Entrevistas

Geral da Ordem Carmelita encontra-se em Portugal para debater papel da autoridade e prevenção dos casos de abuso sexual

Octávio Carmo
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Está a decorrer em Fátima o 15º Conselho de Províncias da Ordem Carmelita. A Agência ECCLESIA falou com o Pe. Joseph Chalmers, Prior Geral, sobre a situação da Ordem religiosa em Portugal e no mundo, não esquecendo a sua preocupação na prevenção de casos

Agência ECCLESIA – O tema deste Conselho consultivo é “O pape da autoridade na promoção do Carisma” e é um problema comum a várias famílias religiosas. Como têm decorrido os trabalhos? Pe. Joseph Chalmers – A questão é de facto comum a toda a Igreja, pois vemos que entre o ideal e a prática vai uma grande distância e as maneiras de encurtar essa distância podem ser muito diversas. Em Fátima procuramos saber como é que se pode utilizar a autoridade que é dada a uma pessoa na comunidade religiosa para ajudar os carmelitas a crescerem em direcção ao Senhor e à vocação que nos foi dada. AE – A sua experiência enquanto Prior Geral é muito importante para definir os limites dessa autoridade? JC – Tenho viajado e conhecido muitas comunidades e a minha impressão é que nem sempre os provinciais e os superiores locais utilizam a autoridade que lhes foi concedida, o que acabava por atrapalhar a resolução de muitos problemas que aparecem numa comunidade religiosa. Acho que é indispensável que a autoridade seja utilizada e nestes dias temos três grandes conferências que tratam o tema desde um ponto de vista bíblico, teológico e piscológico. Sabemos que os conflitos irão surgir, é humano, mas queremos deixar bem claro que o modelo da autoridade é Jesus Cristo. AE – Estão reunidos em Portugal os líderes de várias províncias. Que mensagem espera que eles levem daqui? JC – Em primeiro lugar que usem a sua autoridade para promover o carisma dos Irmãos e Irmãs Carmelitas e fazê-los crescer na sua vocação. É bom olhar para este aspecto da nossa vida e do nosso ministério para o compreender e assumir mais plenamente. Estamos também a trabalhar num documento final para definir de que maneira queremos caminhar enquanto Ordem e enquanto família. ESPERANÇAS PARA PORTUGAL AE – Como definira a situação da Ordem em Portugal? JC – A presença da Ordem Carmelita é muito pequena, mas tem uma história maravilhosa e eu tenho grandes esperanças para ela no vosso país. No ano passado estive em Lisboa para a apresentação do livro que retrata essa história em Portugal e sentimos o peso dessa responsabilidade. Sendo poucos, há um bom número de gente jovem que nos oferece garantias e mais importante do que a quantidade é a qualidade, como é lógico. Quanto mais fiéis formos à nossa vocação melhor será o nosso futuro. Como escreveu João Paulo II, é importante olhar para o futuro e não limitar-se a apreciar um passado glorioso, pelo que percebemos a necessidade de nos adaptarmos e evitar “falar a língua de ontem para as pessoas do amanhã”. MELHOR FORMAÇÃO PARA EVITAR CASOS DE ABUSO SEXUAL AE – O Conselho Geral decidiu dedicar um dia deste encontro para o problema dos abusos sexuais. Há consciência da necessidade de reflectir profundamente sobre esta matéria? JC – Sim, as pessoas estão a tomar consciência das dimensões do problema e nas culturas onde a crise dos abusos sexuais foi mais marcante, como nos EUA, todos nos apercebemos da necessidade de uma sexualidade equilibrada. O que quisemos fazer ao apresentar esta matéria no programa de Fátima foi partilhar a experiência e a sabedoria dos nossos peritos na área, bem como dos provinciais que viveram nos locais em que a dimensão dos casos foi maior e mais perturbadora. É possível partir daqui para compreender com mais profundidade os caminhos para a formação e educação sexual que já estão presentes na nossa “Ratio Formationis” (documento orientador para a formação dos religiosos). Esperamos dar passos em frente neste processo chamando a atenção de todos para estas questões.


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