Com o número de Janeiro, a Além-Mar inicia 50 anos de vida. Um passo importante no arco de uma história marcada pelas vicissitudes do tempo em que nasceu e tem crescido, acompanhando a evolução acelerada que a Missão, a Igreja e o mundo registaram.
O primeiro número apareceu em Janeiro de 1956. Pequeno – em tamanho e em páginas –, despretensioso, modesto, trazia apenas uma dezena de artigos. Entretanto, a revista foi crescendo e, a partir de 1963, passou a ter o formato actual. Em Novembro de 1964, chegou a prova de fogo: a Além-Mar foi suspensa por ter furado o embargo noticioso imposto pelo regime de Salazar à visita do Papa Paulo VI à Índia – que três anos antes havia anexado Goa, Damão e Diu – para participar no Congresso Eucarístico Internacional de Bombaim.
A «Revista dos Missionários Combonianos» – como então se definia em cabeçalho – reapareceu em Maio seguinte, depois de muitas tribulações, agora sujeita ao escrutínio censório do «lápis azul». Uma paragem forçada que se revelou providencial. Nesses meses de incerteza e de luta para relançar a revista, passou por um processo de refundação, vincando ainda mais o seu carácter missionário e o compromisso com a África, a paixão que consumiu a vida de São Daniel Comboni.
Tem sido este o rumo que a publicação tem seguido ao longo de meio século, e foi este rumo que procurámos traduzir na nova imagem gráfica – mais arejada e mais virada para os novos tempos –, mas em que a nossa perspectiva, de hoje e de sempre, aparece claramente expressa na Visão Missionária que, na capa, surge bem ao centro do cabeçalho. Porque a revista pretende continuar a ser uma janela missionária aberta para o Evangelho, a Igreja e o mundo. E, necessariamente, para as inter-relações que existem entre a fé, os desafios que quotidianamente nos coloca e os reptos que, quando posta em confronto com as guerras, as injustiças e as desigualdades, constantemente nos lança.
Ao celebrar as bodas de ouro de Além-Mar não pretendemos embandeirar em arco nem viver à sombra da reputação que a publicação granjeou no panorama da imprensa missionária, católica e nacional. Firmamos, isso sim, um compromisso de inteira dedicação aos leitores, assinantes, benfeitores e amigos. Um contrato que nos obriga a continuar a desenvolver a vertente missionária contemporânea, explícita e implicitamente, a fomentar o diálogo entre as páginas do Evangelho e as páginas de uma revista onde não se pode deixar de abordar as lutas por uma globalização mais justa, pela promoção dos valores da paz e da solidariedade, pelo respeito pelo ambiente e pelos direitos humanos.
O projecto Além-Mar tem 50 anos. E não encontra apenas expressão nos 544 números publicados. Mas também nas pessoas que a ele se dedicaram e dedicam: os seus directores – alguns já falecidos –, o corpo redactorial – constituído por missionários e leigos, que se foi renovando e profissionalizando –, os colaboradores e os missionários que, do além-mar mais ou menos distante em que se encontram, partilham connosco as suas pequenas tristezas e as suas sempre grandes alegrias. E, sobretudo, nos leitores – a que me atreveria a chamar companheiros de jornada –, que nos apoiaram sempre, ora encorajando e aplaudindo, ora criticando e sugerindo.
Estamos todos de parabéns. Um bom aniversário – e um bom ano – para todos.
José Vieira, Director da "Além-Mar"