Entrevista ao irmão Emile, porta-voz da Comunidade
Pela primeira vez, o Encontro Europeu de Jovens promovido pela comunidade ecuménica de Taizé decorreu sem a presença de Frère Roger, assassinado em Agosto de 2005. O seu espírito, porém, tomou conta da cidade de Milão, inundada por 50 mil participantes que mostraram a sua fidelidade à dinâmica inaugurada pelo fundador de Taizé.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, o irmão Emile, porta-voz da comunidade, traça um balanço desta 28ª etapa da “peregrinação de confiança sobre a terra”.
Agência ECCLESIA – Como foi vivido este primeiro Encontro Europeu depois da morte de Frère Roger?
Irmão Emile – A comunidade sabia que iria encontrar o mesmo belo espírito dos encontros europeus, os significativos momentos de oração em grandes pavilhões. Sabíamos ainda que o apelo do irmão Roger a “alargar”, as suas últimas palavras, iam marcar o encontro de Milão.
A ausência de Frère Roger também fala, mostrando que o mistério é ainda maior, ele mesmo se alargou para nós, é a comunhão dos santos, não com o mundo visível, mas também com o mundo invisível, com aqueles que já estão com Cristo. Isso pode fazer “alargar” o nosso modo de ver a vida.
AE – Como interpretar essa última palavra da carta do irmão Roger?
IE – Ele, de facto, não terminou a sua frase, mas vemos nessa palavra um desafio a dar novas possibilidades para tornar mais perceptível, a cada um de nós, o amor que Deus tem para com todos. Tocou-me particularmente a maneira como essa mensagem foi percebida por todos, no encontro, pelos cristãos e mesmo pelos não cristãos, que foram muito sensíveis ao apelo.
AE – As questões ligadas às outras religiões estiveram em destaque nos trabalhos deste encontro. Qual foi o motivo desta opção?
IE – Em geral, houve este ano uma maior hipótese de escolha para os trabalhos de grupo que decorriam à tarde. Os jovens podiam escolher entre 20 possibilidades: algumas relacionavam-se com o aprofundamento da fé cristã (Eucaristia, oração, vocação), outras sobre a arte e o conhecimento de Deus, outros ainda sobre os novos problemas da sociedade, como a imigração, a relação com o Islão, etc.
AE – A presença de jovens do Leste é uma marca cada vez mais distintiva destes encontros europeus. É um desafio lidar com pessoas de tradições muito diferentes das nossas, mesmo no plano da fé?
IE – Houve, de facto, a presença de um grande grupo de jovens do Leste e até poderiam ter sido mais se muitos polacos não tivessem já feito, em Abril, uma viagem à Itália por ocasião da morte de João Paulo II. Ainda assim, vieram 11 mil e houve milhares de jovens da Roménia, da Bielorússia, Ucrânia, Croácia e Sérvia.
É impressionante ouvir o Evangelho nestas línguas que não conhecemos e perceber que ele está vivo lá, nessas cidades eslavas. Esta é, também, uma forma de “alargar” a comunidade, porque cada povo diz-nos qualquer coisa da beleza de Deus com os seus dons e as suas tradições.
AE – A comunidade vai também alargar estes encontros a outros continentes...
IE – É verdade, o irmão Aloïs anunciou que o próximo encontro europeu será em Zagreb e que Calcutá receberá um encontro semelhante, também em 2006, para alargar esta peregrinação através da terra. Não é a primeira vez que fazemos um encontro na Ásia, mas será a primeira vez em Calcutá, como será a primeira vez nos balcãs.