Nacional

Adiamento do referendo ao aborto deve ser aproveitado

Nuno Rosário Fernandes
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Afirma o Presidente da CEP na abertura dos trabalhos da Assembleia plenária

Os Bispos portugueses consideram que o adiamento temporário do referendo ao aborto “não deve provocar alheamento†e ser aproveitado para um “maior esclarecimento dos cristãos e de todos os demais cidadãos, para que de forma livre e em ambiente de sadio debate, todos possam compreender que se trata, aqui, de uma realidade incondicional, por isso não referendávelâ€. Esta é posição defendida pelo Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), no discurso de abertura da Assembleia Plenária, a decorrer esta semana em Fátima. Ao longo de um texto de sete páginas, entre outros temas, D. Jorge Ortiga reforça a posição dos Bispos em Portugal sobre o referendo ao aborto, relembrando que “a vida de cada pessoa humana nunca poderá ser sujeita a votação†e que “nenhuma maioria pode decidir sobre a vida, própria ou dos outrosâ€. Segundo o Presidente da CEP a vida é “um dom gratuito, de que nenhum ser humano pode dispor, sem correr o grave risco de destruir a própria humanidade†e acentua ainda a necessidade de “continuar a suscitar uma cultura da vida†confiando que “o povo português e os profissionais de saúde não quererão onerar a sua consciência com actos que, parecendo resolver angústias momentâneas, geram situações pessoais e sociais de clara infelicidade ou mesmo de desumanidadeâ€, refere o D. Jorge Ortiga. Sobre a prática do aborto o Arcebispo de Braga salienta ainda que, ao pretender “ilibar muitas mulheres, criar-se-iam condições para que a sociedade lhes viesse a exigir algo, cujo peso iria marcar as suas consciências pela vida fora, tornando essa vida mais indignaâ€, refere no texto que dirigiu aos Bispos no início da Assembleia Plenária. “O empenho por realizar uma educação da sexualidade aprofundada e equilibrada†através da integração da educação sexual nas escolas é referido pelo Presidente da CEP, com uma “iniciativa válida para fazer frente ao grave problema do abortoâ€, não deixando de o preocupar que “a concentração do assunto na questão da saúde possa induzir os jovens a uma compreensão redutora da sexualidade. Será necessário, por isso, - continua - que a escola também tome iniciativas, em estreita colaboração com as famílias, no sentido de abordar de modo mais integral a sexualidade humana, sem excluir dimensões afectivas, éticas, sócio-culturais, etcâ€, o que deverá ser feito a partir de “uma formação acrescida – da parte do docentes – quer ao nível da biologia, quer sobretudo ao nível da história cultural, da psicologia, da antropologia, da ética e de tudo o que tem a ver com o desenvolvimento da afectividade†Porém, reforça ainda D. Jorge Ortiga que “a escola nunca pode tomar iniciativas sem que as famílias sejam escutadas e respeitadasâ€. Cristianismo na vida pública No início da primeira Assembleia Plenária após a eleição de Bento XVI, o presidente da CEP evoca os quarenta anos do encerramento do Concílio Vaticano II, data a assinalar no dia 7 de Dezembro, afirmando que “evocar o Concílio do Vaticano II significa imprimir à acção da Igreja uma centralização no ser humano, na profunda convicção de que «só no mistério do Verbo Incarnado encontra luz no seu mistério. Aludindo a vários problemas que o país enfrenta, D. Jorge refere que “apesar de a actual situação, especialmente a que se vive no nosso país, parecer evocar o desânimo e o pessimismo, o Espírito Santo que nos anima interpela-nos a uma palavra de esperança e entusiasmo pelo futuroâ€, comenta. Preocupado com um vazio atingido pela modernidade, D. Jorge Ortiga realça que a difusão quase planetária da chamada «cultura global» pretende encher esse vazio “mas sem a evocação da profundidade humana ou da sua orientação para Deusâ€, absolutizando-se por essa via “a vontade individual como única fonte e único critério de liberdadeâ€, refere o Arcebispo. Neste sentido, acrescenta que, “a Igreja deverá renovar a consciência do papel público que o cristianismo detém, propondo as condições básicas para uma convivência livre e democrática e conferindo à fé uma «função civil» que lhe é congénita. Mais do que nunca – continua o Presidente da CEP - teremos de interpelar os cristãos para a exigência de trabalhar pelo bem integral do ser humano, na defesa da dignidade da pessoa, da vida e da família, assim como na promoção da paz, através de um encontro inter-cultural baseado no respeito, na justiça e na verdade. Daí que não possamos alhear-nos ao presente da história portuguesa, contribuindo, individual e colegialmente, para a defesa da vida e para conseguir que esta seja vivida, por todos, de modo cada vez mais humanoâ€. Dramas da actualidade Atento aos acontecimentos mais recentes, D. Jorge Ortiga comenta os actos de violência registados recentemente em França e em outros países da Europa referindo que “não podemos resignar-nos à inevitabilidade duma sociedade que pretende construir-se sem rumo, originando reacções violentas e destrutoras, como as que presenciámos recentemente. Devemos cultivar uma consciência crítica e persistente que possa contribuir para acordar a sociedade contemporânea, especificamente a sociedade portuguesa. A violência dos últimos dias é sintoma duma sociedade que deve alterar comportamentos e apostar em valores. Em nome da fé, - conclui a este propósito - deverá criar-se uma consciência cívica activa, crítica e interventiva, para um novo modelo de vida, inspirado nos valores humanos e cristãos. Nesta viagem pelas dificuldades enfrentadas pelo nosso país nos últimos tempos, também não passa ao lado, das preocupações da Igreja, o problema dos incêndios. Ao introduzir esta temática D. Jorge Ortiga salienta que, o problema dos incêndios “não é do passado e, por isso, no interior das comunidades eclesiais, teremos de recuperar uma catequese sobre a enorme gravidade moral que constitui o acto de pegar fogo à floresta e de estimular a corresponsabilidade de todos, mesmo no momento de denunciar potenciais incendiáriosâ€. O Presidente da CEP afirma ainda que “a Igreja, assim como a escola e os meios de comunicação social, têm de insistir na formação duma consciência individual e pública, de um modo permanente e não se limitando à chamada – de forma muito infeliz e quase motivadora – «época de incêndios»â€, conclui. Desafios aos políticos Em rescaldo das eleições autárquicas, recentemente realizadas, D. Jorge não se debruça em análises de resultados mas recorda que “o poder autárquico deve ser, cada vez mais, um verdadeiro serviço à comunidade local, em responsabilidade de resposta a todo o tipo de necessidades, sempre e só numa perspectiva de solidariedade para com todos e dum modo particular para com os mais vulneráveis e abandonados (idosos, doentes, desempregados, imigrantes, jovens à procura do primeiro emprego, etc.). A todos urge oferecer as condições mínimas para uma vida com dignidadeâ€. Na interacção e colaboração da Igreja com as diversas instituições locais “a Igreja, num estado laico e de regime de separação, nunca deixará de agir sem se prender, preservando a liberdade de quem caminha com o povo e o defende, ainda que para isso possa ser necessário denunciar humildemente o que lhe parece injusto e indigno para com os mais pobres e incapazes de fazer valer os seus direitosâ€, salienta D. Jorge Ortiga. Discurso de Abertura do presidente da CEP • Uma Igreja para o mundo


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