Cooperativa revitaliza aldeia esquecida
A Aldeia de Chãos, Rio Maior, distrito de Santarém, vive há cerca de duas décadas um processo de desenvolvimento local, que se corporizou no Rancho Folclórico de Chão e na Cooperativa Terra Chã
A Aldeia de Chãos, Rio Maior, distrito de Santarém, vive há cerca de duas décadas um processo de desenvolvimento local, que se corporizou no Rancho Folclórico de Chão e na Cooperativa “Terra Chã”. Uma dinâmica que permitiu combater as consequências do esquecimento e da desertificação numa pequena localidade, como explica Júlio Ricardo, 52 anos, professor do 1.º ciclo.
Agência ECCLESIA (AE) – Como nasceu o projeto «Terra Chã» que tem múltiplas atividades?
Júlio Ricardo (JR) – Pretendeu responder a uma questão que, hoje, poderemos considerar básica, que os jovens de Chãos (aldeia serrana com cerca de 150 habitantes) pudessem ter uma ocupação de tempos livres. Através de algumas motivações, pensou-se fazer um rancho folclórico. Passou-se para a ação e fomos procurar as tradições existentes através da conversa com as pessoas mais idosas. Identificámos trajes, danças e cantares habituais. Tentámos que o rancho tivesse uma componente de verdade e de qualidade.
AE – Uma forma de combater a deserti-ficação da aldeia e, em simultâneo, o desemprego?
JR – Estamos a falar de uma aldeia fechada sobre si própria nos anos 80. Começamos a ver que a aldeia de Chãos podia ser diferente e iniciámos um processo de formação com os jovens. Alguns deles voltaram à escola e fizeram o percurso até ao ensino secundário.
AE – Com mais formação, os jovens não pensavam noutras oportunidades fora da aldeia?
JR – É verdade. Verificámos que o trabalho da associação estava também a contribuir para a desertificação e despovoamento da aldeia. O confronto da nossa realidade com outras realidades permitiu-nos criar atividades económicas que possibilitassem a criação de riqueza local e também de empregos. Tudo isto porque a agricultura que tínhamos já não respondia a essa necessidade.
AE – E nasceu a cooperativa «Terra Chã»?
JR – Sim. Fomos buscar para a cooperativa toda a aprendizagem de 1984 até 2001. Fazíamos refeições para os jovens que recebíamos na aldeia. Fazíamos visitas à Serra dos Candeeiros com estes jovens através dos intercâmbios. Criámos um restaurante e alojamento na própria aldeia. Criou-se também um centro de artesanato que valorizava as práticas de artesanato e tecelagem noutros tempos.
AE – Com certeza que o restaurante tem pratos típicos da região?
JR – Sim. Recuperamos comidas que estavam em desuso e que cativam os nossos clientes.
AE – Uma forma de criar postos de trabalho?
JR – Sim. Por outro lado, todos os dias, o nosso pastor vai para a serra com o rebanho de cabras. Conseguimos criar um projeto sustentável em termos financeiros e contribui para que a aldeia se revitalize.
AE – Também têm um projeto de apicultura?
JR – Este projeto apareceu porque sentimos os problemas nesta área. Existiam muitos apicultores na Serra dos Candeeiros, mas não conseguiam vender o seu mel. Perante tal situação, resolvemos desenvolver competências na atividade que lhes permite produzir com mais qualidade.
AE – Uma forma de conhecer os sabores da serra?
JR – Os sabores e os odores das plantas aromáticas. Fazemos rotas temáticas onde se pode visitar as orquídeas selvagens e os moinhos de vento. Um contexto de turismo de natureza.
AE – Sem esquecer as grutas que abundam naquela região.
JR – A componente subterrânea da Serra dos Candeeiros é muito importante. Estamos a trabalhar com a gruta de Alcobertas, aquela que fica mais próxima de Chãos, no sentido de a dar a conhecer às pessoas.
AE – A cooperativa envolve quantas pessoas?
JR – Temos mais de 30 cooperantes onde as várias gerações partilham as suas vidas.
LFS
Pastoral Social