Cinema: A Gaiola Dourada – uma comédia «à la portugaise»
Num dos melhores bairros de Paris, Maria e José Ribeiro vivem há cerca de 30 anos na casa da porteira no rés-do-chão de um prédio da segunda metade do século XIX. Este casal de imigrantes portugueses é querido por todos no bairro: Maria uma excelente porteira e José um trabalhador da construção civil fora de série. Com o passar do tempo, este casal tornou-se indispensável no dia-a-dia dos que com ele convivem. São tão apreciados e estão tão bem integrados que, no dia em que surge a possibilidade de concretizarem o sonho das suas vidas, regressar a Portugal em excelentes condições, ninguém quer deixar partir os Ribeiro, tão dedicados e tão discretos. Até onde serão capazes de ir a sua família, os seus vizinhos e os patrões para não os deixarem partir? Mas estarão, a Maria e o José, verdadeiramente com vontade de deixar França e de abandonar a sua preciosa gaiola dourada?
Eis a sinopse da mais recente comédia à portuguesa – e à francesa – que estreia esta semana nos nossos cinemas, quase três meses depois de ter somado trezentos mil espetadores nos ecrãs de cinema franceses. Celebrado principalmente pela comunidade portuguesa aí emigrada, ‘A Gaiola Dourada’ é uma típica e ligeira comédia de costumes capaz de usar uma boa dose de clichés de forma suficientemente inteligente para hora e meia de boa disposição.
Ruben Alves, luso descendente radicado em França, ator e realizador/argumentista do filme que agora estreia, tinha já revelado um gosto particular pelo humor aquando da co-criação da sua curta, juntamente com Hugo Gélin ‘À l'abri des regards indiscrets’ – um desfilar de caricaturas pelo ecrã de um multibanco que pode ser visto no youtube (http://www.youtube.com/watch?v=EUfUPbbR3U8).
Com esta sua primeira longa metragem, amplifica a sua experiência e aptidão sob o declarado intuito de, descontraidamente, aprofundar não só a boa imagem que os franceses, na sua opinião e da sua vasta experiência, têm já dos portugueses como a destes últimos, residentes em Portugal, relativamente aos seus emigrantes. Se é provável que no fim do filme nem todos os espetadores acusem uma ideia muito diferente da que já tinham sobre os visados, a verdade é que o filme resulta como simpática e devida homenagem a uma geração de portugueses que lutam além fronteiras, não apenas por uma vida melhor mas contra os estereotipos que no país de origem e de destino lhe são colados. Homenagem que não esquece o seu sentido de dignidade e a fina sabedoria de vida que os faz lidar com a gestão dos sentimentos de pertença e não pertença a duas culturas e geografias a que não se acomodaram.
Um registo leve e divertido, numa proposta bem adequada à época do ano, servida por um elenco que aproveita bem as oportunidades de um argumento pouco elaborado.
Margarida Ataíde
Cinema