Entrevistas

O migrante não pode ser visto como problema

Santuário de Fátima
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D. Alessandro Ruffinoni, responsável pela pastoral da emigração no Brasil, será o presidente da Peregrinação de Agosto, em Fátima

D. Alessandro Ruffinoni, bispo auxiliar do Arcebispado de Porto Alegre, Brasil, será o presidente da Peregrinação internacional de 12 e 13 de Agosto no Santuário de Fátima, que acolhe anualmente a Peregrinação do Migrante e do Refugiado, organizada pela Obra Católica Portuguesa das Migrações

Naquela que será a segunda visita a Portugal e também a Fátima, D. Alessandro Ruffinoni fala, em declarações à Sala de Imprensa do Santuário de Fátima, sobre o convite para presidir a esta peregrinação e anuncia as intenções especiais de oração que trará como peregrino neste santuário.

Enquanto responsável pela pastoral da emigração no Brasil caracteriza o fenómeno da migração, focando em especial Portugal e o Brasil, não se escusando a abordar as questões mais problemáticas que caracterizam os fenómenos migratórios.

No final da breve entrevista, realizada por Internet, D. Alessandro Ruffinoni deixa uma saudação e uma bênção para todos os brasileiros em Portugal.

 

Esta viagem será a sua primeira visita a Portugal?

Já estive de passagem para o Portugal na ocasião da Beatificação do meu Fundador João Batista Scalabrini, apóstolo e pai dos migrantes (em Novembro de 1997). Antes de ir para Roma, fizemos uma escala em Lisboa e aproveitamos para fazer uma visita ao Santuário de Fátima. Foi um momento muito emocionante do qual sempre me recordo e está vivo dentro de meu coração.

 

Que expectativas pessoais e de pastor tem para esta peregrinação ao Santuário de Fátima?

Quando recebi o convite de participar a este evento da peregrinação internacional dos migrantes a Fátima fiquei muito feliz. Voltar a um santuário é sempre uma ocasião de renovação, conversão e entusiasmo. Vou para Fátima para estar junto com os migrantes portugueses espalhados no mundo inteiro, para me encontrar com a forte comunidade de brasileiros no Portugal, mas também para levar comigo os sentimentos de amor a nossa Mãe, Maria Santíssima. Tenho muito para agradecer a Maria e também para pedir pela nossa Arquidiocese de Porto Alegre que está para iniciar, no mês de Agosto, a celebração do seu centenário. Levo comigo o Vicariato de Gravataí, no qual estou residindo, com a sua gente feita de operários e de migrantes internos, para que Nossa Senhora nos abençoe e nos conceda a graça de ser um bom pastor, como o seu Filho Jesus.

 

Como responsável da Conferência Nacional dos Bispos Brasileiros pela Pastoral dos Brasileiros no exterior, como vê a realidade da mobilidade humana no mundo?

Sou missionário Scalabriniano. A minha vida e o meu trabalho como sacerdote foi sempre neste carisma de trabalhar no mundo das migrações. Como Bispo recebi da CNBB a tarefa de facilitar a presença de sacerdotes brasileiros para acompanhar as comunidades brasileiras espalhadas no mundo (estima-se que haja 4 milhões de brasileiros no mundo). A realidade da mobilidade humana constitui o maior movimento de pessoas de todos os tempos. Não há lei que possa deter este fenômeno que é antigo quanto a humanidade. O migrante não pode ser visto como problema nem pela Igreja, nem pelo Estado. Na Igreja ninguém é estrangeiro. Ela é como uma mãe que acolhe, estima e valoriza a todos, porque todos são seus filhos e filhas. O pai dos migrantes, João Batista Scalabrini dizia: "...emigra o homem, guiad o pela Providência...". Os migrantes são muitas vezes ocasião de comunhão, diálogo, integração. Eles não só precisam de acolhida e trabalho, mas também eles levam consigo uma riqueza de fé, de cultura e tradições que enriquecem os povos que os acolhem.

