Colômbia: Papa reforça apelo à reconciliação em celebração com vítimas da guerra
Centenas de milhares de pessoas participaram em Missa na região de Villavicêncio, afetada pelo conflito
Villavicêncio, Colômbia, 08 set 2017 (Ecclesia) - O Papa reforçou hoje na Colômbia o apelo à reconciliação do país e à rejeição da “vingança”, numa Missa com a presença de vítimas da guerra na cidade de de Villavicêncio, particularmente afetada pelo conflito.
“A reconciliação não é uma palavra abstrata; se assim fosse, traria apenas esterilidade, mais distância. Reconciliar-se é abrir uma porta a todas e cada uma das pessoas que viveram a realidade dramática do conflito”, assinalou Francisco, perante centenas de milhares de pessoas reunidas na celebração ao ar livre.
Na homilia da celebração, o pontífice convidou os presentes a dar “o primeiro passo nesta direção”.
“Quando as vítimas vencem a tentação compreensível da vingança, tornam-se nos protagonistas mais credíveis dos processos de construção da paz”, sustentou.
A Santa Sé informou que na celebração marcam presença “numerosos fiéis das regiões dos Llanos e das aldeias indígenas, além de vítimas da violência”.
Entre os participantes estavam soldados, agentes da polícia e ex-guerrilheiros.
Durante a Missa, Francisco beatificou D. Jesús Emilio Jaramillo Monsalve, bispo colombiano assassinado por guerrilheiros em outubro de 1989, e do padre Pedro Maria Ramírez Ramos, diocesano, morto por revolucionários a 10 de abril de 1948, em Armero.
“D. Jesús Emilio Jaramillo Monsalve, bispo de Arauca, e o sacerdote Pedro Maria Ramírez Ramos, mártir de Armero, são expressão dum povo que quer sair do pântano da violência e do rancor”, disse.
Para o Papa, o processo de paz, após mais de 50 anos de guerra civil, não serve para “legitimar as injustiças pessoais ou estruturais”, mas para “construir o futuro e faz crescer a esperança”.
“Qualquer esforço de paz sem um compromisso sincero de reconciliação será um fracasso”, advertiu.
Francisco acrescentou que esta reconciliação se deve estender “também à natureza”, citando a música ‘Minas Pedras’, do cantor colombiano Juanes: ‘As árvores estão a chorar, são testemunhas de tantos anos de violência. O mar aparece acastanhado, mistura de sangue com a terra’.
O Papa elogiou a “rica diversidade dos povos indígenas” da Colômbia, representados na celebração por duas mulheres, que leram intenções na chamada oração universal, após o Credo.
O momento ficou marcado por uma prece improvisada da segunda representante: “Esta mensagem é em nome dos 102 povos indígenas da Colômbia, o caminho da paz é a harmonização e a libertação da mãe terra”.
O Papa foi recebido por autoridades civis e religiosas na base militar de Apiay, em Villavicêncio, onde recebeu as chaves da cidade, ao som de cantos e danças do folclore da região dos “Llanos”.
O primeiro pontífice sul-americano na história da Igreja seguiu depois em veículo fechado, lentamente e acompanhado por milhares de pessoas ao lado da estrada, antes de passar para o papamóvel junto ao descampado de Catama, sendo recebido junto à sacristia por um grupo de habitantes da região dos Llanos orientais.
A Missa foi celebrada no dia da memória litúrgica que assinala o nascimento da Virgem Maria.
“A festa da Natividade de Maria projeta a sua luz sobre nós, como se irradia a luz suave do amanhecer sobre a vasta planície colombiana”, declarou Francisco.
O Papa apontou ainda o dedo a “estilos patriarcais e machistas”, recordando que “o Evangelho começa por salientar mulheres que criaram tendência e fizeram história” e apresentando o exemplo de São José.
“Hoje, neste mundo onde é patente a violência psicológica, verbal e física contra a mulher, José apresenta-se como figura de homem respeitoso, delicado que, mesmo não dispondo de todas as informações, se decide pela honra, dignidade e vida de Maria”, vincou.
“Quantas mulheres, em silêncio, perseveraram sozinhas, e quantos homens de bem procuraram pôr de lado amarguras e rancores, querendo combinar justiça e bondade! Que havemos de fazer para deixar entrar a luz?”, acrescentou.
Após a Missa, Francisco vai cumprimentar uma pequena delegação de vítimas das cheias que em abril atingiram a cidade colombiana de Mocoa, oferecendo um contributo económico.
Esta tragédia vitimou mais de 200 pessoas, arrastadas por uma torrente de lama na sequência de deslizamentos de terra.
OC
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