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Albino Carneiro: Padre e político

Luís Filipe Santos
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O mês de Outubro foi profícuo em eleições que trouxeram para a ribalta o esmiuçar dos resultados eleitorais. O verdadeiro político senta-se na oposição e no poder, todavia deseja as melhores condições de vida para os cidadãos. Em Vieira do Minho (Braga), o Pe. Albino Carneiro já sentiu o sabor da derrota e da vitória no sufrágio eleitoral, mas continua com o mesmo lema: “ajudar as pessoas”.

Nunca teve vocação para a política, mas – “depois de estar 24 anos fora da minha terra” – circunstâncias “muito particulares” contribuíram para que, naquele momento muito concreto e de acordo “com a situação que se vivia no concelho, alguém me lançou esse desafio de assumir uma candidatura à Câmara Municipal de Vieira do Minho” – disse à Agência ECCLESIA. Depois de ponderar o desafio, o Pe. Albino Carneiro resolveu aceitar.

Quando falou com a Agência ECCLESIA ainda era presidente daquela câmara minhota. No entanto, na noite de 11 de Outubro, o candidato «Unidos por Vieira» perdeu por uma vintena de votos para Jorge Dantas, o candidato da lista opositora. “Uma das acusações que me fazem – tanto da oposição como daqueles que me apoiam - é que eu não sei ser político” – referiu.

Questionado sobre as especificidades para se ser político, o Pe. Albino Carneiro salienta que – “de acordo com os critérios que as pessoas me transmitem e que, de facto, se verifica no terreno, mas que não aceito porque não as coloco em prática – é preciso ser mentiroso, corrupto e saber aproveitar-se das situações”. E acentua: “por aí não entro”.

Não compreende as acusações que as pessoas fazem à classe política, mas “depois exigem a quem exerce funções neste domínio que sejam iguais” àqueles que criticam. No entanto esclarece que conhece muitos políticos que “são sérios” e que “prestam um serviço público à comunidade”. Entrou na política para “moralizar um pouco a situação que se vivia no concelho” – disse o candidato dos «Unidos por Vieira».

Este padre político tem uma “postura diferente” e “não posso ter a atitude politiqueira (dizer sempre sim às pessoas quando sei que não vou, nem legalmente nem financeiramente, resolver os problemas das pessoas)”.

Quando se candidatou à Câmara de Vieira do Minho, “as objecções que D. Jorge Ortiga (Arcebispo de Braga) lhe colocou, coloquei-as eu, em primeiro lugar, à minha consciência”. Ponderou os prós e os contras e “tenho a consciência que o padre não é formado para exercer política e muito menos política partidária”. No entanto, a acção humana - “os padres não fogem à regra - é uma acção política” enquanto palavra, actividade, intervenção na comunidade e ir ao encontro das respostas sociais. A Igreja “faz política quando esta é entendida como um bem à comunidade” – frisou. E acrescenta: “nesta perspectiva não tive problemas de consciência”.

Em 2001, quando transmitiu a notícia ao arcebispo de Braga e lhe pediu para o libertar das paróquias do Arciprestado de Vieira do Minho para “não confundirmos as coisas”, ele, como “meu superior responsável, tentou demover-me da ideia”. Já participou em três eleições e conhece o sabor da derrota e da vitória. “Isso ajuda-nos a crescer” – disse.

Na sua vida de padre encontrou jovens estudantes que quando tiraram a primeira negativa “fizeram depressões”. O conselheiro dizia-lhes: “é preciso saber, conhecer e sentir a experiência do fracasso para valorizar o bom da vida”. Quem se habitua ao sucesso, a primeira vez que fracassa “sente-o mais profundamente”.

Actualmente, não tem paróquia porque “o exercício da paroquialidade está impedido, enquanto se exerce funções de político” de acordo com o Direito Canónico e o Direito Civil. Apesar destas contingências, o Pe. Albino Carneiro celebra a Eucaristia visto que “tenho que alimentar a minha fé”. “Procuro é celebrar a título privado, contudo, particularmente no tempo de Verão, ajudo alguns sacerdotes” que solicitam a sua ajuda – declarou.

