Nacional

A luminosidade do Pe. Manuel Antunes ainda brilha

Luís Filipe Santos
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primeiro dia do congresso internacional “Pe. Manuel Antunes – Interfaces da Cultura Portuguesa e Europeia†recordou as virtudes do «mestre da pedagogia» e o «gigante da Brotéria»

O“Era um homem luminoso†e “detentor de um pensamento universal†– foi assim que Eduardo Franco, elemento da Comissão Científica do Congresso “Pe. Manuel Antunes – Interfaces da Cultura Portuguesa e Europeia†caracterizou o sacerdote jesuíta que está no centro desta iniciativa, a decorrer em Lisboa. O Pe. Manuel Antunes, nascido na Sertã, em 1918 e falecido há 20 anos, “irradiava uma luz que toda a gente lhe reconhece e que ainda perdura nos seus escritos†– disse este elemento à Agência ECCLESIA. Um homem do pensamento universal – “na linha do paradigma dos sábios humanistas†– que dominava “várias áreas do saber e com uma competência extraordináriaâ€. Este sacerdote da Companhia de Jesus “é um dos modelos de sábio†no quadro do século XX porque “conseguia estar acima de todas as especializações†– refere Eduardo Franco. Uma das vertentes do «mestre» era a pedagogia. “É uma espécie de mito de pedagogo, todos os professores e alunos lhe reconhecem essa capacidade extraordinária†– salientou o elemento da Comissão Cientifica. No anfiteatro da Faculdade de Letras dava aulas “magistrais†e “os alunos não adormeciamâ€. Com as suas exposições “deixava os alunos maravilhados†e com o desejo de saber tanto como eleâ€. Sendo um professor “exigenteâ€, o Pe. Manuel Antunes fazia com que os “alunos subissem até ele†porque “ensinava um saber dinâmicoâ€. Actualmente - revela Eduardo Franco – “fazem falta professores como o Pe. Manuel Antunesâ€. O gigante da «Brotéria» “Sinto um enorme orgulho em ter atrás de mim alguém que construiu a «Brotéria» e levou o nome da revista a grande altura†– disse à Agência ECCLESIA o Pe. Herminio Rico, director da revista Brotéria, da companhia de Jesus. Quando começou como director da «Brotéria», o Pe. Hermínio Rico escreveu que se “sentia como um anão em cima de ombros de gigantesâ€. O grande gigante desta revista “é sem dúvida o Pe Manuel Antunes†– referiu o actual director que não chegou a conhecer o seu antecessor, homenageado durante três dias (15 a 17 de Dezembro) no Congresso Internacional: “Pe. Manuel Antunes – Interfaces da Cultura Portuguesa e Europeiaâ€, a decorrer na Fundação Calouste Gulbenkian, Faculdade de Letras de Lisboa e na Sertã (terra natal do sacerdote jesuíta). O Pe. Hermínio Rico recorda os testemunhos ouvidos sobre o «mestre» e afirma: “é um homem muito difícil de qualificarâ€. Um homem que “transborda ao seu tempo e onde trabalhavaâ€. E acentua: “transborda na «Brotéria», na Faculdade de Letras e na sociedade portuguesaâ€. De conhecimentos vastos “dominava o passado e tinha uma enorme capacidade de ler o presente e adivinhar o futuroâ€. Um modelo que “nos inspira sempre a olhar para o futuro sem esquecer o passadoâ€. Falecido há 20 anos, o Pe. Manuel Antunes volta novamente à ribalta mas “tem esta projecção porque nunca foi esquecidoâ€. Um homem que “utilizou mais de cem pseudónimosâ€. Uns para “fugir à censura†outros porque “a «Brotéria» era feita praticamente por ele†– revelou o Pe. Hermínio Rico. «O conciliador nato» “Ele sabia que a nossa humana história não tem em si o seu segredo nem o seu fim. Cristo e Marx não eram os antagonistas implacáveis mas duas expressões em dois planos diferentes†– realça Eduardo Lourenço na conferência “A visão da cultura portuguesa em Manuel Antunes†integrada no congresso Internacional sobre este sacerdote jesuíta, a decorrer em Lisboa, na Fundação Calouste Gulbenkian. Na conferência, lida por António Nóvoa, da Universidade de Lisboa, o autor sublinha que a educação religiosa do Pe. Manuel Antunes era “filosoficamente estruturada pelo Tomismo, desde Leão XIII referência teológica privilegiada da Missão Católica do Mundo†E acrescenta: “a sua fidelidade ao espírito do Tomismo, então em fase de releitura inovadora, nunca se desmentirá. Basta ler o excelente ensaio sobre o Tomismo e Marxismoâ€. Depois de uma “adolescência estudiosa†e de tomar a decisão de “entrar e ser aceite na mais exigente e discutida pelo mundo das nossas ordens religiosas†– acentua Eduardo Lourenço –, o sacerdote da Companhia de Jesus, falecido há 20 anos, “nunca privilegiou o aspecto apologético das suas profundas convicções religiosas e metafísicasâ€. De uma curiosidade “intelectual invulgarâ€, o homenageado deste congresso que encerra no próximo dia 17 de Dezembro, na Sertã, terra natal de Manuel Antunes, era “um conciliador nato†– defendeu o ensaísta Eduardo Lourenço. “Figura singular na história da cultura portuguesa†“Há na teoria da cultura de Manuel Antunes uma marca de universalidade e de intemporalidade que, sem nunca se alhear da realidade do país nem a desvalorizar, lhe confere perfil singular no conjunto dos pensadores e historiadores da cultura portuguesa†– defendeu Luis Machado de Abreu, professor da Universidade de Aveiro, no Congresso Internacional “Padre Manuel Antunes – Interfaces da Cultura Portuguesa e Europeiaâ€, a decorrer na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. Ao fazer referência à obra deste sacerdote jesuíta, falecido em 1985, o conferencista salienta que há “uma nota eminentemente teológica “que a atravessa. “Há nela tão sábia economia na invocação do nome de Deus que dir-se-ia contaminada de iconoclasmo†De facto, se exceptuarmos os escritos de religião, teologia e espiritualidade que “preencherão apenas um volume da Obra Completa, volume que não será seguramente dos mais extensos, verificamos que nos demais, não havendo propriamente ausência, prevalece o silêncio†– refere o autor da conferência “A Cultura sob o ponto de vista da Filosofia†. Ao situar o homem como pessoa em perspectiva “ontológica e universalâ€, o Pe. Manuel Antunes executou “um projecto de cultura em que se dá visibilidade a alguma ruptura e a muito ideal e profecia. Rejeita sem ambiguidades o narcisismo, o espírito de ortodoxia e de apologética, o mercantilismo†– finalizou.


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