Depois de uma verdadeira avalanche de visitantes, acaba de fechar as suas portas, em Espanha, a exposição “Um Rio de Água Pura – Arte Sacra do Sul de Portugal”, organizada pelo Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja e pelo Centro de Estudios Borjanos da Diputación de Zaragoza em três museus da cidade de Borja: o Museu Arqueológico, o Palácio de Aguilar e o Museu da Colegiada de Santa Maria. Esta iniciativa deu a conhecer cerca de meia centena de obras de arte de igrejas, conventos e museus do Baixo Alentejo, sendo a única actividade do programa oficial da Expo Zaragoza 2008 que, em estreita associação com o Pavilhão de Portugal e os municípios de Beja e Borja, teve lugar fora do recinto do Ebro.
Ao longo do pouco mais de um mês que esteve patente ao público, a exposição registou cerca de 50 000 entradas, um número bem expressivo do interesse que a história e a cultura de Portugal despertam no Norte de Espanha. De facto, os laços antigos que uniram o nosso país a Aragão estão a ser redescobertos e vive-se um período de grande interesse quanto ao estreitamento de relações, não só no plano turístico mas também nos domínios do turismo, da economia, da educação, da inovação tecnológica e do desenvolvimento regional. Sinal expressivo disto reside na próxima geminação entre as cidades de Beja e Borja, cujo fio condutor será, além do património comum, a afinidade da sua estrutura agrícola, em que marcam presença o vinho e o azeite, sem esquecer o recurso às biotecnologias de vanguarda e a própria criação de rotas culturais ibéricas.
Um dos aspectos que mais chamou a atenção dos turistas espanhóis na exposição de Borja foi a grande diversidade da arte sacra portuguesa, que inclui manifestações estéticas e devocionais de verdadeira dimensão internacional, abarcando tanto a produção dos diferentes centros artísticos peninsulares e europeus como as obras de arte oriundas do Extremo Oriente (especialmente do Japão, da China e da Índia), de África e do continente americano. “Tão próximos e tão diferentes” foi um comentário muito ouvido nos núcleos expositivos. Outra dimensão bastante valorizada residiu no itinerário proposto, inspirado nos escritos teológicos de São Paulo, uma homenagem ao apóstolo que estendeu a sua evangelização ao território ibérico, no momento em que justamente se comemora, em toda a cristandade, o Ano Paulino.
Esta leitura foi sublinhada com enorme entusiasmo por um dos mais ilustres visitantes, Mons. Angelo Amato, Prefeito da Congregação para a Causa dos Santos, que se deslocou a Borja de propósito, no dia 3 de Agosto, para tomar conhecimento da exposição. Grande especialista em hagiologia e história, Mons. Amato analisou com grande interesse as pinturas, esculturas e relicários alusivos à vida de santos bem conhecidos da tradição cristã, manifestando-se surpreendido pela excepcional qualidade do património religioso português e transmitindo o desejo de visitar um dia, com tempo, as igrejas alentejanas e os seus tesouros de arte e fé.
A TVE e o canal autonómico TV Aragón dedicaram, tal como a Radio Nacional de Espanha (RNE) e as cadeias aragonesas de rádio, amplo destaque à exposição, que foi alvo de programas específicos nestes meios de comunicação. O mesmo aconteceu com a imprensa escrita, sendo de realçar as páginas que o principal diário aragonês, “Heraldo de Aragón”, consagrou à mostra. Entre as sementes desta iniciativa que ficaram no terreno da cooperação cultural e estratégica há que salientar a proposta de realização de uma outra exposição dedicada à Rainha Santa Isabel, princesa de Aragão e rainha de Portugal, no Palácio da Aljaferia, em Zaragoza, onde nasceu em 1271.
Diversas instituições aragonesas e navarras estão a preparar itinerários culturais que irão incluir Beja e o Baixo Alentejo nos seus percursos de turismo cultural, religioso e ambiental, pondo especial ênfase no culto de São Firmino, da Rainha Santa e de outros santos peninsulares muito venerados no Norte de Espanha.
Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja