Nacional

Abrir a "tenda" do acolhimento

Manuel da Silva
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X Festa Crioula

Pelo décimo ano consecutivo, em vésperas de início da Quaresma, realizou-se a Festa Crioula, na paróquia da Mãe de Deus, na Buraca. Esta concentração de imigrantes e suas famílias, constituída por uma celebração eucarística, almoço partilhado e convívio musical, pretende reunir africanos de várias nações ao redor da fé em Jesus Cristo e duma mesma identidade cultural “africana†tendo no horizonte a Páscoa da Libertação. São católicos imigrantes, oriundos de várias paróquias e bairros da periferia de Lisboa, onde, desde há décadas, se leva adiante com a atitude do paciente semeador do Evangelho, em comunhão com a Igreja local, importantes acções de promoção humana, de evangelização “inculturada†e de integração eclesial que valoriza a condição migrante. A Celebração eucarística foi presidida pelo Pe. José Manuel Sabença, Provincial dos Missionários Espiritanos. Esta Congregação faz parte do grupo dos grandes apóstolos da evangelização dos imigrantes africanos em Portugal. O compromisso destes Missionários remonta aos anos sessenta, com as figuras dos padres José Martins Vaz e Afonso Cunha, sem esquecer outros religiosos e muitas religiosas que nas Margens norte e sul de Lisboa, continuam a acompanhar as famílias e jovens africanos na sua “difícil†e “dolorosa†integração social e eclesial. Foi no ano 1987 que em boa hora, o Cardeal Patriarca D. António Ribeiro, criou a Capelania dos Africanos de Lisboa, que tem hoje no Pe. Veríssimo Teles, coadjuvado pelo Pe. Gaudêncio Sankando, os grandes impulsionadores da “integração em dignidade, gradual e não forçadaâ€, dos imigrantes africanos e suas famílias. Sem dúvida, um exemplo a seguir por outras dioceses do país, onde haja grande concentração de africanos, com vista a chegar, em breve, a uma Coordenação Nacional da Pastoral das comunidades africanas, como aconteceu recentemente com a nomeação, por parte da CEP, de um responsável nacional para as comunidades ucranianas de rito bizantino. A Igreja paroquial da Buraca foi, de facto, pequena para acolher as numerosas famílias africanas da Lusofonia, de onde se realçavam muitos jovens e crianças presentes. Uma liturgia cheia de vida, ritmo e línguas (crioulo, umbundo, ovibundo, kikongo, português…) onde o cortejo de entrada, a solene entronização da Palavra de Deus, a homilia e as preces universais recordaram a condição de peregrinos e a necessidade da Igreja se tornar aquela “tenda†de dignidade e de reconciliação onde a criança encontra uma família que a ama e acolhe, o perseguido se pode refugiar em segurança, o empobrecido reencontra a dignidade roubada, o cansado da vida reencontra o conforto da esperança, o discriminado readquire valor da igualdade, o estrangeiro, mesmo em situação irregular, é cidadão porque irmão. “ O acolhimento aos imigrantes não é só uma questão de trabalho ou de papéis e documentosâ€, afirmou o Pe. José Sabença. Reconhecendo que esta tem sido a grande preocupação das entidades civis e governamentais, disse que falta “fomentar, facilitar e fazer crescer†a integração social e humana de todos os imigrantes, tendo a igreja uma grande missão pois “ quando as diversidades se encontram e se integram dão vida a uma convivência das diferenças que é enriquecimento, diálogo e paz.†Continuar a abrir a tenda foi o apelo final desta celebração, feito à igreja ali reunida em assembleia no Espírito. Uma igreja, constituída também por imigrantes africanos (esperança e dinamismo de muitas paróquias, hoje!) que, mesmo a viver em terra estrangeira (por vezes, uma terra muito hóstil e xenófoba com o foi para Israel no “Egiptoâ€) se mantêm exemplarmente fiéis ao seu baptismo e à presença de Cristo nos seus projectos de vida, não obstante, as precárias condições de habitação, grandes esforços de integração, sacrifícios familiares e humilhações laborais e sociais que, desde o início, têm marcado a vida de muitos africanos e dos seus filhos no nosso país.


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