Entrevistas

Timor-Leste ainda precisa da ajuda de Portugal

Octávio Carmo
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No passado dia 6 de Março, João Paulo II nomeou um sucessor de D. Ximenes Belo na liderança da diocese de Díli. D. Alberto Ricardo da Silva, de 60 anos, vai ser ordenado Bispo no próximo dia 2 de Maio e revelou à AE os seus projectos e expectativas

No passado dia 6 de Março, João Paulo II nomeou um sucessor de D. Ximenes Belo na liderança da diocese de Díli. D. Alberto Ricardo da Silva, de 60 anos, vai ser ordenado Bispo no próximo dia 2 de Maio e revelou à Agência ECCLESIA projectos e expectativas para o futuro. DESAFIOS A Diocese de Díli, erecta no ano de 1940, está sujeita directamente à Santa Sé. Tem uma extensão de 7.767 quilómetros, 514.089 católicos, 28 paróquias, 78 sacerdotes, 203 religiosas e 45 candidatos ao sacerdócio Agência ECCLESIA – Tendo sido nomeado a pouco mais de um mês, que espera encontrar na sua futura missão? D. Alberto Ricardo – É difícil falar em expectativas, já que toda esta situação foi algo de completamente inesperado e eu estou numa fase em que vim até Roma para estabelecer contactos necessários. Os meus planos em concreto neste começo passarão, no entanto, pela preocupação com a instrução e a formação dos católicos para uma vivência profunda da fé e é nesta linha que vamos trabalhar. A experiência que tenho da Igreja em Timor faz-me perceber que o meu primeiro trabalho deve ir nesta linha, do aprofundamento da fé. AE – A Igreja Católica em Timor-Leste teve uma importância notável junto da população, no período da ocupação indonésia. Ainda consegue cativar os timorenses? AR – Não há dúvida. Vejo que, embora a situação de transição não seja fácil, que a Igreja continua a formar as pessoas em função do seu compromisso de cristãos e é necessário, nas actuais circunstâncias, que continuemos a dar a mão ás pessoas necessitadas, que precisam de viver dignamente, na justiça, no amor, na cooperação mútua. A Igreja tem de estar atenta a isto e fazer o possível, embora precisemos do apoio de todos. AE – A reestruturação da vida em Timor-Leste requer mensagens novas por parte da Igreja Católica? AR – Temos de ser os primeiros a estimular os nossos, a convencer os timorenses de que são capazes, que vivem numa terra cheia de bens e capaz de produzir muito. É importante que as pessoas se convençam de que o trabalho sério e o estudo são capazes de transformar o país, sem esperar ajudas de fora. PORTUGAL O novo Bispo de Díli nasceu em Aileu, no dia 24 de Abril de 1943, tendo sido ordenado sacerdote em Portugal, no dia 15 de Agosto de 1972 AE – A sua ligação A Portugal é bastante forte. Espera ajudas desta Igreja irmã? AR – De facto, tive o prazer – que sinto como uma espécie de vaidade – de ter feito um ano de Filosofia em Évora e quatro de Teologia em Leiria, onde aprendi muito para a minha vida de padre. Ainda na semana passada tive oportunidade de estar em Portugal, onde me reuni com o Cardeal-Patriarca e vários outros Bispos, com a UCP, para pedir ajuda, apoio que é imprescindível para arrancar com os projectos de formação de pessoas, a instrução, até mesmo o desenvolvimento do ensino da língua portuguesa. Posso dizer que fiquei encantado e impressionado com o carinho que todos me demonstraram. Em Timor contamos, para isso, com o apoio das Nações Unidas e de Portugal, que é muito apreciado entre nós – disso sou testemunha e digo-o com toda a segurança. O FUTURO D. Alberto Ricardo da Silva, que substituiu D. Ximenes Belo, já se reuniu com o Papa e a Secretaria de Estado do Vaticano, que lhe comunicaram total confiança “na Igreja florescente em Timor". Nestas conversas, revelou ainda, “tocou-se na possibilidade de se avançar para uma terceira Diocese em Timor-Lesteâ€, hipótese que ainda precisa de “tempoâ€. AE – João Paulo II deixou palavras de apreço em relação à Igreja em Timor. É importante este reconhecimento? AR – Para mim foi muito especial ter tido a possibilidade de ser recebido pelo Papa, sobretudo com o carinho que ele demonstrou, querendo saber como vão as coisas por lá. Foi interessante notar que ele ficou surpreendido por eu falar português e fez questão de que o fizesse. AE – Esse entusiasmo é um estímulo para que a Igreja timorense cresça ainda mais? AR – Eu penso que sim, há muita esperança! Temos um clero maravilhoso, que procura fazer uma evangelização actual, como meios modernos. Há crescimento das vocações religiosas, apesar destes problemas do tempo da transição: no Seminário maior há 48 seminaristas e há ainda as Congregações religiosas e os leigos que estão a apostar na sua formação e querem desempenhar um papel activo na Igreja. AE – Esperança é mesmo a palavra de ordem? AR – Claro que há muita indefinição, com dificuldades de toda a ordem, mas há muita esperança no desenvolvimento da Igreja em Timor. É hora de esquecer o passado e abrir os braços aos que nos querem ajudar, de modo especial a Portugal, e fazer que todos se convençam das suas responsabilidades para construir a nação que todos desejamos.


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