Novos desafios para o SNEC
Diácono Acácio José Pereira Lopes é, desde o inÃcio do mês de Setembro, o novo Director do Secretariado Nacional da Educação Cristã (SNEC)
O Diácono Acácio José Pereira Lopes é, desde o início do mês de Setembro, o novo Director do Secretariado Nacional da Educação Cristã (SNEC). Em entrevista à Agência ECCLESIA, aborda o seu percurso de vida e os principais desafios que identifica para a acção da Igreja nesta área.
O SNEC é um órgão da Comissão Episcopal da Educação Cristã (CEEC), da Conferência Episcopal Portuguesa.
Agência ECCLESIA (AE) - De que forma tem estado envolvido, pessoal e profissionalmente, no mundo da educação? E especificamente no mundo da educação cristã?
Acácio Lopes (AL) - Na minha juventude, 20 anos, fiz um pequeno Curso de Iniciação Catequística e estive ligado à catequese paroquial durante alguns anos. Isso aconteceu também durante os primeiros tempos de vida matrimonial. Deixei a Catequese quando me matriculei na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa para tirar a Licenciatura em Filosofia. Nessa altura, a vida profissional numa empresa de Torres Vedras, as exigências da Licenciatura, as viagens diárias de Torres Vedras para Lisboa e vice-versa (ainda não havia auto-estrada), a vida familiar (entretanto nascera a minha primeira filha) tornaram impossível acompanhar a catequese paroquial.
Após a Licenciatura, tinha então 29 anos, ingressei na vida docente, no ensino estatal, tendo passado por várias escolas em vários pontos do País, profissiona-lizei-me e entrei no Quadro de professores efectivos do Ministério da Educação. Em 1990, foi-me feito o desafio, assim como a minha esposa, que também é professora, de irmos trabalhar para uma escola católica, o Colégio de S. Miguel, em Fátima. Aceitámos, pedi a exoneração do ensino estatal e ingressei no mundo da Escola Católica.
Até este ano, distribuí a minha colaboração pessoal e profissional entre o Colégio de S. Miguel e o Externato de Penafirme. Quando um grupo de responsáveis de escolas da Igreja entendeu que era necessário criar uma associação de escolas católicas, fiz parte, desde a primeira hora, do Grupo de Trabalho que levou à elaboração dos estatutos e à criação, com o aval da Conferência Episcopal Portuguesa, da Associação Portuguesa de Escolas Católicas. Desde então, integrei sempre, em representação das escolas a cujos quadros pertenci, os Órgãos Sociais da APEC, tendo estado durante 13 anos na sua Direcção. Até Março deste ano.
AE - Como encarou o desafio de coordenar as actividades do Secretariado Nacional da Educação Cristã?
AL - A primeira reacção foi de grande perplexidade e, mesmo, de grande confusão de sentimentos, à mistura com alguma especulação interior sobre as motivações e os pressupostos que espreitariam por detrás do convite. Depois, vieram as tentativas de enquadramento racional de tudo isso com o meu dever de ministro da Igreja e as exigências da minha vida familiar e a luta contra a tentação pessoal de uma vida mais tranquila e descansada, agora que, finalmente, estava aposentado da vida profissional docente. O dia litúrgico da Epifania de 2010, dia em que, na Casa Patriarcal, me foi feito o desafio e lançada a rede, ainda repercute na minha memória como o início de um combate desigual. Venceu o “Anjo”, perdi eu; a minha grande esperança é de que o resultado desta luta (o meu sim ao chamamento para abraçar esta nova forma de ministério eclesial) represente um bem para a Igreja e uma oportunidade mais que o Senhor me oferece de santificação.
AE - Que desafios marcam este início de ano de actividades, nos diferentes sectores da Educação Cristã?
AL - Trata-se de levar tão longe quanto possível o Plano de Acção da CEEC para o triénio 2008-2011. Ao nível do Departamento da Catequese, agora que está a sair o 4.º Catecismo, vamos editar o respectivo Guia do Catequista, que está pronto para o arranjo e montagem gráficos, terminar a elaboração do 5.º Catecismo e pedir à Conferência Episcopal a clarificação do lugar da “Profissão de Fé” no itinerário catequético, para que se possa elaborar, com rigor, o 6.º Catecismo. Por outro lado, o nível de exigência catequética e pedagógica destes mais recentes catecismos ir-nos-á mobilizar para uma aposta forte na formação dos respectivos catequistas. Iremos, também, realizar as Jornadas Nacionais de Catequistas, integradas na Semana Nacional da Educação Cristã, e o 50.º Encontro Nacional de Catequese, que terá lugar em Abril, na Guarda.
No que respeita ao Departamento de EMRC, temos em mãos a elaboração dos recursos e materiais pedagógicos para alguns dos anos e unidades didácticas, respondendo, desse modo, às exigências dos programas actualmente em vigor. Procederemos, paralelamente e à medida que esses materiais forem sendo utilizados, juntamente com os professores no terreno, a uma análise crítica dos mesmos para que as deficiências encontradas possam ser supridas ou corrigidas e se possam introduzir melhorias nas reedições posteriores. Mobiliza-nos, também, actualmente, a necessidade de, em negociação colaborante com o Ministério da Educação, ultrapassar algumas contradições e vazios legislativos no que diz respeito ao estatuto da disciplina de EMRC no sistema de ensino e à questão das habilitações próprias e profissionais dos respectivos professores. Concomitantemente, temos pela frente um desafio enorme: levar à aquisição de habilitação própria e profissional um grande número de professores que ainda não as possuem. É um esforço que vai exigir grande empenho das estruturas educativas da Igreja, e dos próprios professores, e, ao mesmo tempo, uma grande flexibilidade legislativa e administrativa do Estado. Em Janeiro próximo, iremos também realizar o Fórum de EMRC. E, ao longo do ano, haverá várias campanhas e encontros de responsáveis diocesanos, professores e alunos.
