Entre a população portuguesa registam-se índices preocupantes
Estatísticas recentes mostram que a população portuguesa está a envelhecer cada vez mais, numa tendência que se verifica também em quase todo o actual contexto europeu. Resultado, por um lado, do aumento da qualidade de vida das pessoas, mercê dos contributos da medicina, por exemplo; mas, por outro, devido à falta de nascimentos ou de famílias jovens. Situações que desafiam toda a gente, sem excepção, desde responsáveis pelos governos, até aos agentes da Igreja; e que já mereceram a atenção de estudiosos na área da bioética.
Segundo um estudo recente feito pelo Professor Henrique Silveira de Brito, do Centro de Estudos Filosóficos de Braga, “os últimos números referem que as famílias portuguesas têm uma média de 2,8 pessoas, por agregado familiar, ou seja, menos de três pessoas; quando ainda há pouco tempo o número era de 3,4 pessoas. Isto levanta questões no domínio da ética”. Por outro lado, “é preciso ter em conta que a população portuguesa tem no seu seio, na terceira idade, 16 por cento de pessoas com 65 anos ou mais.
Mas, há regiões portuguesas com taxas mais altas, por exemplo, na ilha do Pico, Açores, sobre as quais fiz um estudo. No Pico, entre os seus 15 mil habitantes, 22 por cento da população têm 65 anos ou mais”.
Além disso, considera ainda Silveira de Brito, “o facto de aumentar a idade da maternidade e de hoje ser comum as mulheres terem o primeiro parto aos 28 ou 29 anos, também levanta questões; basta falar com enferneiras obstectras ou com médicos da especialidade para saber os problemas que isto traz. Quando se pergunta sobre o fim da vida e sobre a parafernália de instrumentos que há para prolongar a vida, tudo isso põe questões sérias.
Cada vez mais teremos tecnologia avançada e, nestas circunstâncias, é indispensável reflectir sobre a bioética. Não quer dizer que essa reflexão venha resolver tudo, afinal, sempre se colocou esta problemática da vida e da saúde; aliás, já existia no velho código de Hipócrates. Hoje, temos de continuar essa reflexão perante as novos avanços da ciência”
Mercado com leis morais
Alargando o espaço da reflexão filosófica e científica acerca destas questões, Silveira de Brito lembra outra área em que a ética tem razão de existir, por exemplo, a economia: “É muito diferente pensar uma ética empresarial, quando o mercado é nacional ou global como hoje temos”, refere a propósito.
“Não concebemos a enomia sem mercado e este tem as suas regras. Mas, há uma pergunta que não se pode menosprezar: é se o mercado deixado à solta pode promover a justiça. Penso que não, porque o mercado é eficaz na produção de riqueza, mas ineficaz na sua distribuição e, portanto, é indispensável corrigir o funcionamento do mercado através de normas morais. Quais são essas normas? É preciso fazer uma reflexão, temos de ver concretamente qual é a situação e prudentemente tomar as decisões”, acentuou.
Por último, e em referência às próximas Jornadas de Bioética no Funchal, o Professor Silveira de Brito destaca a reflexão oportuna que se fará entre os especialistas e a assistência em geral: “Estou a pensar não só na classe médica e de enfermagem, mas também nos sociólogos, nos assistentes sociais, nos professores de todos os graus de ensino e nos políticos. Quando há poucos anos se levantou a questão dos cuidados paliativos, foi consolador ver que todos os políticos viam a importânca de se preverem estes cuidados...; só tenho pena que esses cuidados não tenham ficado expressos na Constituição.
Creio que esta reflexão tem um interesse transversal e é fundamental que seja promovida entre vários sectores, não apenas entre profissionais de saúde, mas na sociedade em geral”.