 

Concretamente sobre o Brasil, continua a ser um país que acolhe pessoas de todo o mundo. Como caracteriza os emigrantes portugueses que aí residem?

O Brasil é um país que se construiu com os migrantes. É um país que sempre acolheu muitos migrantes. Sendo uma nação formada de várias nacionalidades é também considerada uma terra hospitaleira e de muita alegria. Ultimamente o governo aprovou a lei de amnistia para todos os migrantes ilegais que entraram no Brasil até fevereiro deste ano de 2009. Por esta atitude de acolhida, o Brasil é um País de muitas culturas, tradições que fazem desta nação uma riqueza incomparável.

Aqui chegaram, além dos primeiros portugueses de Pedro Álvares Cabral, muitos outros portugueses do continente e das ilhas que formaram grandes comunidades de fé e de amor ao trabalho e à família. Eu vivo e moro em um lugar onde existem muitos de origem açoriana. É aqui que eu conheci a devoção ao Divino Espírito Santo, com todo o folclore de bandeiras vermelhas, com o menino imperador, com a visita das bandeiras nas casas, com a prece dos fiéis rezada fazendo um nó nas fitas amarradas às bandeiras... Sem falar da riqueza cultural e dos monumentos de estilo colonial português que são motivo de visita de muitos turistas.

 

Visitará emigrantes do Brasil em Portugal durante a sua viagem. Existem ainda alguns preconceitos relativamente a este grupo de emigrantes, e a outros. Qual a forma de terminarem?

O motivo pelo qual aceitei de participar a este evento é também a possibilidade de me encontrar com os missionários e missionárias brasileiros que trabalham com comunidades brasileiras no Portugal. A Igreja do Brasil com a PBE (Pastoral para os Brasileiros no Exterior) quer dizer a todos os seus filhos e filhas que não se esqueceu deles. Sempre recordamos a todos e, na medida do possível, queremos encontrar novos sacerdotes e religiosos/as que se dediquem, por um tempo, a uma experiência missionária junto a eles. Sabemos que muitos dos nossos compatriotas se deixam, às vezes, iludir por falsas promessas e infelizmente caem em situações ilegais e de risco. A presença do missionário brasileiro e o diálogo entre os Bispos de origem e de acolhida dos migrantes deve ajudar a minimizar certas situações difíceis. Não podemos só ver o migrante e passar adiante. A Igreja é por sua natureza samaritana, acolhedora e promotora de justiça e fraternidade.

 

Sabemos, aqui, no Santuário, que no Brasil é muito grande a devoção a Nossa Senhora de Fátima, com inúmeros paróquias, igrejas, santuários, escolas, etc., a Ela dedicados. É assim um facto tão visível no dia-a-dia do povo católico, como a nós aqui em Portugal nos parece, pelos contactos que daí nos chegam?

O povo brasileiro é devoto de maneira especial a Nossa Senhora Aparecida. Mas devido a origem de varias etnias existem devoções marianas ligadas ao País de origem dos migrantes. Sem dúvida a devoção a Nossa Senhora de Fátima é muito grande. Temos muitas Igrejas (Matriz e Capelas), santuários dedicados a Nossa Senhora de Fátima. Visitando as famílias é difícil não encontrar uma imagem de N.S. de Fátima. Os peregrinos que visitam Fátima voltam todos marcados por esta experiência de fé e com grande desejo de continuar esta devoção. Acredito que a mensagem de Fátima de oração e de conversão toca muito profundamente a todos nós pastores e fiéis.

A minha próxima visita ao Santuário de Fátima é uma graça que recebi e da qual agradeço de coração a Obra Católica Portuguesa pelo convite e pela honra.

Aproveito desta oportunidade para desde já saudar a comunidade brasileira e os seus missionários/as. Espero de poder ter um pouco de tempo para celebrar com algumas delas.

A todos o meu abraço e bênção e até breve.

 

Entrevista por LeopolDina Simões, Sala de Imprensa/Santuário de Fátima



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