Portugal desejava o 25 de Abril Octávio Carmo 20 de Abril de 2004, às 12:50 ... Acompanhar as mudanças polÃticas de Portugal, de longe, não foi fácil para D. Manuel Monteiro de Castro, actual Núncio Apostólico em Espanha. A conversa com este diplomata da Santa Sé faz-nos perceber que nenhuma situação dessa altura lhe é estranha. Agência ECCLESIA – Como viveu o 25 de Abril? D. Monteiro de Castro – Eu, nessa altura, estava no Vietname – onde permaneci até ao dia 13 de Abril de 1975 - e segui muito a situação através da France Press e do jornal “Le Mondeâ€. RecebÃamos um dossier bastante completo, todos os dias, e foi através dele que me ia mantendo informado Provavelmente ainda tenho em casa, em Portugal, uma colecção das coisas mais importantes que saÃram nessa altura, que consegui recolher apesar de estar muito longe do paÃs – do Vietname segui para a Austrália. AE – Mesmo de longe, conseguia-se adivinhar a mudança? MC – Bem, estávamos a ver em Portugal o prof. Marcelo Caetano com uma grande abertura e pensávamos, portanto, que o nosso Ultramar teria uma evolução. Quando foi o caso de Goa, Damão e Diu, estava em Roma nesse ano de 1961, e tive, inclusivamente, um papel activo na aula de Direito Internacional que estava a seguir para a discussão deste problema. Estas situações interessavam-me para a minha formação na área e, evidentemente, enquanto português. A imagem que transparecia para o exterior era a de um Portugal muito unido, digamos que com uma ideologia muito precisa, e com Marcelo Caetano adivinhava-se um caminho novo, dando a impressão de que ele estaria disposto a ter provÃncias ultramarinas com uma certa ligação a Portugal e, ao mesmo tempo, mais autonomia. Em tudo isto, que nos chegava através das agências de informação, os que estávamos lá fora vÃamos sinal de grande esperança, para não ter de passar o que tinham passado outros paÃses no mundo. AE – Era impossÃvel ignorar a situação do paÃs? MC – Sim, acompanhei tudo muito de perto, até porque tive uma série de problemas em Roma por causa de Portugal. Procurava defender sempre o meu paÃs, sobretudo quando os professores nos desafiavam a falar destes assuntos, explicando que Portugal tinha a posse das provÃncias ultramarinas com todos os argumentos do Direito. Apesar do meu professor de Direito Internacional ser uma pessoa muito aberta, já nessa altura, em Roma, percebia que ninguém aceitava os argumentos portugueses nem nada que cheirasse a colonialismo, de modo que não só segui a situação, como estive no meio da discussão. AE – Surpreendeu-o o modo como se desencadeou a Revolução de Abril? MC – Não, minimamente. É que Portugal queria essa mudança, todos sabÃamos que a nossa gente estava apenas à espera de alguém que desse o toque de abertura. A minha primeira reacção foi de ficar contente, embora na altura estivesse convencido de que a mudança teria sido bem feita pelo Marcelo Caetano, mas quando surgiu o 25 e Abril disse: Bom, Portugal precisava de alguma coisa assim, as nossas famÃlias estavam cansadas de ver os filhos partir. AE – Como avalia a Revolução de Abril? MC – Claro que com o 25 de Abril vieram coisas positivas, mas também pontos negativos. De negativo, lamento a polÃtica em Portugal Continental e no Ultramar, que não fez tudo o que poderia ter feito para evitar uma guerra terrÃvel em Angola, que deu no que deu, e que ainda hoje traz consequências e dá problemas graves ao povo angolano. Em relação ao “império portuguêsâ€, chamemos-lhe assim, houve falta de visão e, sobretudo, houve excesso de ilusões em relação a um sistema ideológico que não trouxe nada de bom. Ninguém pode negar que entre os pontos positivos estão uma grande abertura, a liberdade. Portugal começou a ter uma outra posição na polÃtica internacional, diante do mundo e da Europa aparecemos como outra nação, disponÃvel a ouvir o que nos estavam a dizer e que muita gente em Portugal, sobretudo quando não tinham saÃdo do paÃs, não queria ouvir. 25 de Abril Share on Facebook Share on Twitter Share on Google+ ...