Entrevistas

Qual é a imagem dos religiosos na opinião pública?

Octávio Carmo
...

O sociólogo Marinho Antunes apresenta aos leitores da Agência ECCLESIA os resultados dum inquérito do Centro de estudos e sondagens de opinião Universidade Católica Portuguesa, com o objectivo de conhecer o que pensa o povo português dos religiosos/as.

Pergunta 11: Tem conhecimento da existência de religiosos na Igreja Católica, isto é, irmãs ou freiras, e irmãos ou frades, que pertencem a Ordens, Congregações ou Institutos Religiosos? SIM – 58% (863 respostas) NÃO – 42% (626 respostas) Agência ECCLESIA – Que influência teve na realização deste estudo o facto de 42% dos inquiridos não ter conhecimento da existência de religiosos na Igreja Católica? Marinho Antunes – Isto teve um efeito importante, dado que quase metade das perguntas do questionário pressupunham que as pessoas conhecessem a existência de religiosos em Portugal. Só assim fazia sentido fazer perguntas sobre os contactos com eles, se conhecem pessoalmente alguns religiosos, etc. Aconteceu, de facto, que boa parte das perguntas do questionário não foram feitas a uma percentagem de inquiridos que, para mim, era imprevista. Nós não tínhamos nenhum estudo publicado com esta informação (que 42% dos portugueses não tem conhecimento da existência de religiosos na Igreja Católica), pelo que o inquérito foi um risco, que teve de se correr, tendo resultado nesta percentagem elevada de pessoas que não responderam a cerca de metade das perguntas. Nós temos informação interessante, sobre muitos outros aspectos: comportamentos, factos, opiniões, expectativas e atitudes face aos religiosos. Claro que eles só resultam da opinião de quem conhece os religiosos. AE – Os dados recolhidos permitem concluir que quem conhece os religiosos os conhece bem? MA – Conhecem bem, mas também há sinais de que as pessoas, perante os religiosos, estão numa atitude algo instrumental. No fundo, estão muito interessadas em que esta realidade se mantenha na Igreja, bem entendido, e percebe-se que nos diferentes campos de trabalho dos religiosos é reconhecida a sua importância – até porque em muitos deles há uma grande utilidade para as pessoas, em especial na saúde e na educação. Mesmo nos trabalhos para o interior da Igreja, como a Catequese, estamos a falar de situações em que as pessoas são tocadas pelos religiosos. Eu penso que muitos estão perante os religiosos na expectativa de encontrarem pessoas com uma capacidade de fazerem coisas boas e úteis para si. AE – Numa primeira parte do inquérito surgem números algo surpreendentes em relação à posição e prática religiosa dos inquiridos. Muitos deles (12,1%) declaram-se sem religião, indiferentes, agnósticos ou ateus: isso teve relevância nos resultados do inquérito? MA – Boa parte deles respondeu que não conhecia os religiosos. No que respeita à relação entre o conhecimento dos religiosos e a posição religiosa, a ligação é clara (o conhecimento é maior entre os que se declaram praticantes e pertencem a um movimento da Igreja ou desempenham actividades numa paróquia, ndr). É interessante que estes dados não se cruzam com os do grau de instrução. Este dado é muito importante: as pessoas com mais instrução têm maior conhecimento dos religiosos. Acontece que estas duas variáveis não coincidem, porque as pessoas que têm mais instrução, em geral, tendem a uma posição de maior afastamento em relação à Religião. Como as variáveis de posição religiosa e de grau de instrução não coincidem, elas deixam transparecer que, no fundo, nem todos os inquiridos que dizem conhecer os religiosos têm a mesma capacidade de desenhar o perfil dos religiosos. No que respeita aos católicos, nota-se que há uma certa elite, embora a tendência geral seja a de que quanto maior o grau de instrução, menor a prática religiosa. Contudo, depois percebe-se um núcleo que está muito bem representado na pertença a movimentos ou associações de Igreja, bem como no desempenho de funções nas paroquias. O inquérito deixa adivinhar a existência de duas realidades que eu penso que existem muito no catolicismo português: uma grande maioria de cristãos, pessoas do modelo de Igreja mais tradicional, que abrange sobretudo pessoas de mais idade, mais mulheres, com menor grau de instrução, com menores rendimentos. Estas pessoas têm do mundo religioso uma percepção, um certo tipo de canais e de contactos. Há um outro mundo, um outro universo, que se vai desenhando, progressivamente, com mais nitidez, que é de facto o dos católicos urbanos, mais instruídos, com mais jovens, gente que já constrói outras representações a respeito da religião em geral, da Igreja, e também dos religiosos. Eu penso que estes universos estão presentes no inquérito e, em muitos casos, estão misturados, como na situação dos que têm prática mais intensa e com inserção concreta na Igreja. Em relação à sua opinião sobre os religiosos, seria bom distingui-los, porque já há na Igreja em Portugal mundos diferentes. AE – Que critério presidiu à escolha das perguntas sobre o conhecimento e reconhecimento dos grandes traços da Vida Religiosa? (Quadros 2 e 3) MA – Além dos Conselhos Evangélicos, que são típicos e têm o seu espaço consagrado até em termos institucionais, os outros itens são elementos que permitissem perceber melhor quer algumas dimensões que apontam já para uma certa funcionalidade e outros que podem ajudar a perceber que ao mundo religioso se associam determinados elementos que podem ter, já eles, a potencialidade de gerar modos de comportamento e modelos de vida. Os religiosos são apresentados enquanto capazes de modelar, propor valores, dar estímulos para que a vida cristã encontre valores que possa depois colocar em prática.


Vida Consagrada