Entrevistas

Preservar a mensagem e o exemplo de D. António Ferreira Gomes

Voz Portucalense
...

Palavras de D. Manuel Martins, Presidente da Fundação Spes

VP - Quem promove este conjunto de actividades comemorativas do centenário do nascimento de D. António? D. Manuel Martins - As comemorações são uma iniciativa da Diocese do Porto e da Fundação Spes, a que se associam a Fundação Engenheiro António de Almeida e o Instituto Cultural D. António Ferreira Gomes, colaborando na organização das várias actividades. VP - Qual a valoração faz e que significado se pretende alcançar com este programa de comemorações do centenário? D. Manuel Martins – Por um lado, sentimos que a figura e a mensagem deste homem não pode ser esquecida e temos e responsabilidade de a transmitir às gerações futuras: a mensagem e o exemplo da sua vida. Depois importa sublinhar a dimensão profética que se descobre no seu magistério, que muita gente desconsiderava porque o julgava fora do tempo, um homem que não era deste tempo. Mas ele era capaz de apanhar as linhas da história e da sua marcha e falar de um futuro que outros ainda não vislumbravam. Sublinhar também uma dimensão que não foi ainda suficientemente descoberta, que era o conceito que ele tinha de liberdade, no qual ele via a própria morte como uma das expressões mais belas da realização plena da liberdade humana. O seu culto pela liberdade era tal que sofreu por ela, assumindo as suas consequências. Uma das dimensões mais importantes da Igreja é ajudar as pessoas a descobrir a liberdade, como condição da descoberta e conquista, a realização da própria cidadania. VP - Qual o alcance das Cartas ao Papa? D. Manuel Martins - As Cartas ao Papa contêm aspectos fundamentais da vida da Igreja e perspectivas para o seu futuro, entre as quais, por exemplo, a colegialidade dos Bispos, o entendimento dos valores da liberdade, o papel da investigação teológica, as estruturas e os movimentos da Igreja, as suas funções e limites e outros aspectos. D. António tinha enviado um exemplar com encadernação muito cuidada ao Papa, e ficou com a mágoa de nunca ter visto acusada a recepção dessa oferta, o que lhe provocou grande desgosto até ao fim da vida. VP – Existe também uma intenção de sensibilizar, alertar ou despertar a consciência cultural da sociedade em geral... D. Manuel Martins – Para além do conhecimento da sua pessoa e doutrina, queremos com a organização ajudar a sociedade a descobrir estes valores, dar uma ajuda que leve as pessoas a serem sensíveis a eles, recordar a importância destes valores humanos, sociais, culturais. VP - Deste conjunto de actividades, a quais atribui maior força ou mais significado? D. Manuel Martins - Em boa verdade, o Congresso, sendo para um público mais restrito, parece que deve ser mais “sacramental”, funcionar mais como “sinal” (porque estas coisas funcionam sempre como sinais), mais que o número conta o alerta que se transmite e o que fica para o futuro.


Diocese do Porto