Entrevistas

Cooperação em português

Paulo Rocha
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D. Francisco Silota, Bispo de Chimoio (Moçambique)

D. Francisco Silota, Bispo de Chimoio (Moçambique), foi o único Bispo de Igrejas africanas que falam em português a participar no Colóquio que decorreu em Lisboa. Porque se tratou de Bispos representantes da COMECE e do SECAM, ele é 2º Vice-Presidente deste Simpósio. À Agência ECCLESIA traçou modelos de cooperação entre a Europa e a África, nomeadamente a Lusófona. Agência Ecclesia - Qual o contributo destas Cimeiras para a melhor cooperação entre a União Europeia e a África? D. Francisco Silota - O facto de nos sentarmos, a União Europeia e a África, vai ajudar-nos a que tiremos, pouco e pouco, certos preconceitos. Já não são encontros de colonizadores e colonizados, de pobres e ricos e também não é de benfeitores e de beneficiados. Antes de seres humanos que se encontram para juntos procurarem um futuro melhor. AE - Quer dizer que a cooperação entre os dois Continentes não é unilateral? FS - Não. É para trabalharmos juntos. Interessa reflectir sobre o que fazer para que a África saia da situação em que está. Nesse sentido, a cooperação é da Europa para a África. Mas não no sentido paternalista, de um grande benfeitor... Será num sentido da mutualidade. AE - Os projectos económicos não correm o risco de serem elaborados pelos europeus e mesmo pelos loby’s da Europa? FS – Há possibilidade... Aqueles que ajudam, até certo ponto, mandam (infelizmente). O ideal é que os projectos sejam elaborados pelos africanos e nossos parceiros, numa mutualidade, respeitem as escolhas dos africanos. AE – Actualmente como se processa a cooperação? FS – A ajuda tem sido feita em conformidade com as determinadas organizações. Não posso generalizar a cooperação entre a União Europeia e a África. Esse “fórum” está a começar. A cooperação, agora, faz-se entre países e organizações. AE – A reconstrução de África será feita à imagem e semelhança da Europa, terá que seguir modelos económicos e políticos da União Europeia? FS – Se fosse à imagem e semelhança da Europa seria outro servilismo, com toda a franqueza... Cada Continente tem as suas particularidades. Se, de facto, queremos ajudar a África a ser ela mesma, deve ser ajudada dentro da sua cultura, dentro da sua geografia e também dentro das suas potencialidades económicas e na sua visão política. Assim será “A África!”. De outro modo uma cópia da Europa, que afinal não seria a África.


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