Para além da vida de político, o Pe. Albino Carneiro disse que vive com uma irmã e, como os pais faleceram, ainda não se fizeram partilhas. “Tenho como hobby os pássaros”. Tem canários, periquitos, caturras e faisões, mas “falta-me o espaço”. Sempre gostou do trabalho na terra – “não só da experiência que adquiri” -, mas os pais ensinaram os filhos a trabalhar no campo.

De Vieira do Minho para os Passionistas
Partiu de Vieira do Minho rumo a Santa Maria da Feira, para o Seminário dos Passionistas. S. Paulo da Cruz é o seu modelo na vida e na política. “A minha vida está à sombra da cruz e à sombra de uma doutrina que nos faz compreender a realidade da vida à luz de um sofrimento que é redentor e salvador” – sublinhou o Pe. Albino Carneiro. Deixou os Missionários Passionistas há 11 anos, mas a saudade “está presente porque foram 24 anos vividos em comunidade”.

Considera que já teve “momentos de Ressurreição na política”. Não propriamente “nas inaugurações” porque “isso é pouco importante”, mas quando vê resolvidas as dificuldades das pessoas. “A resolução dos problemas das pessoas são momentos vividos com intensidade” – afirma. O «corte das fitas» nas inaugurações é uma consequência do trabalho, todavia é a “obra que dá votos”.

Na perspectiva política, o que “dá votos é o betão”, mas “não deveria ser assim”. Ao longo dos quatro anos que esteve como presidente da edilidade minhota “tenho feito esse discurso”. Pelo facto de ter sido presidente de câmara tinha presença na distrital de Braga, mas “procuro envolver-me muito pouco na discussão partidária”. Não é filiado no partido porque “os padres não podem ser filiados”, mas é apoiado pela coligação PSD/CDS. Apesar da filiação partidária estar impedida aos sacerdotes, o Pe. Albino Carneiro conhece padres que “têm filiação partidária” e “ estão inscritos em sindicatos”.

Nos últimos tempos, as necessidades das pessoas “vêm-se acentuando e, nem sempre, as autarquias têm disposições legais para poder resolver o problema”. E exemplifica: “podemos recuperar o telhado de uma casa e criar as condições de habitação para uma pessoa, mas se esse cidadão estiver acamado ou não tiver condições financeiras para comprar os medicamentos, a autarquia não pode pagar o medicamento”.

O Pe. Albino Carneiro afirma que nunca fez “homilias políticas”. Em 2001, quando se candidatou pela primeira vez, “havia sempre gente estranha nas celebrações das minhas comunidades”. Ao iniciar a Eucaristia “dizia-lhes para não terem trabalho de tirar apontamentos porque no final fornecia cópia da homilia”.

Durante o seu mandato no município de Vieira do Minho, o padre político não esconde “que, enquanto a lei permite, apoiou paróquias e comunidades na preservação do património religioso” e “no tornar mais digno os espaços envolventes às igrejas”. Fez este serviço “não no sentido de manter os padres e os conselhos económicos presos” – sublinhou.

Ao olhar para as relações Igreja/Estado, o padre minhoto realça que a Igreja em Portugal “tem de pagar a factura da submissão ao poder, não me refiro ao antigo regime, mas de anos recentes” – acrescenta. “Davam-nos dinheiro e tudo estava facilitado”.

No debate público e político usa com frequência – “sou acusado” – de utilizar frases bíblicas. “Não posso fugir àquilo que sou”. Gosta muito do evangelista S. João. “É um evangelho muito espiritual e orienta-nos para o sagrado sem esquecer o humano”. Só nesta dicotomia, a realidade é compreensível.

