Nacional

A cidade de Deus e a cidade das pessoas

Octávio Carmo
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Centro de Reflexão Cristã deu início a um ciclo de conferências que coloca frente a frente crentes de diferentes religiões e descrentes

Debater a presença de Deus nas cidades é o mote da edição de 2004 das "Conferências de Maio", do Centro de Reflexão Cristã (CRC), que ontem se iniciou em Lisboa. Com o título genérico "Cidade de Deus - Cidade das Pessoas", o ciclo pretende suscitar o diálogo entre crente e descrentes, bem como entre fiéis de várias religiões. “Numa sociedade aberta e pluralista é fundamental interrogarmo-nos sobre a presença de Deusâ€, justifica o CRC. Sempre às terças-feiras, às 18h30h, no Centro de Estudos da Ordem do Carmo,em Lisboa, os organizadores assumem o desafio de lançar interrogações sobre o fenómeno urbano, que parece afastar as pessoas, promover o desconhecimento e o egoísmo. “Temos de nos interrogar sobre o que se está a passar na transformação nas sociedades contemporâneas, e em especial na vida urbanaâ€, afirmam os responsáveis do CRC no documento que lança esta iniciativa. O ciclo abriu com o debate sobre a cidade como “espaço de solidariedadeâ€, com o arquitecto Nuno Teotónio Pereira e o padre Valentim Gonçalves, que se tem dedicado ao trabalho com populações mais desfavorecidas. Para o CRC, “a fragmentação social e económica, a intolerância e o esquecimento dos valores solidários caracterizam a sociedade em que vivemosâ€. A onda de actos violentos justificados com esta ou aquela religião não é ignorada pelos promotores deste ciclo de reflexão, para quem “num tempo em que o vazio de valores gera a intolerância e os fundamentalismos, é hora de favorecer a criação de pontes que permitam unir as pessoas, em lugar de continuar a construir cidades caracterizadas pela desunião e pela indiferença, pelo desconhecimento e pela incompreensãoâ€. “Os fundamentalismos, as seitas e o regresso da irracionalidade e da magia desenvolvem-se no vazio religiosoâ€, asseguram. Assumindo a busca de uma “nova evangelização†e uma consciência religiosa capaz de transformar positivamente o mundo de liberdade e responsabilidade, estes encontros querem partir da a compreensão do que se passa na sociedade contemporânea e da necessidade de uma outra atitude – “dialogante, solidária e exigente†-, que respeite a dignidade humana. “Como viver a fé e os valores religiosos numa sociedade que permanentemente se transforma? Como ligar valores religiosos e modernidade?â€, são algumas das interrogações lançadas nas “Conferências de Maioâ€. Na próxima semana, o poeta António Osório e o padre João Resina Rodrigues conversam sobre "Sinais de Deus na cultura". Dia 18, um muçulmano (AbdoolKarim Vakil), uma judia (Esther Mucznik) e um sacerdote católico (Peter Stilwell) debatem o diálogo entre culturas e religiões. A última das Conferências de Maio interroga-se sobre "Igreja: que presença no mundo urbano?", com as intervenções do investigador social Alfredo Bruto da Costa, o arquitecto Duarte Nuno Simões e o padre António Janela.

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