Nacional

Assinalar a igualdade e a complementaridade

Lígia Silveira
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Maria Teresa Ribeiro considera que há ainda caminho a percorrer para eliminar o que se opõe à dignidade da mulher

Assinala-se este Sábado, internacionalmente, o Dia da Mulher. Dia em que a sociedade clama a igualdade entre géneros e pede o reconhecimentos de direitos. Poderá o imperativo da igualdade entre os géneros masculino e feminino conduzir a um empobrecimento grande da condição da mulher? Maria Teresa Ribeiro, Docente de Psicologia na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa e colaboradora do Instituto de Ciências da Família da Universidade Católica Portuguesa, considera que sim. Esta mulher, professora, considera que o “chamamento para a igualdade dos géneros tem o grande risco de anular as diferençasâ€. O caminho não pode ser feito através do “extremar diferenças pois o risco é que a relação entre os géneros seja demasiado pautada pela rivalidade e luta pelo poderâ€. No entender da docente faz todo o sentido o respeito pela especificidade de cada um, “percebendo a complementaridade e reciprocidade entre homem e mulherâ€. Recentemente, Maria Teresa Ribeiro esteve no Vaticano a representar a Conferência Episcopal Portuguesa num Congresso que propunha celebrar os 20 anos da Carta Apostólica Mulieris dignitatem. O tema deste encontro foi “Mulher e Homem – o humano na sua inteirezaâ€. “Claramente se pretendia acentuar o respeito pela diferençaâ€, mas percebendo que “todos temos a ganhar com a complementaridadeâ€. Maria Teresa Ribeiro lembra que a origem da criação une homem e mulher. “Do ponto de vista ontológico há uma igualdadeâ€, mas somos diferentes “geneticamente e biologicamenteâ€, o que traduz numa diversidade em traços psicológicos e em comportamentos, “que não são melhores ou piores comparativamente, mas complementaresâ€. O que está em causa “é a unidade entre os dois, pois há um chamamento à comunhãoâ€. Iguais ou inferiores Algumas ideologias dominantes na sociedade “estão interessadas em ofuscar a distinção entre homem e mulherâ€, afirma a docente de psicologia. Numa luta pela igualdade, onde se inserem também comportamentos machistas, grande parte da luta pela dignidade da pessoa “acaba na definição da identidade da mulher e na identidade do homemâ€. Ao pretender eliminar as diferenças sexuais que estão de facto inscritas na natureza humana, considerando-as unicamente culturais, “não se luta pela igualdade, chegando mesmo a promover a inferioridade das mulheres e homensâ€. Maria Teresa Ribeiro considera que há ainda muitos aspectos a percorrer, pois há muitos áreas que se opõem à dignidade da mulher. “Há uma mentalidade machista que ignora a novidade trazida pelo cristianismo que clama a igualdade, dignidade e responsabilidadeâ€, mas não se pode esquecer que em muitas culturas a mulher vive descriminada. Actos de violência contra a mulher e a forma como o género feminino é tratado na publicidade e na indústria do consumo são exemplos que persistem em sociedades tanto orientais como ocidentais. Sobre o papel da mulher dentro da Igreja, Maria Teresa Ribeiro lembra que “tudo está aberto às mulheres nos dias de hojeâ€. Esta é uma novidade do nosso tempo, porque deriva de uma luta, no entanto “as mulheres têm talentos que não estão a ser usadosâ€. A participante no Congresso no Vaticano recorda uma fase usada no plenário que indicava “às mulheres, nós humanos devemos tudoâ€. “Perceber isto, tem de ter implicações na forma como a mulher é acolhida e entendida na Igrejaâ€. Maria Teresa Ribeiro enfatiza o apelo às mulheres para se colocarem ao serviço da família, do apostolado no mundo, no mundo do trabalho, da cultura, da sociedade e da política, numa perspectiva designada por João Paulo II de «génio feminino». As capacidades intelectuais e a capacidade de “conciliar razão e sentimentoâ€, é “a novidade feminina, que procura perceber o que muitas vezes é invisívelâ€. Ao longo da história da Igreja, a mulher tem desempenhado um papel importante como educadora. “Este aspecto é de continuar a salientar, tanto na família, como nas escolas e universidades, em instituições assistênciais, nas paróquias, em movimentos ligados à Igreja, em hospitaisâ€, exemplifica, lembrando que “tudo isto está ao alcance de todas as mulheres†e que estas funções “são efectivadas todos os dias, nas tarefas mais simplesâ€. Para além do aspecto da mulher educadora, há também a dimensão religiosa, “numa forma muito específica de transmitir a féâ€, reveladora de uma sensibilidade para o transcendente. O Congresso no Vaticano foi fundamental para “apelar e despertar consciências para o papel que as mulheres podem ter para a edificação das estruturas económicas e políticas mas que sejam mais ricas de humanidadeâ€, salienta a docente. “Há muitas mulheres capazes de defender o primado do ser em relação ao fazerâ€. Maria Teresa Ribeiro salienta que não houve eco para que tanto homens como mulheres desempenhem o mesmo papel dentro da Igreja. “Não por fechamento, mas porque se compreende que são papeis diferentes, que isto não significa ser inferior, mas que ambos têm missões específicasâ€. “Não se trata de uma rivalidadeâ€. Por isso a docente aponta que o papel da mulher não passa por exercer o sacerdócio, mas por muitas outras coisas importantes. A mulher na família A maternidade e a família são grandes desafios para a mulher. Maria Teresa Ribeiro considera que “não estão a ser protegidas e valorizadas pela sociedade e pelas políticasâ€. A maternidade e a família “são dádivas, mas é também um serviço prestado à comunidadeâ€. A mulher pode ter um papel fundamental na “revalorização do casamento, da família e da maternidadeâ€. Há conquistas notáveis, mas “constatamos mulheres exaustas que querem acumular todos os papéisâ€, indica. A maioria das mulheres trabalha e quer ter uma família, tentando conciliar tudo. Isso só é possível se “houver da parte dos homens uma compreensão do seu papel fundamental, na descoberta do que é a paternidadeâ€. “As mulheres serão melhores mães se eles forem melhores pais também. Se forem presentes e não colocarem o trabalho acima da famíliaâ€. Maria Teresa Ribeiro indica que grande parte dos problemas sociais que existem hoje em todo o mundo, estão relacionados com estruturas familiares que se vão desfazendo, por isso “não basta reconhecer, esta reflexão tem de passar por actos, que implica a partilha de tarefas, de responsabilidades na educação de uma famíliaâ€. Maria Teresa Ribeiro indica que o Dia Internacional da Mulher deve servir, para além de despertar consciências e chamar a atenção para a necessidade de mudanças, para “transmitir uma mensagem positivaâ€. “É possível ser mulher e homem de acordo com os desígnios de Deus, respeitando a especificidade de cada um, e este projecto gera famílias felizesâ€.


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