Foi missionário no Norte de Angola (diocese de Uíje) – “uma experiência muito rica, onde aprendemos a relativizar as coisas” -, numa situação onde os bens primários eram quase nulos, o padre político experimentou a presença, naquelas pessoas, “do divino de uma forma muito profunda”. Aqueles três anos (de 1991 a 1994) “ensinou-nos a liberdade e o limite das coisas”. Apesar destas dificuldades, “eles vivem a dimensão da festa” de uma forma diferente.

Período antes do 25 de Abril de 1974
Saiu da sua terra natal (Vieira do Minho) para o Seminário aos 15 anos e celebrou as bodas de prata sacerdotais, a 1 de Julho passado. Recorda-se, vagamente, dos tempos antes da «Revolução dos Cravos». “As comunicações sociais não eram aquilo que são hoje”. “Meio a brincar, meio a sério”, costuma a dizer que tinha um professor - o actual director do Jornal de Vieira, o Pe. Luis Jácome - que através da música “dava-nos algumas pistas” nos períodos antecedentes ao 25 de Abril de 1974. O Pe. Albino Carneiro recorda-se de alguns folhetos – “custavam dois escudos e cinquenta centavos” - que o professor requisitava “da Capela do Rato (Lisboa)”. Através do Pe. Luis Jácome “tivemos acesso às músicas do Zeca Afonso e dos cantores de intervenção”.

Do baú das memórias, o padre político lembra-se também de um episódio passado na casa dos seus pais. “Numa noite estávamos a rezar o terço em família e chegaram três personalidades a casa. A minha mãe ficou preocupada e chamou-nos a atenção que não podíamos comentar com ninguém que o doutor fulano de tal esteve lá em casa”. Essas imagens e factos estão presentes, mas “não posso dizer que recordo bem aquele tempo”. Como era estudante quando se deu o 25 de Abril de 1974, o Pe. Albino Carneiro recorda que “aquele dia foi importante porque deixámos de ter aulas ao Sábado”.

Dos seus pais recebeu uma educação que “me alertava para a justiça e a generosidade”. Filho de uma família numerosa (17 filhos), o Pe. Albino Carneiro recorda que “até nisso os pais foram generosos”.

O sentido do pastoreio “está presente na minha vida” e tem a experiência do “trabalho duro”, não só enquanto missionário e membro da congregação dos Passionistas, mas também na família. “Fomos educados a trabalhar e, costumo dizer na brincadeira, que os meus pais iam presos” em relação ao trabalho infantil. E confessa: “com cinco anos ia com as ovelhas para o monte”.

Não costuma gozar férias porque “não me dou sem um horário para cumprir” e algo de concreto para fazer, nem que seja com a “passarada”. É adepto do Benfica e do clube da terra, o Vieira, mas aos “meus trinta anos deixei de sofrer tanto com o Benfica”. E confessa: “cheguei a gravar os relatos do Benfica”.

Um político que chora
Confessa que “já chorou” devido à política, especialmente “pela ingratidão das pessoas”. Na execução das suas tarefas “nem tudo são rosas” e salienta que “não é só o salário no dia 22 ou 23 de cada mês”. Como padre nunca teve salário – “na congregação a caixa era comum” – e, quando saiu há 11 anos dos Passionistas, tinha como mesada “cinco mil escudos”. Nas paróquias de Vieira do Minho vivia “das esmolas”, mas “reconheço que as comunidades eram generosas comigo”. Se não fosse em dinheiro era em bens.

Antes das eleições de 11 de Outubro, o Pe. Albino Carneiro recebia mensalmente “cerca de três mil Euros” e relata que, em certos dias, coloca na carteira 150 Euros ou 200 Euros, mas chega ao fim do dia sem dinheiro. “É uma velhinha que não tem dinheiro para pagar os medicamentos... Algumas situações, mas não faço alarme desses casos ” – conclui. Quando se acusam os políticos de «encherem» os bolsos, este padre esvazia-os em prol dos mais necessitados.

Luis Filipe Santos



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