Entrevistas

O ecumenismo no Porto trilha caminhos de novidade evangélica

Voz Portucalense
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Entrevista com D. Fernando da Luz Soares, Bispo da Igreja Lusitana

VP - Como surgiu a Igreja Lusitana? FS – A Igreja surgiu inicialmente pela acção de Diogo Cassels, que era na altura um leigo, dado à actividade social, preocupado com as crianças e os pobres. Fundou aqui uma escola, que é o primeiro edifício, que era escola à semana e no domingo se transformava em Igreja. Surgiram alguns problemas, e Diogo Cassels descobre que se tinha fundado em Lisboa a Igreja Lusitana (em 1880), como reacção a um certo ultramontanismo vigente no final século XIX. Foi aceite a adesão. Em 1900 construiu uma Igreja no Candal (actual paróquia nossa), outra no Prado, nas Devesas, que era também escola. (Começava sempre pela escola: primeiro ensinar a ler, para que pudessem ler a escritura e tivessem capacidade para a entender. Criou outra igreja no Porto (junto à Biblioteca Municipal) inicialmente dirigida por um padre católico. Mais tarde um professor Bonaparte, que tinha uma escola em Oliveira do Douro que também transformou em Igreja fundou ali uma paróquia. Estas são as actuais cinco paróquias da Igreja Lusitana. VP - Como é a Liturgia da Igreja? FS – A Liturgia é própria da Igreja Lusitana, que se iniciou por um primeiro livro de orações publicado em 1890 e se foi aperfeiçoando. Actualmente encontra-se publicado um volume da oração própria da Igreja. VP – Como funciona organicamente a Igreja, e nomeadamente a ordenação de clérigos? FS – A Igreja é orientada por um Sínodo, constituído por clérigos e leigos e presidida pelo Bispo, funcionando entretanto uma comissão permanente. O Bispo não pode ordenar quem quer que seja sem acordo da comissão permanente, que também não pode impor ao Bispo qualquer decisão. Nesta caso os que vão ser ordenados, e a sua missão na estrutura é definida na Comissão permanente. O Bispo depois faz a instituição desses ministros. A ordenação daquela mulher Ecumenismo VP - Como avalia o ecumenismo na diocese do Porto? FS – Devo distinguir a dinâmica do movimento ecuménico no Porto e em outros locais (e digo-o sem desprimor para quem quer que seja). No Porto, nos últimos anos a relação ecuménica ganhou raízes, com razões que se firmam na perspectiva de Jesus Cristo. Isso trouxe à relação entre Igrejas uma maneira de estar que veio enriquecer-nos e todos: sobretudo a Igreja Lusitana, a Igreja Católica romana, a Igreja Metodista e também a evangélica alemã, e a igreja anglicana inglesa. Já desde há trinta anos que se estabeleceu uma relação não apenas institucional, mas fraterna, de cooperação, de mútua compreensão. As diferenças não impedem a comunhão em torno da pessoa de Cristo. Veja-se o que acontece no projecto da capelania do Hospital de S. João em que as Igrejas participam no apoio espiritual aos doentes; vejam-se as iniciativas da semana ecuménica (que também se realiza em outros locais). Pela primeira vez se realizou uma peregrinação comum a S. Tiago, com a participação da paróquia das Antas e da Igreja Lusitana, que se realizou em 1 de Outubro deste ano. Eu e o senhor D. Armindo estivemos na cerimónia do envio, fez-se uma pequena nota litúrgica, na capelinha ao lado da Igreja da Lapa. Prepara-se agora uma Comissão Ecuménica mais alargada. Neste projecto tem tido um papel muito importante o Bispo do Porto, D. Armindo, e procura-se alargar a Comissão pessoas leigas. A diocese do Porto tem ido á frente nesse aspecto. Noutras dioceses a caminhada tem sido mais lenta, e temos também menos implantação. Tem havido contactos, recordo um em Santiago de Compostela em 1993. Mas parece que nas prioridades pastorais de algumas dioceses se tem verificado algum esmorecer ao ecumenismo. Registo também a colaboração do professor João Duque de Braga, que trabalha na edição de textos editados pelo Conselho Português das Igrejas Cristãs e pela Comissão Episcopal da Doutrina da Fé. Existem pois realizações neste domínio ecuménico. Falo agora pela Igreja Lusitana: entendemos que esta dimensão ecuménica é parte essencial da nossa missão: não é apenas testemunho, transmissão da fé, mas também vivência fraterna sempre em retorno da pessoa e palavra de Jesus Cristo. (Palavras recolhidas e adaptadas por MCF)


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