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Cinema: Xingu - a expedição

Margarida Ataíde
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Brasil, 1943. A dois anos do final do primeiro período de governo de Getúlio Vargas, é criada a Marcha para o Oeste, uma iniciativa que visava equilibrar o desenvolvimento do país através do incentivo à ocupação populacional do puco conhecido centro-oeste do Brasil conseguida a partir dos excendentes populacionais da região centro-sul. A longo prazo, a marcha previa extender-se à região da Amazónia.

Como parte desta marcha, é criada a Expedição Roncador-Xingu que desbravará, identificando e catalogando, regiões e populações a fim de verificar as respetivas condições e formas de (re)povoamento e ‘re-educação’. Três irmãos, Orlando, Leonardo e Cláudio Villas-Boas candidatam-se a participar mas são inicialmente rejeitados por estarem bem além do padrão pouco alfabetizado de sertanejo que se pretendia para o efeito. Firmes no seu propósito, os três irmãos regressarão de aspeto simples, submisso e analfabeto para finalmente integrarem a expedição.

Começando por executar os trabalhos pesados que cabiam aos seus pares, os irmãos depressa se destacam pela sua cultura, sabedoria, ímpeto e carisma, acabando não apenas por liderar a expedição mas sobretudo por transformar o seu caráter: consigo, o princípio de enculturação dos povos indígenas por subjugação a um certo conceito de progresso será preterido em favor  do pleno respeito e preservação da sua cultura, com integração dos aspetos estritamente benéficos para os autóctones e os novos povoadores.

Assim nasce e é preservado, ao longo dos trinta e cinco anos de Villas Boas no Brasil Central, o Parque Indígena do Xingu. Extraordinário processo com o seu quê de aventura que, após inspirar José de Mauro de Vasconcellos a acompanhá-lo e a escrever ‘Arraia de Fogo’ (1955) entusiasmou o bem conhecido realizador brasileiro Fernando Meirelles (‘Cidade de Deus’, ‘Cidade dos Homens’ e ‘O Fiel Jardineiro’) a produzir o filme que agora estreia.

Relato apaixonado e apaixonante da criação do parque nacional, ‘Xingu – a Expedição’ é a homenagem cinematográfica ao espírito venturoso que esteve na sua génese, dirigida com mão segura e evidente sensibilidade por Cao Hamburger, o realizador aclamado pela sua longa metragem, ‘O ano em que os meus pais saíram de férias’ (2006), com uma nomeação ao Urso de Ouro em Berlim e o Grande Prémio Cinema Brazil (nomeado em praticamente todas as categorias possíveis e arrecadado para melhor filme, argumento e direção artística).

Com uma justa combinação de narração e ação, entre drama e aventura, de atualidade e imagens de arquivo, o filme conta com um bom argumento e uma belíssima direção fotográfica.

No momento em que se abeiram as Jornadas Mundiais da Juventude, uma excelente proposta para conhecer uma parte significativa da história do Brasil, pensar a sua génese e pertinentemente refletir sobre valores sociais, culturais, ecológicos, permanentemente ameaçados pela voragem de um certo conceito de progresso. Sobre eles e sobre a coragem que a todos nos é exigida para os preservar.

Margarida Ataíde



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