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Cinema: Nunca desistas

Agência Ecclesia
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Na cidade de Pittsburgh, estado da Pensilvânia, EUA, Jamie é uma mãe solteira a braços com a ineficiência do acompanhamento pedagógico que a sua filha, disléxica, precisaria para garantir o sucesso escolar. Apesar das tentativas, a sensibilização que tenta junto da direção da escola e em particular da principal professora da filha não surtem qualquer efeito.

Desesperada, conhece Nona, uma professora que vive igualmente sozinha com um filho problemático e que passa por um período particularmente difícil após a separação do marido. Outrora uma professora combativa, empenhada e carismática para os seus alunos, Nona parece ter sucumbido aos entraves de um sistema educativo demasiado distante da realidade específica da sua escola, limitando-se hoje a fazer o essencial para permitir aos alunos completarem a escolaridade obrigatória.

As preocupações e afinidades entre ambas aproximam-nas e uma lei vigente no sistema, segundo a qual é permitido aos pais assumirem maior controlo da escola, desperta em Jamie o ímpeto de fazer desta uma instituição melhor para a sua filha e os restantes alunos. O espírito afoito de Jamie faz desepertar em Nona o sentido de dignidade profissional e pessoal e sobretudo a esperança que há muito perdera.

Juntas, encetam uma luta pela qualidade educativa que as levará a travar várias batalhas junto do corpo docente, da direção e até mesmo de outros pais. Mas não desistem.

‘Nunca Desistas’ é a terceira longa metragem de Daniel Barnz e a terceira vez que o realizador norte americano exprime a sua preocupação com a questão da inclusão/exclusão numa sociedade que teima em promover padrões de normalidade próximos de uma perfeição superficial, utópica e desumanizante.

Fê-lo pela primeira vez em 2008, com ‘No País das Maravilhas’- a tocante história de Phoebe, uma criança dominada pela imaginação cuja necessidade de contrariar o mundo excessivamente regulado dos adultos os  preocupa, acabando por encontrar na expressão dramática um caminho de conciliação entre o seu mundo imaginário e o real. E pela segunda vez em ‘Beastly – o Feitiço do Amor’, uma modesta adaptação moderna de um outro conto, ‘A Bela e o Monstro’, em que um jovem aprende a linguagem do amor, do respeito mútuo e da humildade ao perder a beleza física, o poder e arrogância por feitiço.

Aqui, numa história de luta por um sistema educativo mais justo que conta com mais um notável desempenho de Viola Davis (‘As Serviçais’ e ‘Dúvida), Barnz foca com razoável interesse um caso que, embora baseado numa realidade circunscrita a um estado norteamericano (uma lei que permite aos encarregados de educação participação ativa e efetiva na gestão da escola) desperta o interesse além fronteiras: é o caso de Portugal, onde a resposta à inclusão de crianças com dificuldades de aprendizagem, abrangendo um vastíssimo espectro de obstáculos ao sucesso escolar e pessoal dos alunos, está longe de encontrar resposta na escolaridade obrigatória.

Não obstante o registo algo caricatural do corpo docente e algum populismo nas asserções do argumento, ‘Nunca Desistas’ tem o mérito de nos pôr a pensar sobre a escola e a família como protagonistas, por excelência, da esperança numa sociedade mais humana.

Margarida Ataíde   



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