Nacional

As questões complexas das Forças de Segurança

D. Januário Torgal Mendes Ferreira
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1. Não podemos ignorar a situação. Os últimos assassinatos de jovens agentes policiais levantam alertas muito sérios. A história vem de longe, e não me peçam que a conte nos seus amiudados capítulos. Desde sempre, por motivo das minhas funções, chamei a atenção, privada e publicamente, para as questões complexas das Forças de Segurança. Sinto-me à vontade para, em ordem construtiva, (sempre, e em tudo, por motivos positivos) tecer as considerações que aqui vão. 2. Não peçam à Polícia de Segurança Pública (à PSP, como é, comumente conhecida) que se substitua aos poderes do Estado, através do Governo “pro tempore”. Compete à governação traçar directrizes, acentuar orientações, estabelecer programas e visar metas indiscutíveis. Não julguemos que a melhor e única segurança consiste em colocar um agente policial junto de cada um dos cidadãos… Também nunca seremos – felizmente! – um país armado até aos dentes, com escudos de resistência, em cada mescla de terreno nacional… A Polícia não poderá substituir as fragilidades da governação ou da sociedade com moléstias, como a actual. Permitir-se o à vontade da droga, das “casas de divertimento” (contra as quais nada tenho, a não ser o apontar do mau gosto da raça decadente…), de alguns espaços conhecidos da noite, onde, através do álcool e de demais meios de reacção artificial, tanta gente enverga o fato da irresponsabilidade, é dar origem a ambientes de risco, como são denominados por quem os bem conhece, por motivo de investigação. Para além destas referências, parece-me que o mais grave é o facto de, em capítulos sucessivos, ser agitada a opinião pública portuguesa com questiúnculas, desvios e injustiças que moram na “habitação” da P.S.P, que eu conheço, e que sempre me surpreendeu com a sua boa e honesta vontade! Em 29 de Setembro de 2004, em cuja data se celebrava S. Miguel Arcanjo, patrono da corporação, dirigi-me às autoridades da tutela (da altura), solicitando-lhes que a agitação de casos e tensões da P.S.P., sempre publicitadas pelos meios da comunicação social, tivessem uma solução final. Já cansa ouvir sempre o mesmo “disco”. E, logo, de coisas anómalas e pouco recomendáveis, como injustiças e consequências de mau mando. Pois bem. O que referi há dois meses, é o que, hoje mesmo, trago aqui à atenção de quem me lê. Confio que há-de aparecer quem tenha os ouvidos despertos. Custa escutar certos desmandos. Mas é preferível acolhê-los do que levar, depois, caixões aos ombros. Temos visto e ouvido. Por fim, não posso atirar para trás dos ombros os queixumes e os recados: “aqui no nosso bairro não aparece a polícia”; “aqui na nossa rua, os carros da polícia passam em alta velocidade, por causa dos drogados”; “fui à esquadra da minha freguesia e o senhor polícia respondeu-me: se ninguém nos defende, como é que nós vamos defender quem foi atacado? É um perigo denunciar-se criminosos… Dentro de momentos, aí estão eles, livres e triunfantes”. Não posso deixar de registar o que vai escrito, como em acta de reunião singular! A mais realista homenagem às mulheres e homens da P.S.P., aos seus mortos e às suas queridas famílias é concorrer para uma corrente de opinião pública que suscite a resolução de casos humanos, entre os quais, os da defesa e segurança de um Estado de direito. Roubar a vida é um crime. Da forma como o saque tem sido representado, é muito mais grave. É uma vilania. Não fujamos das situações concretas… D. Januário Torgal Mendes Ferreira Bispo das Forças Armadas e Forças de Segurança Lisboa, 01 de Abril de 2005


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