O Arcebispo de Braga destacou ontem, na Missa do Dia da Paz, a importância da verdade na vida das famílias e instituições, muitas vezes marcada pela «falsidade e hipocrisia».
«Sem verdade transparente », disse D. Jorge Ortiga, «torna-se impossível experimentar a paz dinâmica como causa duma felicidade imperecível ». Mas para haver esta paz, afirmou também o Arcebispo Primaz, urge pôr de lado a mentira que «prolifera e penetra em todos os âmbitos da vida».
«Mente-se no ambiente familiar, engana-se nos negócios, promete-se na política sem dar consistência aos programas, disfarçamos nos impostos com atitudes de verdadeira fraude fiscal, apresentamo-nos com espírito de superioridade não condizente com as nossas capacidades, iludimo-nos afirmando que “todos fazem assim”, atingindo comportamentos de que deveríamos ter vergonha», afirmou D. Jorge Ortiga, apontando o que é necessário corrigir. Quanto antes, porque este «mundo de engano gera, mais tarde ou mais cedo, intranquilidade, agitação, rumores, depressões, numa palavra, ausência de paz interior, tudo sintoma duma vida de infelicidade».
O Arcebispo Primaz deu como exemplo o sistema judicial, frisando que este corre o risco de não ser verdadeiro por causa das pessoas que não usam a verdade nas suas declarações. «Outrora — disse — a verdade era honra; hoje combinam-se estratégias e, como consequência, o mais forte impõe o que lhe convém ». Feito o reparo, o prelado lançou esta pergunta:
«Como poderão viver tranquilos aquelas e aqueles que se vendem sem o mínimo de escrúpulos?» Referindo-se ao relacionamento das instituições, D. Jorge Ortiga disse depois que é notório «um clima de falsidade e hipocrisia que choca com o mínimo duma coerência elementar».
«Pretende-se a consolidação dos interesses da nossa bandeira ou da nossa cor e — acrescentou D. Jorge Ortiga — até a justiça se descredibiliza porque o engano impõe-se através das habilidades e artimanhas de alguns».
Paz também com Deus
Ontem celebrou-se a festa da maternidade divina de Nossa Senhora e, pela trigésima nona vez, a Jornada Mundial da Paz. Centrando-se nesta comemoração, o Arcebispo de Braga recorreu à Mensagem do Papa Bento XVI para este dia.
Conforme já referimos acima, D. Jorge Ortiga apontou o que considera que está mal, mas para indicar o que urge fazer em vista da paz entre os homens e os povos. Como fez o Santo Padre, que se pronunciou inclusive sobre os conflitos nucleares, os fundamentalismos radicais, as guerras fratricidas, os confrontos étnicos e o terrorismo devastador. «A mensagem do Santo Padre pode e deve tornar-se suporte de propósitos capazes de motivar, no dia a dia, para um protagonismo na cultura da paz», comentou ontem o Arcebispo Primaz, na presença de D. Eurico Nogueira (arcebispo emérito) e D. Antonino Dias (bispo auxiliar).
No entanto, na abordagem que D. Jorge Ortiga fez ao tema da paz preferiu ficar pela relação entre as pessoas na própria família. Uma relação que deve ser marcada pela verdade, salientou. Porque «só da verdade nascerá a paz — pessoal, familiar, nacional e internacional », afirmou, acrescentando que «ninguém se dever furtar a dar o seu contributo para que o “Evangelho da paz” cresça através da vivência da “verdade da paz”».
Na segunda parte da homilia, o Arcebispo de Braga chamou a atenção para outro tipo de guerra a evitar a todo o custo. Citando a Mensagem de Bento XVI, disse que «a história demonstrou amplamente que fazer guerra a Deus, para extirpá-lo do coração dos homens, leva a humanidade, assustada e empobrecida, para decisões que não tem futuro».
«Não podemos aceitar a guerra a Deus. Mas, em simultâneo — alertou também o prelado —, os crentes deveriam sentir-se proibidos de declarar guerra àqueles que pretendem afastar Deus do coração da humanidade. A guerra gera a guerra e só a verdade sobre Deus é capaz de criar condições de paz, o que impõe uma redescoberta de Deus ou uma purificação da imagem deturpada que caracteriza o nosso pensar», referiu D. Jorge Ortiga.
Ainda segundo o Arcebispo de Braga, «o mundo continuará em guerra, desde o âmbito familiar até aos conflitos mundiais, se não entendermos que só Deus constrói» a paz. Por isso — continuou —, «nunca poderemos ter medo d’Ele e a sociedade moderna terá de inverter as suas orientações teóricas e práticas», visíveis no «trabalho organizado para O afastar do mundo moderno, impedindo uma relação amorosa com Ele ou destruindo e afastando os sinais que O recordam ou testemunham a fé cultural dum povo». Mais do que conflitos, tal pode levar «à destruição da humanidade».
Verdadeiros, sempre e em toda a parte
Para D. Jorge Ortiga, a melhor forma de evitar isto consiste na promoção da verdade no relacionamento familiar. Algo que nem sempre acontece, pois «também aqui — no dinamismo interno da família — vagueia muita mentira e engano». «Com facilidade se cai no engodo de enveredar por verdades que nunca coincidem com a verdade familiar », quando é precisamente nisto que «está a defesa da causa da paz», indicou D. Jorge Ortiga.
«Sem verdade transparente entre os esposos, entre os namorados, entre pais e filhos, torna-se impossível experimentar a paz dinâmica como causa duma felicidade imperecível», afirmou também o Arcebispo de Braga, frisando que «esta exigência vivida por várias famílias, por muitas famílias, proporcionará paz nas comunidades, nas instituições, no país, no mundo».
«A verdade na família é mancha de azeite que penetra num tecido, capilarmente, e envolve todos os povos na concórdia que o amor oferece», concluiu D. Jorge Ortiga, sublinhando a necessidade de as pessoas serem verdadeiras, «sempre e em toda a parte mas particularmente na família».