No que respeita à Escola Católica, procuraremos dar resposta aos desafios decorrentes do Seminário que realizámos no início de Setembro, simultaneamente em Lisboa e Coimbra, sobre competências pedagógicas e pastorais dos professores, com a orientação duma equipa formadora da FERE, de Espanha. Para além desta relação com equipas e instituições internacionais, pretendemos lançar as bases para a realização de formação por equipas e instituições nacionais. Por outro lado, poderá ser importante que o SNEC se constitua, cada vez mais, como plataforma de articulação de propostas e iniciativas com origem em outras instituições educativas católicas (associações, institutos, escolas, etc.).
AE - Que outros desafios para a Educação Cristã?
AL - A melhoria do nosso “site”, o desenvolvimento noticioso do que se vai realizando nas diversas vertentes da educação cristã, a nível local, regional, nacional e internacional, a melhor integração dos diversos itens que constituem o “site”, colocando-o ao serviço das necessidades formativas dos nossos professores, catequistas, pais e alunos, ou de quem queira beneficiar desse serviço, a procura de que o “site” seja também, cada vez mais, um suporte de divulgação de textos de interesse educativo e formativo produzidos por investigadores nacionais e estrangeiros, tudo isso se ergue no horizonte das nossas intenções. É um trabalho a desenvolver a longo prazo.
Está nos nossos planos, também, dar continuidade às publicações periódicas da nossa responsabilidade. Nesta vertente do nosso trabalho, é nossa intenção publicar proximamente um número da revista “Pastoral Catequética” de homenagem a D. Tomaz Silva Nunes.
São, na realidade, muitos os desafios. Há, de facto, muito a fazer. Realizaremos o que a nossa capacidade, fundada na vontade de Deus e apoiada pela Sua graça, nos permitir.
Mudança inesperada
AE - O inesperado falecimento de D. Tomaz Nunes dificulta a concretização dos planos definidos?
AL - O falecimento de D. Tomaz, precisamente no dia em que eu iniciava, oficialmente, este novo ministério, para o abraçar do qual ele tinha tido uma influência decisiva, foi, para mim, um choque, de que ainda não me refiz.
Todos sabemos que D. Tomaz, na sua missão de Presidente da Comissão Episcopal da Educação Cristã, acompanhava assídua e presencialmente a quase totalidade do trabalho executivo que compete ao Secretariado Nacional da Educação Cristã.
Claro que a sua ausência dificulta bastante a nossa missão. Não contamos com o seu entusiasmo, o seu empenhamento activo, o seu saber e experiência acumulada, a sua capacidade de discernimento, o seu aconselhamento pronto e afável, a sua simpatia pessoal, a sua alegria contagiante.
Todavia, o que está projectado e programado terá de ser realizado. Com maior dificuldade, sem dúvida. Mas, as exigências da nossa missão eclesial não se compadecem com o olhar para trás, sob pena de nos transformarmos em “estátuas de sal”.
AE - De que forma se organiza a Comissão Episcopal da Educação Cristã?
AL - A Conferência Episcopal Portuguesa entendeu, julgo que por ser o último ano de mandato, não substituir D. Tomaz na Comissão Episcopal. Ela é composta, a partir de agora, pelos restantes Bispos que já a compunham e por mim, seu Secretário, tendo sido designado como coordenador D. António Marcelino, Bispo Emérito de Aveiro.
AE - De que forma se assinala, este ano, a Semana Nacional da Educação Cristã?
AL - A Nota Pastoral da Comissão Episcopal da Educação Cristã, alusiva à Semana, terá como título a incisiva exortação de Bento XVI, quando da sua recente visita a Portugal : «Tornai as vossas vidas lugares de beleza». Esta exortação constituirá o lema da Semana Nacional.
Iniciaremos a Semana no dia 3 de Outubro, às onze horas, com a celebração da Eucaristia na Igreja paroquial de Cascais, transmitida pela TVI. O programa 8º. Dia, que irá para o ar a seguir à Eucaristia, será dedicado às diversas vertentes da educação cristã. No dia 6 de Outubro, à noite, em Aveiro, haverá um Colóquio sobre as relações Igreja-Estado e as respectivas influências e consequências no estatuto da disciplina de EMRC. Entre os dias 8 e 10 de Outubro, em Fátima, terão lugar as Jornadas Nacionais de Catequistas, com um programa próprio. A Semana encerrará em 10 de Outubro com a celebração, às onze horas, da Eucaristia na Capela do Seminário do Verbo Divino, transmitida pela Rádio Renascença.
A este respeito, que me seja permitida uma última observação: a Semana Nacional da Educação Cristã deste ano tem o selo e a marca de D. Tomaz, que tanto se havia empenhado nela. Ela representará, também, uma evocação à sua memória.
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