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20 anos a lutar pela dignificação das mulheres da rua

Agência Ecclesia
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Corria o ano de 1986 quando chegaram a Lisboa as primeiras Irmãs Oblatas do Santíssimo Redentor, que desde então têm percorrido as ruas da capital ao encontro das mulheres envolvidas no mundo da prostituição. Esta mão amiga tem ajudado a devolver a dignidade a muitas mulheres que, tantas vezes, não tinham mais ninguém a quem recorrer. A Ir. Maria Angeles, directora da obra social das Irmãs Oblatas, explica à Agência ECCLESIA que quando se aprende a tratar as prostitutas como “a mulher que são”, nascem, espontaneamente, “gestos de ternura e de humanização”. “A intervenção que fazemos é dinâmica e sistémica. A mulher é o mais importante neste trabalho, em rede, que conta com muitos parceiros”, prossegue. Hoje, Dia Internacional da Mulher, é apresentado em Lisboa o livro “Quem levou o meu ser? Mulheres da rua”, editado pela Câmara de Lisboa e pelas religiosas. A obra apresenta um estudo baseado num trabalho de rua, entre 2002 e 2005, que foi desenvolvido com o intuito de ajudar a retirar mulheres do mundo da prostituição. “Os nossos colaboradores estavam a ver a vida destas pessoas e diziam-me: se são pessoas como nós, não podemos ficar calados perante situações mais duras e difíceis”, explica a Ir. Maria Angeles. “Debaixo da aparência da mulher de rua está a pessoa”, acrescenta. A intervenção das equipas de rua foi apoiada, desde o início, pela Câmara Municipal. O trabalho envolveu três zonas de Lisboa e em todas foi possível detectar problemas ligados com a imigração irregular, a toxicodependência, a pobreza, a exclusão e as situações familiares. A este respeito, contudo, a Ir. Maria Angeles deixa um esclarecimento: "a mulher que consome drogas é drogada, não prostituta, embora faça esse trabalho". 22 mulheres já deixaram completamente a rua, até ao momento, estando integradas no mundo do trabalho. "Elas precisam de trabalhar, de apoio, de sentir que pertencem a um grupo", explica a Ir. Maria Angeles. “Quem levou o meu ser? Mulheres da rua” pretende “questionar a consciência social perante as mulheres que estão na esquina”, assegura a directora da obra social das Irmãs Oblatas. A primeira parte do livro apresenta a experiência de seis colaboradores da obra, no seu contacto com estas mulheres; a segunda parte está a cargo de uma socióloga e de um elemento com experiência de equipas de rua. “Não haveria melhor momento para apresentar o livro do que este Dia Internacional, porque é um reconhecimento público de que as prostitutas são consideradas mulheres e cidadãs de Lisboa”, aponta. Notícias relacionadas • O ICNE não atirou pedras às prostitutas


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