Nacional

Apostolado da Oração da Europa

Elias Couto
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Entre os dias 23 e 25 de Setembro, teve lugar, na cidade belga de Malines, a reunião anual dos Secretários Nacionais do Apostolado da Oração (A. O.) da Europa. Estiveram presentes responsáveis do A. O. de 17 países europeus (Alemanha, Áustria, Bélgica, Croácia, Dinamarca, Espanha, França, Inglaterra, Grécia, Hungria, Itália, Luxemburgo, Holanda, Polónia, Portugal, Suécia e Suíça), num total de 36 pessoas. Portugal foi representado pelo P. Dário Pedroso, S.J., Secretário Nacional do A. O., e Elias Couto, um colaborador leigo. Nesta reunião, foi analisada a acção pastoral do Apostolado da Oração nos países da Europa e procedeu-se à elaboração de propostas para as Intenções que o Santo Padre anualmente confia à oração dos membros do Apostolado da Oração, neste caso, referentes ao ano de 2006. Houve também momentos de oração muito intensos, em particular na celebração da Eucaristia. A reunião terminou com uma breve visita à capital da Bélgica, Bruxelas, durante a tarde de sábado. A situação do A. O. nos países representados neste encontro é muito variada. Em alguns, o Apostolado da Oração anima pequenos grupos de oração e reflexão. Noutros, como em Portugal, mantém uma linha mais tradicional, através dos seus Centros, presentes em grande número de paróquias, os quais participam na animação da vida paroquial e desenvolvem actividade próprias, sobretudo ligadas à devoção ao Coração de Jesus. Noutros, ainda, sobretudo no Norte da Europa, devido à descristianização ou ao facto de a Igreja católica ser nesses países uma pequena minoria, o A. O. encontra grandes dificuldades para manter a sua presença e desenvolver as suas actividades específicas. Durante o ano pastoral 2004-2005, o acontecimento mais significativo para o Apostolado da Oração foi a publicação, pelo seu Director Geral, P. Peter-Hans Kolvenbach, S.J., da Carta do Apostolado da Oração, por meio da qual se pretende revitalizar o A. O. e torná-lo mais adaptado às circunstâncias actuais da Igreja e do mundo. Esta Carta foi, em geral, bem acolhida nos diversos países europeus, tendo a maior parte dos responsáveis nacionais do A. O. feito a sua divulgação junto dos bispos, sacerdotes e demais fiéis. O próximo ano será de aprofundamento da mesma Carta, tendo em vista a efectiva renovação e revitalização do Apostolado da Oração. Segundo o P. Aloys Van Doren, representante do Director Geral do A.O. nesta reunião, também nos outros continentes, sobretudo na América Latina e na Ásia, a Carta do Apostolado da Oração tem encontrado acolhimento muito favorável. Os participantes na reunião de Malines tiveram ainda um encontro com o arcebispo da diocese (Malines-Bruxelas), Cardeal Godfrid Daneels. Na sua intervenção, o Cardeal Daneels reflectiu sobre a importância e a necessidade da oração na vida da Igreja. Começou por salientar que a Igreja actual se caracteriza, em muitos casos, por um activismo permanente, sem lugar para o silêncio e a oração: «Tornámo-nos de tal modo activistas que acabamos a verificar uma espécie de superficialidade, falta de profundidade, falta de seriedade», na acção pastoral da Igreja – afirmou. Esta falta da «dimensão vertical» (relação com Deus pela oração) na vida da Igreja e de muitos cristãos, considerou o Cardeal Daneels, só pode ser ultrapassada pela redescoberta do valor da oração, que deve começar na família e encontrar nas comunidades cristãs um apoio constante – assim se compreende que a Igreja, na Bélgica, vá dedicar o ano de 2005 à oração, incentivando a criação, em todas as comunidades, de uma «escola de oração», onde os cristãs possam aprender a rezar, mesmo coisas tão simples como o Pai-Nosso. Noutro momento particularmente significativo da sua reflexão, o Arcebispo de Malines-Bruxelas lembrou a necessidade de as famílias cristãs serem capazes de transmitir às gerações mais novas uma «linguagem cristã», o que não será possível se não forem capazes de rezar em conjunto. Um dos modos mais fáceis de o fazer será lendo aos mais pequenos, ou ajudando-os a ler, passagens da Bíblia em linguagem adequada à sua idade. Concluindo a sua reflexão, o Cardeal Daneels afirmou que há, por toda a parte, um renascimento do interesse pela espiritualidade e pela oração. A «mística» volta a encontrar um lugar na vida das pessoas. Mas trata-se, em muitos casos, de um interesse que não corresponde à oração cristã. É mais um «desejo de harmonia consigo e com o universo», uma «religiosidade natural», uma busca narcisista de si próprio, ignorando a dimensão da cruz. Este renovado interesse pela oração constitui, porém, uma «hipótese» que não se deve descurar. Pelo contrário, há que «evangelizar a oração, purificá-la, cristianizá-la», para que ela seja verdadeiramente cristã, e não apenas um misticismo centrado no sujeito que reza, em busca do próprio aperfeiçoamento. No diálogo com os presentes, o Cardeal Daneels comentou a presença do Islão na Europa, salientando que há dois tipos de islamismo: um é monolítico e fechado, tornando impossível qualquer integração; o outro, aberto à separação entre a política e a religião, deseja fazer parte activa das sociedades europeias e pode ser muito enriquecedor para as mesmas. Relativamente à secularização da sociedade, Godfrid Daneels considera que esta é irreversível. Na verdade, a separação entre religião e política, bem como a cada vez maior independência das realidades temporais face às diversas religiões, é um fenómeno cada vez mais espalhado, com tendência para se mundializar. Embora criando grandes dificuldades à Igreja, sobretudo dificuldades de adaptação, é um fenómeno positivo e deve ser visto como uma oportunidade para anunciar o Evangelho de outro modo, a partir de pequenas comunidades activas e empenhadas.


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