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Arquitetura: Espaços religiosos católicos entre a afirmação e a ocultação

Agência Ecclesia
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Debate sobre novas igrejas sublinha necessidade de unir «dimensão poética» ao «sagrado especificamente cristão»

Lisboa, 12 mai 2011 (Ecclesia) – Afirmar uma igreja na paisagem urbana ou ocultar as suas especificidades, tornando-a praticamente irreconhecível a partir do exterior, é uma escolha que divide hoje a arquitetura religiosa católica.

“Há espaço para igrejas com cara de igreja mas não sei se o caminho será esse”, afirmou Bernardo Miranda durante uma conferência organizada esta quarta-feira, em Lisboa, na Faculdade de Arquitetura.

“Estamos a aproximar-nos de um tempo em que a Igreja está a mudar de cara e não precisa de ter um rosto tão vincado”, assinalou o arquiteto, salientando que os católicos têm de “ir ao encontro do mundo” e “redescobrir a arte”, inquietações que as construções religiosas devem refletir.

Presente entre as 80 pessoas que compunham a audiência, o arquiteto Diogo Lino Pimentel, do Patriarcado de Lisboa, defendeu que os espaços católicos devem distinguir-se dos restantes e constituir uma “referência”, características “que as pessoas sentem mais falta nas igrejas modernas”.

O esbatimento dos traços cristãos constitui uma das particularidades da igreja de Santo António, em Portalegre, projetada por Carrilho da Graça, que por motivos imprevistos faltou à conferência.

“Quando fui lá não encontrei a igreja à primeira”, disse Vasco Melo, que participou no colóquio em representação do Prémio Pessoa 2008, de quem citou estas palavras: “A arquitetura deve encenar o mínimo e da maneira mais intensa”.

O arquiteto Luiz Cunha, que assistiu ao encontro, considerou que o desafio não reside na semelhança ou diferenciação face aos modelos de igreja legados pela tradição, mas em saber o que distingue um “espaço sagrado”, conceito “muito difícil de definir”.

A nota essencial numa igreja consiste na demarcação de “outro mundo”, embora “não haja fórmulas” para expressar o transcendente, pelo que as diretrizes da liturgia católica “têm de aceitar a definição subjetiva do espaço sagrado”, referiu.

Bernardo Miranda concorda que a separação entre mundos “é importante”, mas realçou que a “liturgia não faz sentido sem a arquitetura”: “Quando ambas se divorciam, temos de ficar com o sagrado dos arquitetos, que não chega”.

O padre João Norton destacou que “o sagrado cristão não é equivalente ao sagrado em geral”, embora não prescinda deste: “A revelação em Jesus Cristo não apaga a revelação de Deus através da sua criação, menos específica e mais abrangente”.

O arquiteto e sacerdote jesuíta acentuou a necessidade de obter uma síntese entre cultura e catolicismo: “Precisamos da dimensão poética que o edifício tem, sem perder a dimensão do sagrado especificamente cristão”.

A conferência sobre “Novas Igrejas” decorreu no âmbito da exposição relativa ao prémio internacional atribuído pela fundação italiana Frate Sole para distinguir espaços sacros, iniciativa organizada pela equipa de arquitetura do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura.

A mostra, que decorre até 19 de maio na Faculdade de Arquitetura de Lisboa (Pólo Universitário do Alto da Ajuda), inclui uma nova sessão dedicada ao tema “Novos Conventos”, marcada para quarta-feira, às 15h00, com Paulo Providência, Helena Botelho e Filipe Mónica.

RM



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