Nacional

A Música e o Cinema

Francisco Perestrello
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A música, clássica ou ligeira mas revelando um certo grau de qualidade, contribui para a paz de espírito de quem a ouve. Pode ser um factor de comunicação e compreensão entre os que a escutam; pode contribuir para um ambiente mais propício a um bom convívio humano. O Cinema há muito que se apropriou da música como elemento complementar. Já na época do mudo era frequente a projecção ser acompanhada de uma pequena orquestra que garantia a melodia de apoio. Mais tarde criou-se mesmo o cinema propriamente musical, um género muito específico em que se produziram grandes êxitos. «De-Lovely», agora estreado, não é um filme musical na verdadeira acepção da palavra, mas sim uma biografia. Mas como o biografado é o compositor Cole Porter, em boa hora a narrativa foi construída, sobretudo na primeira parte do filme, com a banda sonora ocupada com algumas das obras deste compositor. Porter alcançou grande êxito na Broadway, com música para peças de teatro que compunha ao seu gosto e eram depois aproveitadas pelos encenadores, com resultados positivos assegurados logo à partida. Depois de longa resistência Porter partiu para Hollywood, onde compôs música para filmes. Dadas as imposições prévias dos produtores perdeu o gosto pelo seu trabalho, mas mesmo sem atingir sempre o elevado nível dos tempos do teatro, deixou-nos um espólio musical importante distribuído por numerosas produções cinematográficas. Com a qualidade técnica do cinema contemporâneo, com muito mérito para o realizador Irwin Winkler, a reconstrução da época – anos 20 e 30 do século findo – é muito convincente, com o efeito reforçado por um colorido intencionalmente dominado por cores pouco vivas. «De-Lovely», sem atingir o impacto dos grandes musicais de Hollywood, é uma obra interessante, informativa e que mantém o espectador envolvido por trechos musicais de grande qualidade que nos lembram o talento inexcedível de Cole Porter. Francisco Perestrello


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