Arquitectura Religiosa e Arquitectura Sagrada Jornal da Madeira 17 de Outubro de 2005, às 10:44 ... Uma igreja não é um simples monumento, mas antes um santuário. A sua finalidade não se limita a "reunir fiéis", mas a criar para eles um ambiente que permita à Graça, a sua melhor manifestação, e consegue-o na medida em que consegue arrastar, canalizar para o interior, num jogo subtil de influencias, para um fim - a comunhão com o Divino - o fluxo das sensações, dos sentimentos e das ideias. As novas Igrejas têm que ser um "instrumento" de recolhimento, de alegria, de sacrifÃcio e de elevação. Quando há mais de quinze anos me pediram para desenhar uma Capela para o Funchal, quando ainda estava residente em Lisboa, foi para mim uma experiência nova, que me obrigou a investigar e aprofundar os meus conhecimentos religiosos e posso afirmar que foi um mundo novo que se abriu. Como arquitecto sempre gostei de projectar edifÃcios, cujos espaços tivessem efeitos sobre o comportamento dos seus utilizadores, quer pelo jogo de volumes, quer pelos materiais, quer pela iluminação, mas nunca me tinha debruçado sobre a concepção dos espaços sacros. Após aprofundada investigação, pode concluir que nos primeiros séculos do cristianismo, as Igrejas eram projectadas como um corpo e que não só respondiam a uma determinada função litúrgica, mas utilizavam simbologia e proporcional idade sagrada. Com o aparecimento do movimento romântico já no século XIX, aceitou-se que por razões de individualismo estético, o arquitecto poderia introduzir a sua interpretação do espaço sacro e projectar ao "gosto" da época, utilizando o sentimentalismo caprichoso tão bem caracterizado pela literatura de então. A arquitectura contemporânea, continuou esta tendência de dessacralização do espaço religioso e é necessário recuperar com rigor a forma como que se projectam as novas Igrejas, embora tenhamos que aceitar e apoiar as novas expressões da arquitectura religiosa contemporânea. As novas Igrejas devem exprimir a sua época, mas tem que ser o elo de ligação entre o passado e o presente sem roturas e justificar plenamente os seus princÃpios e as suas fórmulas de concepção utilizando os princÃpios básicos da arte sagrada. Consequentemente, devemos ter em consideração elementos essenciais: - A arte sagrada não deve ser apenas o resultado dos sentimentos, fantasias e até "pensamentos" do artista, mas deve ser a tradução de uma realidade, que ultrapassa os limites da individualidade humana. É precisamente essa a caracterÃstica própria da arte sagrada: Uma arte supra-humana. Para tal, torna-se necessário recordar a verdadeira dignidade da arte, que representa a tradução no plano sensÃvel da Beleza ideal, portanto a Beleza é uma forma do Divino, um atributo de Deus, "um reflexo da Beatitude divina". Eis porque o Belo é, segunda forma platónica" o esplendor do Verdadeiro". O objectivo da arte consiste em revelar a imagem da Natureza divina impressa na criação, mas oculta nela, realizando objectos visÃveis que sejam sÃmbolos de Deus invisÃveis. É obvio que, numa arte assim concebida, com valor quase "sacramental", o artista não se deve guiar pelas suas próprias inspirações; o seu trabalho não consiste em exprimir a sua personalidade, mas em procurar uma forma perfeita que corresponda a protótipos sagrados de inspiração celeste. Uma Igreja não é simplesmente um monumento, mas um santuário, um templo. A sua finalidade não se limita a "reunir fiéis", mas a criar para eles um ambiente que permita à Graça, a sua melhor manifestação, e consegue-o na medida em que consegue arrastar, canalizar para o interior, num jogo subtil de influencias, para um fim - a comunhão com o Divino - o fluxo das sensações, dos sentimentos e das ideias. As novas Igrejas têm que ser um "instrumento" de recolhimento, de alegria, de sacrifÃcio e de elevação. A base do pensamento das novas Igrejas, tem que ser igual ao pensamento que orientou a concepção das Igrejas nos primeiros anos do cristianismo, ou seja temos que estar convictos que a sua concepção não é entregue à inspiração pessoal do arquitecto, mas sim entregue nas mãos de Deus que o ilumina através do EspÃrito Santo, "Edifiquem-me um santuário para que eu habite no meio deles. Executaras o santuário e todos os seus utensÃlios, exactamente conforme o modelo que te mostrarei" (Ex. 25, 8-9). João Cunha Paredes, Arquitecto Arte Sacra Share on Facebook Share on Twitter Share on Google+ ...