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«Atender as pessoas não é um problema de orçamento mas de humanidade»

Luís Filipe Santos
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Alertou o Pe. Vítor Melícias, presidente da União das Misericórdias Portuguesas, no congresso «Envelhecimento - Novos desafios do século XXI»

A sociedade portuguesa confronta-se com um grave problema social: o fenómeno do envelhecimento. Para reflectir sobre «Envelhecimento – Novos desafios do século XXI», a União das Misericórdias Portuguesas (UMP) organizou um congresso, de 5 a 7 de Maio, na Torre do Tombo, em Lisboa, para que se possam “prevenir as situações de degradação económica dos idosos, a situação de isolamento e a situação de falta de saúde” – disse à Agência ECCLESIA o Pe. Vítor Melícias, presidente da UMP. Vindas de um “glorioso passado” com mais de 500 anos de respostas humanizadas às necessidades de cada tempo e cada lugar, as misericórdias são “um fenómeno especifico e exemplar da solidariedade portuguesa” – sublinhou o Presidente da União das Misericórdias Portuguesas. Associações que resultam do “voluntariado” e da “boa vontade” das populações locais, estas são muitas vezes confundidas com a Misericórdia de Lisboa “em relação às questões dos jogos” – disseram alguns provedores de Misericórdias presentes no congresso. Esta confusão – explica o Pe. Vítor Melícias – deriva da “falsa ideia que as Misericórdias são instituições do Estado ou do sector público”. Embora, o Estado tenha “obrigações” com os cidadãos que as Misericórdias apoiam. O Estado “deve financiar” as pessoas que são acolhidas nas chamadas “respostas sociais”. Em relação aos jogos sociais, o sacerdote franciscano realça “que existe a ideia que o resultado destes é para as Misericórdias. Não é verdade”. Uma parte do lucro é atribuído à Misericórdia de Lisboa para exercer “a acção social” na cidade. As outras Misericórdias “não recebem directamente nenhuma participação” nesta área. Para as várias misericórdias exercerem o seu trabalho social existem “acordos negociados anualmente” com as entidades governamentais. Na negociação nem sempre há sintonia de pontos de vista porque “o Estado rege-se muito por critérios financeiros” – disse o Pe. Vítor Melícias. E avança: apesar de algumas divergências “têm-se dado passos muitos positivos”. Primeiro com o Pacto de Cooperação para a Solidariedade – estabelecem-se as grandes regras da cooperação – e, em segundo lugar, as Misericórdias têm protocolos com vários departamentos estatais para o financiamento, apoio e ajudas técnicas. Apesar dos acordos “é preciso rever os apoios prestados e ter como base as necessidades e não as capacidades do orçamento” – disse o Pe. Vítor Melícias. “Atender as pessoas não é um problema de orçamento mas de humanidade” – salienta o director da UMP. A fotografia do Observatório O Observatório de Idosos e Grandes Dependentes, organismo da UMP, produziu um estudo sobre a realidade do envelhecimento - «As Misericórdias Portuguesas na Assistência aos Idosos» -, será apresentado amanhã, que “nos leva a considerar a vantagem de valorizar uma nova dimensão deste Observatório: dimensão europeia ou comunitária”. A UMP tem contactos avançados com outros países da União para “que haja na Europa um observatório sobre envelhecimento” – referiu o Pe. Vítor Melícias. E adianta: “está provado que há um envelhecimento da população portuguesa e agravar-se-á até 2050”. É preciso preparar o futuro. Com a criação deste organismo “tirámos uma fotografia da realidade” – disse à Agência ECCLESIA Manuel Lemos, director do Observatório de Idosos e Grandes Dependentes da UMP. A fotografia da realidade das Misericórdias “não é negra” o que é mais negro è a “incapacidade que estas sentem junto da população de responderem ao desafio crescente das questões colocadas” – disse. As pessoas “não percebem bem” o porquê das Misericórdias “não responderem mais”. Com os dados recolhidos “teremos de prepararmo-nos para responder melhor ao apoio domiciliário; aos internamentos e o aumento das questões de saúde” – disse Manuel Lemos. Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) estão cerca de 53 mil idosos em lares, “destes entre 50 a 60% estão nas Misericórdias” – conclui o referido director. Os números revelam a importância que as Misericórdias exercem na sociedade portuguesa.


União das Misericórdias