Entrevistas

O Carmelo de Coimbra sem a Irmã Lúcia

Paulo Rocha
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Prioresa recorda a vida da Irmã Lúcia e diz como cuidaram dela nos últimos meses

Foi a última Superiora da Irmã Lúcia. Cuidou da vidente de Fátima como se fosse uma avó… Ela, a “neta mimada”, Irmã Maria Celina de Jesus Crucificado (actual prioresa do Carmelo de Santa Teresa, em Coimbra) falou ao Programa Ecclesia quando as Irmãs que ali vivem em contemplação diziam o último adeus à Irmã Lúcia Ecclesia – A partir de hoje, o que fica diferente neste Carmelo? Irmã Maria Celina - A vida dela fazia muito parte da nossa vida e, como deve compreender, num Carmelo, na vida em clausura, nos vivemos 24 horas por dia juntas. Neste últimos tempos, sobretudo desde 15 de Junho, nós estivemos mesmo 24 horas por dia, uma, sempre com ela. Portanto, ela tornou-se muito mais íntima, neste aspecto. Isto acontece com todas as que se nos vão para a vida porque – e ainda não tive o caso de uma que morra de repente - quando precisam dos nossos cuidados, há uma ligação maior. Ecclesia - Ela era a jóia deste convento? Irmã Maria Celina - Sim... Eu já a conhecia… Eu faço diferença dela 50 anos. Conhecia-a ainda com muito vigor (estou cá há 28 anos). Mas, como alguém um dia disse: eu comportava-me com ela como uma neta... mimada!!! Ela era a nossa menina... Desde o dia 21 de Novembro, quando começou a queda maior da saúde dela, tornou-se mais dependente de nós e assim… chamávamos-lhe a nossa menina!... Ecclesia - O dia da Irmã Lúcia, no Carmelo, era igual ao das restantes carmelitas? Irmã Maria Celina - Enquanto pôde, era igual. Claro que a idade tornou-a mais frágil e, há muitos anos, a médica aconselhou-a a não vir à missa das 8 horas, por ser muito cedo para. Ela ouvia a Missa na cela e levávamos-lhe a comunhão. Ecclesia - Sentiu alguma vez que o facto dela guardar um Segredo afectava o seu dia-a-dia? Irmã Maria Celina - Ela era totalmente normal. EU, quando vim, estive 8 dias sem saber quem ela era. Nós quando cá chegamos ficamos um pouco "às cegas" e eu estive 8 dias sem saber quem ela era... Era normalíssima como outra qualquer... Ecclesia – Como será o dia de amanhã, neste Convento, sem a Irmã Lúcia Irmã Maria Celina - Já foi estes dias... Passar pela cela dela, apetece lá entrar, mas ela não está lá. Mas sabemos que ela anda por aí connosco, de outra forma. Que já não é para a nossa sensibilidade, para a nossa natureza, mas sabemos que sim, na fé, que ela está connosco! Ecclesia - O facto do nome e da vida da Irmã Lúcia chegar, nestes dias, a um número crescente de pessoas poderá despertar vocações para a vida contemplativa? Irmã Maria Celina - Pode acontecer. Deus serve-se de tudo. Ele é que chama. Deus serve-se de tudo... Por acaso a minha vocação começou por ouvir dizer que havia uma dos pastorinhos que ainda vivia e vivia numa casa onde estava sempre a rezar e eu disse: quero ser assim também! Ecclesia - A vida da Irmã está ligada à Irmã Lúcia também vocacionalmente… Irmã Maria Celina – Sim! Até porque eu era pastora como ela… Ecclesia – Onde? Irmã Maria Celina - Em Cinfães do Douro. Ecclesia - E ouviu falar da Irmã Lúcia… Irmã Maria Celina – Quando tinha cinco anos, ouvi o meu irmão, que era um ano e meio mais velho do que eu, e estava na catequese, a falar disso: dois já morreram, uma ainda vive e está num convento donde nunca sai e vive só para rezar. E eu pensei: também quero ser assim. Mas guardei segredo! Ecclesia - Dos cinco anos até...? Irmã Maria Celina - Aos 19. Vim com 19 anos. Ecclesia - Foi alimentando essa vocação, pessoalmente? Irmã Maria Celina - Depois houve um processo de maturação, porque aí foi uma primeira luz. Mas depois tive o tempo de maturação da vocação e de escolha. Até que decidi a vida contemplativa. Decidi com 14 anos, mas só pode vir aos 19… Ecclesia – E Sente-se feliz... Irmã Maria Celina - Sim! Sempre olhei para a minha vocação antes de vir como algo que era muito grande para mim, que me parecia impossível. Por isso hoje vivo numa gratidão muito grande para com Deus por este dom. Ainda penso que é um sonho!...


Pastorinhos de Fátima