Entrevistas

Setenta vezes sete - Programa há 25 anos nas emissões da RTP

Agência Ecclesia
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Negociou com a RTP um programa para a Igreja Católica. D. António Marcelino, em entrevista ao Programa de Ecclesia, recordou os passos que conduziram ao programa que se chamaria 70x7. São excertos dessa entrevista que aqui se transcrevem.

ECCLESIA – Onde se encontram as raízes do 70x7? D. António Marcelino – Havia um programa - “O Dia do Senhor”, de que foi responsável, por várias vezes, o Cardeal António Ribeiro - e esse programa terminou, precisamente, com a Revolução de Abril. Depois disso, só ficou a Missa, com uma única câmara… Assumi funções, dentro da Conferência Episcopal Portuguesa, na área da comunicação social em Outubro de 1975 e foi uma das minhas preocupações, depois do Verão quente: o que poderíamos fazer de novo! Tentámos uma presença na televisão no Dia Mundial das Comunicações Sociais, que nos foi negada. Depois puseram-nos condições para poder lá ir de tal forma que eu não as admiti e não quis. Ecclesia – Como se ultrapassou essa situação? AM - Houve qualquer coisa na própria Televisão e o presidente da altura, Major Pedroso, veio ter comigo e disse-me que iríamos ter um espaço para a Religião. No primeiro Governo Constitucional de Mário Soares, começámos uma conversa longa com a RTP e ficou acordado que iríamos ter um tempo na televisão. Depois houve uma desconfiança sobre o que poderia ser e fui chamado para me dizerem que já não havia tempo para nós. Tive de argumentar se o Governo era ou não de confiança, porque já tinha dito que sim, mas afinal não. Lá acabaram por dizer que sim, que seria quinzenal e teria de ser visionado uns dias antes o que íamos fazer (sem nunca lhe chamarem censura). Depois acabaram por exigir que contratássemos uma empresa para fazer o programa, ficámos sem saber como pagar. A RTP deu-nos uma quantia determinada, contratámos a empresa e começamos a fazer o programa. Ecclesia – Recorda os conteúdos do primeiro programa? AM - A primeira emissão contou com uma explicação Bíblica do 70x7, uma intervenção minha sobre o programa, mas ficou muito pobre, com os meios disponíveis na altura. O Pe. António Rego era, contudo, um mestre, apoiou-se em gente competente e o programa avançou. Em 1979, veio a própria RTP pedir que o programa passasse a semanal, porque era muito considerado. O director de programação disponibilizou os estúdios para alguma gravação, se fosse preciso… O programa chegou até a ser gravado na minha casa. Ecclesia - Como se solidificou o projecto? AM - O Pe. Rego começou a fazer uma coisa maravilhosa, que foi levar o programa por esse país fora e ao longo destes 25 anos foi a todas as dioceses do país e a outros países irmãos. Ganhou, de facto, uma dimensão muito grande, foi melhorando do ponto de vista técnico e foi ganhando uma boa adesão. Sofremos um atropelo muito grande com a mudança da hora, porque na altura passava no canal 1, ao meio-dia. Ecclesia – O que terá contribuído para longevidade do programa? AM - Olhando para trás, penso que a grande vantagem foi não entrarmos com um programa do tipo apologético, mas numa linguagem mais aberta, do pós-Concílio, do pós-Revolução, e o 70x7 teve um papel importantíssimo por estar presente e dar oportunidade às outras confissões de ganhar o seu próprio espaço. Ecclesia – Qual era o público alvo quando começaram o programa? AM – Ele era verdadeiramente para toda a gente, porque pretendíamos que mesmo quem não era católico, fosse mudando a ideia que tinha da Igreja. Foi nessa linha que ele vingou. Eu vi reacções um pouco por todo o lado e ainda hoje ele continua a ser apreciado pelas problemáticas que traz, pelo diálogo com o mundo, pela visão outra da Igreja.


Programa 70x7