Entrevistas

Receber o Papa em festa e com responsabilidade

Luís Filipe Santos
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D. Carlos Azevedo, coordenador, a nível eclesial, da visita de Bento XVI a Portugal, destaca os momentos fundamentais da estadia papal no nosso país

D. Carlos Azevedo é o coordenador, a nível eclesial, da visita de Bento XVI a Portugal, cujo programa foi apresentado esta Segunda-feira. Em entrevista à Agência ECCLESIA, destaca os momentos fundamentais da estadia papal no nosso país e sublinha a “responsabilidade” que a Igreja tem no acolhimento do Papa.

Agência ECCLESIA (A.E.) – No próximo mês de Maio, Bento XVI visitará o nosso país. Um momento de festa para os católicos portugueses?

D. Carlos Azevedo (C.A.) – A visita do sucessor de Pedro a uma Igreja particular é sempre momento de festa e uma grande responsabilidade. É um júbilo sentir perto de nós aquele que tem a missão na Igreja de presidir à caridade e de confirmar na fé. Sentir que ele está perto das comunidades. É uma responsabilidade porque a vinda dele obriga-nos, certamente, a fazer um exame de consciência e acolher uma mensagem que nos mobilizará como igrejas.

AE – Depois dos alertas de Bento XVI aos bispos portugueses na visita «Ad Limina», o panorama eclesial português alterou-se?

CA – A reflexão que a Conferência Episcopal Portuguesa tem feito sobre a realidade pastoral teve em conta o discurso e as perspectivas que o Papa Bento XVI nos deixou. Concretamente, está em marcha a criação de um grupo de reflexão sobre as prioridades pastorais para toda a Igreja em Portugal. Isto é o resultado dessa necessidade de haver um relançamento pastoral.

AE – A visita papal é sempre um revigoramento do papel dos leigos na vida da Igreja.

CA – É um revigoramento momentâneo que pode ser folclórico e não ter consequências se nós não tomarmos, depois, as medidas necessárias para, no terreno, agir e enfrentar a questão. Esse é sempre o nosso desafio.

AE – Então há o perigo desta visita de Bento XVI ser um «balão de oxigénio» se não for preparada e, posteriormente, aproveitada?

CA – É necessário que as dioceses que são visitadas e todo o país possam ser mobilizados para esta visita, sobretudo os sectores mais visados, aqueles a quem o Papa vai falar e receber.

AE – Que sectores são esses?

CA – É o sector da cultura e da pastoral social. Dois campos que têm merecido um especial relevo de Bento XVI. Um vai de encontro àquilo que o Papa tem sensibilidade – campo da cultura – e outro vai de encontro àquilo que nós necessitamos – pastoral social. Aproveitamos ter um grande intelectual, com um pensamento estruturado e sólido, entre nós para ouvir a sua voz de sabedoria para este tempo conturbado. Por outro lado, precisamos também da orientação e do estímulo do Sucessor de Pedro para o sector da pastoral social.

AE – O encontro com os agentes da cultura será em que local?

CA – Será no Centro Cultural de Belém (Lisboa) e será restrito a 1400 pessoas. Os convites serão distribuídos pelas várias dioceses e pelos meios universitários.

AE – Para além deste encontro com as pessoas da cultura, haverá algo mais em Lisboa?

CA – Haverá uma celebração para o povo, dia 11, às 18h15, mas ainda não está definido o lugar porque tem de obedecer a vários critérios.

AE – Com o Tejo em pano de fundo?

CA – Queríamos que fosse próximo do Tejo, mas temos de conjugar todos os factores: segurança e espaço. Queríamos também que o Santuário de Cristo Rei fosse visível desse lugar, visto que estamos a celebrar os 50 anos deste monumento. Está ainda em estudo... Sabemos que o Terreiro do Paço está em obras e a segurança de uma grande multidão ali pode ter algum cuidado.

AE – Das 11 horas da manhã (chegada) até às 18h15 (hora da celebração) quais as actividades de Bento XVI?

CA – Será a visita oficial ao Palácio de Belém e ao Mosteiro dos Jerónimos. Depois da conversa com o Presidente da República e sua família e da visita aos Jerónimos regressará à Nunciatura Apostólica.

AE – Partirá para o Santuário de Fátima quando?

CA – Na tarde do dia 12 de Maio, depois de receber o Primeiro-Ministro e o Ministro dos Negócios Estrangeiros na Nunciatura. Chegado a Fátima irá à Capelinha fazer uma saudação a Nossa Senhora. Neste dia, como celebra a Eucaristia na Nunciatura, Bento XVI apenas falará aos padres, diáconos, religiosos e seminaristas. Este encontro será na Igreja da Santíssima Trindade.

AE – E o encontro com os agentes da Pastoral Social?

CA – Será na tarde do dia 13 de Maio, depois da celebração da manhã presidida por Bento XVI. Nessa mesma tarde terá um encontro com os bispos. Na noite anterior, o Papa preside ao terço, mas não presidirá à Eucaristia que será presidida pelo cardeal Bertone.

AE – A cidade do Porto acolherá Bento XVI?

CA –
No dia 14 de manhã. Aí terá uma celebração eucarística, em princípio na Avenida dos Aliados, e depois partirá para Roma por volta da 13 horas. Almoçará no voo.

AE – Já há um lema para esta visita?

CA – Estamos a encontrar as palavras exactas, mas o tema andará por esta ideia: «Anunciar a sabedoria da fé: valores e missão». A eucaristia de Lisboa andará à volta da ideia da «Santidade e evangelização». A Eucaristia de Fátima «Repartir com alegria» e no Porto sobre «Igreja é Missão»

AE – O conceito «Missão» está no centro desta visita?

CA – Neste momento é fundamental que os cristãos descubram que o estar presente na sociedade exige espírito de missão. Tomar consciência que devemos dar testemunho em todas as áreas. Toda a Igreja é missionária.

AE – Que mensagem gostaria que ele deixasse aos portugueses?

CA – A mensagem está incluída no próprio lema. É uma proposta firme de orientação que dê à sociedade portuguesa responsabilidade pela hora que vivemos. Penso que a celebração do centenário da República também estará presente na sua mensagem. Como esta visita é, fundamentalmente, de teor pastoral, a mensagem será de apelo à Igreja para que tenha bem presente que a fidelidade ao Evangelho e a relação com Deus é a base da sabedoria que constrói o mundo novo.



Bento XVI - Portugal