acção pastoral de um Bispo.
VP - Outros aspectos que considere relevantes...
DCA – Sobre os aspectos de gestão económica, houve uma intervenção importante de um Bispo também dos Estados Unidos, da Diocese de Petersburgo, que nos falou das formas de gestão das dioceses, os princípios que devemos ter em conta, os cuidados e devem sempre estar presentes. Tivemos também o Regente da Penitenciaria Apostólica, falando sobre casos reservados, problemas de consciência, sobretudo casos relacionados com padres, como devem os Bispo ter um oportuno aconselhamento, a absolvição de casos complexos e causas extremas. Podem parecer casos estranhos, mas eles existem e é importante saber como com eles é preciso lidar.
Bispos da Europa e da América
VP – Quem foram então os Bispos presentes?
DCA – Apenas os que foram ordenados no último ano. Passado este, já não vão. Eram 110 Bispos novos de todo o mundo, isto é, da Europa e das Américas. Havia um grupo grande de 16 brasileiros e 17 dos Estados Unidos (houve uma grande renovação do episcopado dos EU).
VP – E bispos da África e da Ásia?...
CDA – Não participam neste Curso, É um outro Curso, visto que não dependem da Congregação dos Bispos, mas da Congregação da Evangelização dos Povos, tanto os da África como os da Ásia. A convocação deste encontro é da Congregação para os Bispos. Depois fomos também recebidos pelo Papa, que quis ter uma palavra com cada um, e ofereceu-nos uma cruz peitoral...
VP - Num conspecto global, como avalia o curso?
DCA – Considero que foi muito importante, quer pelos temas, como afirmei, mas também pelo clima de fraternidade que se estabeleceu entre nós: conhecimento mútuo, troca de experiências, conversas informais: para quem está no princípio desta missão episcopal foi muito importante deparar logo com uma abertura quer de horizontes quer de princípios orientadores. Um conhecimento das pessoas e dos problemas. É muito simpático verificar a capacidade de entrar em comunhão uns com os outros, e de partilhar preocupações.