Nacional

Ano de São Vicente

Octávio Carmo
...

O dia 22 de Janeiro de 2005 assinalou o final do “Ano Vicentino” que as Dioceses de Lisboa e do Algarve proclamado para celebrar os 1700 anos do martírio do seu patrono, o diácono São Vicente. A memória de um dos primeiros santos da nossa Igreja foi sendo reavivada, ao longo destes 12 meses, através das mais diversas iniciativas religiosas e culturais. A Sé Patriarcal de Lisboa acolheu uma Exposição com perto de uma centena de peças e painéis ilustrativos, com os quais se procurava dar a conhecer a personalidade deste diácono e mártir, com influência histórica, política, social, cultural e religiosa na cidade de Lisboa e em Portugal. Mais de meia centena de milhar de lisboetas responderam a esta proposta, que deixa a sua marca. O “Ano Vicentino” era, no Patriarcado de Lisboa, um tempo de graças jubilares, concedido por João Paulo II. Pela Catedral, passaram mais de 100 mil peregrinos, em atitude jubilar, como recordou o Cardeal-Patriarca de Lisboa no encerramento desta celebração. No Algarve, este tempo ficou marcado pelas publicações, intituladas “O Algarve e S. Vicente” e “Peregrinar em Igreja - Ano Vicentino 304-2004”, com a intenção de dar a conhecer melhor o seu perfil de homem, de diácono da Igreja e de santo, verdadeira testemunha da fé até à morte. A Igreja algarvia deu um especial destaque, ainda, aos seus lugares vicentinos: Vila do Bispo e Cabo de São Vicente, em Sagres. Neste último situa-se a igreja de S. Vicente, assim nomeada por causa das relíquias do mártir aí guardadas desde o século VIII até à sua trasladação para Lisboa, no tempo de D. Afonso Henriques. O primeiro Rei de Portugal era, aliás, um devoto por S. Vicente. Diz a tradição que enviou duas expedições em busca da sua sepultura e que a segunda, comandada pelo Almirante D. Fuas Roupinho, foi bem sucedida. O Mosteiro de S. Vicente de Fora foi fundado em 1147 por D. Afonso Henriques em cumprimento de um voto dirigido ao Mártir, pelo sucesso da conquista de Lisboa aos mouros. Os relatos hagiográficos conservados coincidem no episódio do achamento do corpo, junto ao cabo de São Vicente, à deriva numa barca guardada por dois corvos - atributos iconográficos que serão constantes nas representações posteriores do mártir, na arte portuguesa, e adoptados como emblema municipal da cidade de Lisboa ainda durante a primeira dinastia. Algumas narrativas plásticas incluem, ainda, a característica palma do martírio, o molho de cordas e as vestes de diácono: é assim que o encontramos nas obras de Nuno Gonçalves, pintadas para o altar de São Vicente da Sé de Lisboa. A fama dos milagres atribuídos ao mártir fez dele Padroeiro principal do Patriarcado. O culto ao mártir São Vicente espalhou-se rapidamente por toda a Península, sobretudo durante o domínio muçulmano, como se constata pela sua devoção no Algarve. Vicente, diácono de Saragoça (Espanha), foi martirizado no princípio do século IV, durante as perseguições de Maximiano e Diocleciano. Segundo a tradição, era filho de uma família ilustre e cristã. O Bispo Valério chamou-o para seu colaborador no ministério da Palavra. Com a perseguição foi levado de Saragoça para Valência, juntamente com o seu bispo, onde foram martirizados.


História da Igreja