Entrevistas

Preparar e celebrar a JMJ em Portugal

Luís Filipe Santos
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D. Ilídio Leandro, bispo de Viseu e membro da Comissão Episcopal do Laicado e Família, considera que as Jornadas Mundiais da Juventude no Rio de Janeiro têm tudo para ser um acontecimento católico marcante para os jovens portugueses.

Agência ECCLESIA (AE) – Portugal vai levar cerca de 600 jovens às Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ), no Brasil. O que é que pensa deste número?

D. Ilídio Leandro (IL) – Acho que este número é um sinal de que os jovens portugueses têm nas JMJ uma forma de viver a sua fé, de referenciarem a sua fé também em encontros de multidão.

E eu digo isto comparando as jornadas de Madrid, onde estiveram cerca de 13 mil, e o Rio de Janeiro onde vão estar cerca de 500, 600 jovens, naturalmente compreendendo a distância e o momento atual da sociedade portuguesa também, e sabendo que os que não vão, irão vivê-la cá mas sintonizados e em ligação.

Cá em Portugal está a organizar-se um grande acampamento aqui em Viseu, outro no Porto e outros noutros sítios, e portanto é uma afirmação de que os jovens precisam destes encontros, destes acontecimentos, e respondem sim quando naturalmente é de acordo com a oportunidade que têm.

 

AE – Não há o perigo de serem apenas balões de oxigénio em que a juventude se junta e prepara para as jornadas e depois acabou?

IL – É um perigo, pode acontecer. Talvez tivesse passado por essa leitura quando em 1997 fui a primeira vez a uma JMJ a Paris. A partir daí já fui a várias, e na primeira ia talvez com esse pensamento, era responsável aqui da diocese.

As jornadas marcam muito os jovens, claro que há uns tantos que porventura passam ao lado e depois não se embrenham, não entram dentro da preparação nem na vivência posterior.

Porém, o Departamento Nacional da Pastoral Juvenil cá em Portugal, os responsáveis diocesanos, os movimentos, os grupos de jovens, penso que têm feito um trabalho muito meritório.

Quero prestar homenagem a todos aqueles que em Portugal trabalham com a juventude, porque fazem um trabalho muito bom no sentido das JMJ serem não apenas um evento mas um acontecimento que está a acontecer desde o final de uma jornada até à outra, para naturalmente se refletirem os objetivos, os valores que ficaram da primeira, através dos lemas que são lançados.

Por isso, eu quero acreditar que há muitos jovens em Portugal, e muitos casais e adultos que devem muito da sua iniciação cristã, e mesmo do seu aprofundamento na vida da Igreja às JMJ.

 

AE – Foi diretor da Pastoral Juvenil. Nota muitas diferenças desde esse tempo, do final dos anos 90 do século XX até agora?

IL – Naturalmente que era mais fácil nessa altura passar mensagem. Havia ainda, talvez da maior parte das dioceses, um certo ambiente de transmissão da fé que também envolvia a família, e que por um maior número de jovens também existente em cada comunidade, mais facilmente era possível envolver e entusiasmar esses grupos de jovens.

Eu acredito que hoje é mais difícil, por isso faço também este apelo a um acompanhamento muito pessoal e muito de grupos – e grupos pequenos – que os responsáveis da juventude, nos diversos setores, precisam de fazer.

Hoje é mais difícil motivar os jovens, hoje eles vivem também em menor número, com menos envolvimento, portanto com grupos mais pequenos, e é mais fácil perderem-se, dispersarem-se, até com tantas alternativas existentes.

 

AE – A proposta da sociedade talvez seja mais forte, mais apelativa. Como é que a Igreja consegue tornar também a sua proposta apelativa?

IL – Claro que hoje os meios que temos ao alcance, as redes sociais e toda a dinâmica da comunicação são também uma chance para a Igreja. Naturalmente que são fatores de dispersão e de alternativas a tudo aquilo que sejam valores humanos e cristãos, mas as crises e dificuldades são também oportunidade.

A utilização desses meios, e hoje os animadores dos jovens estão muito envolvidos em todas essas formas de comunicação, é também uma oportunidade positiva que têm.

E depois muito o testemunho – penso que hoje há animadores muito bons, nas dioceses e nos diversos movimentos, há animadores que fazem um trabalho notável e depois quando se passa de um regime quase de cristandade para grupos de jovens mais pequenos, para jovens mais dispersos, em franjas muito pequenas, é sobretudo o testemunho e o acompanhamento pessoal. E hoje os animadores estão muito bem preparados para isso.

 

AE – E o carisma do Papa Francisco também irá ajudar a isso.

IL – Claro, com certeza.

 

AE – Ficou surpreendido com a eleição dele e depois com este estado de graça?

IL – Fiquei surpreendido porque falava-se nessa altura que seria eleito alguém mais novo, e depois quando foi anunciado eu não o conhecia.

A partir daí, a surpresa tem sido permanente, diária, nos seus gestos, nas suas palavras, na sua forma de olhar a Igreja e a sociedade, com uma relação à Vaticano II, nunca de condenação, de apontar defeitos, suscitar críticas, mas um olhar de amor, de ternura, de compaixão, muito ao jeito de Jesus Cristo.

Penso que o Papa Francisco veio dar um novo élan à Igreja e também, mesmo aqueles que olhavam para a Igreja de fora, centrar no essencial que a Igreja é e não em tantas formas de, por vezes, olhar sobretudo os podres da Igreja.

Portanto, este Papa veio dar à Igreja uma ideia de profetismo que naturalmente lhe estava a faltar.

 

AE – Passará a ser um ídolo para os jovens?

IL – Não é difícil, os jovens captam muito bem os valores profundos das pessoas que se dão, que se entregam, e o Papa Francisco, penso que na continuidade de João Paulo II passando por Bento XVI, que amou os jovens muito à sua maneira mas com um coração grande, penso que o Papa Francisco vem pôr a relação dos jovens com o Papa no ponto mais alto.

LFS



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