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A Cidade é o nosso destino

Voz da Verdade
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ICNE: Sociedade e Cultura

Cerca de 500 representantes das áreas da cultura, social e comunicação participaram num encontro com o Cardeal-Patriarca, D. José Policarpo, no passado sábado, dia 11. O encontro que decorreu no auditório Cardeal Medeiros da Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa, tinha como objectivo sensibilizar estes agentes de pastoral para a preparação do Congresso Internacional para a Nova Evangelização (ICNE). Artistas, políticos, jornalistas, dirigentes de instituições de solidariedade social e misericórdias, entre outras individualidades foram convidados para um encontro com o Cardeal Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, a fim de preparar o ICNE, que terá lugar em Lisboa, em Novembro próximo. Depois de se ter encontrado em Janeiro com os Sacerdotes e os Religiosos, em Fevereiro com os delegados paroquiais e missionários da oração e em Março com os Catequistas, o Cardeal-Patriarca reuniu-se já no mês de Maio com os diferentes dirigentes dos movimentos e obras e agora com agentes de pastoral da sociedade e da cultura. Para iniciar o debate foram convidados dois oradores que reflectiram nas diferentes áreas da sociedade e da cultura. A Maria José Nogueira Pinto, provedora da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, coube a missão de fazer uma abordagem da cidade a partir das necessidades dos seus cidadãos. Já o professor Barreto Xavier incidiu a sua reflexão num olhar sobre a cultura contemporânea da cidade. Mais do que dinheiro a cidade precisa da inteligência do coração A manhã iniciou-se com alguns cânticos em latim dedicados a nossa senhora e com a leitura do texto dos Actos dos Apóstolos onde Pedro anuncia a glória de “Cristo Vivo”. Maria José Nogueira Pinto começou a sua reflexão estabelecendo a diferença entre “caridade” e “solidariedade”. Notando que a palavra “solidariedade” está agora na moda, disse que a “caridade” expressa um sentimento mais forte: “mais do que um serviço que eu faço ao outro é um contrato bilateral entre a minha pessoa e o outro”. Durante a sua intervenção levantou algumas questões levantadas na relação do homem com a cidade: “quem cuida hoje de quem não se vê? É, hoje, necessário cuidar dos outros?”. Frisando que a vida humana está dirigida pela lógica do dinheiro, a provedora apontou que existe hoje “uma falta de responsabilidade colectiva”: “nada disto é connosco, é responsabilidade de alguma instituição!”. Por outro lado, frisou que se sente hoje uma “banalização do sofrimento através dos meios de comunicação social”. Na opinião da provedora é pedido aos cristãos que “dêem a mão e façam com o homem um caminho” e que “vejam em cada ser humano um acto de amor de Deus, que criou cada homem”. Assim, “não vale a pena dar dinheiro, nem criar bairros sociais” porque “o que faz falta nesta cidade são os nossos pés, as nossas mãos e a inteligência do nosso coração!”. Ao terminar frisou que “o que fiz nesta cidade foi acolher muitas mãos nas minhas mãos e, assim, recebi muito amor!”. Cultura dominante e missão do cristão Depois de lido um texto retirado da carta de João Paulo II, No Inicio do Novo Milénio, sobre a necessidade de uma nova evangelização, Barreto Xavier, membro do grupo cultura do Patriarcado de Lisboa, fez uma breve reflexão sobre a cultura actual. Para o orador “o desenvolvimento não é sinónimo de progresso”. Sendo a “cultura a essência do próprio humano” é na cultura que se encontra “a consciência do eu e do nós que nos leva à consciência do outro”. Notando “a perda dos valores cristãos na cultura actual e o surgimento de novas perspectivas morais” disse que “está a criar uma distância entre a cultura e o cristianismo”. Assim, “o cristão vive na história do mundo modificando o próprio mundo”, por isso “a construção de projectos culturais conta mais na sua qualidade do que na sua quantidade”. ICNE: Ousadia de um grande projecto Europeu Levar a cabo a obra da Nova Evangelização é a missão da Igreja e foi o tema tratado pelo Cardeal-Patriarca, D. José Policarpo. Confessando não ter ainda encontrado uma perfeita definição do termo “Nova Evangelização” lançado por João Paulo II, disse que “o mais importante hoje não é perceber, porque ao tentar perceber estamos já a caminhar”. No entanto, frisou que para levar a cabo tal obra é necessário ter em consideração as duas perguntas feitas pelo Cardeal Montini (que veio a ser o Papa Paulo VI) no final da primeira sessão do Concilio Vaticano II, ainda no tempo do Papa João XXIII: “Igreja o que pensas de ti mesma? E, qual a tua missão frete ao mundo moderno?”. Assim, o Patriarca de Lisboa frisou que “o mundo moderno afastou-se tanto do pilar da sua história que é necessário repor aquele anúncio simples e chocante de Cristo Ressuscitado, como nova esperança para o homem”. Esta deve ser a prioridade de todas as coisas que forem programadas para a semana da terceira cessão do ICNE. Apesar de muitos pensarem que o cristianismo perdeu a sua força na velha Europa, D. José Policarpo reforçou que “o anúncio, de que Jesus Cristo é a raiz, mostrou, várias vezes na história da Europa, de que é possível começar de novo”. Considerando a “evangelização como um fenómeno social” constatou que “é necessário entrar em diálogo com a sociedade”. Porque “há sintomas de desagregação da cultura” o Cardeal-Patriarca reforçou que “a fé cristã faz cultura!”. Considerando, por fim, a “cultura como um quadro de referência colectiva”, disse que “apesar da fé não ser a única forma de criar um quadro de referência colectiva, nem pretender sê-lo, sempre se teve consciência que a fé é fortíssima”. Assim, considerou que “a cidade dos homens é a nossa razão de ser” e portanto há que questionar o homem sobre o seu futuro e sobre a sua razão de ser. “Há questões decisivas para o futuro da Europa: o que é o homem? O que é ser pessoa? O que é a vida e qual a sua dignidade? O que é a morte? O que é a verdade?”. No fundo, todo o homem se deve confrontar com a questão: “onde é que eu encontro o sentido da minha vida?”. Por isso, a Igreja tem um desafio fortíssimo, onde “a cidade é o nosso destino e a nossa razão de ser”. Pe. Edgar Clara, Voz da Verdade


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