Baran Francisco Perestrello 01 de Julho de 2004, às 14:55 ... Um filme iraniano nos ecrãs portugueses O cinema iraniano, produzindo algumas dezenas de longas metragens por ano, começa a ser bem conhecido nos mercados ocidentais. Em Portugal tem tardado um pouco mais a sua entrada, embora algumas obras comecem a ter acesso ao circuito comercial. O Festival de Tróia (Festroia) tem contribuÃdo para a divulgação do cinema desta origem, tendo sido, em alguns casos, a porta de entrada que veio a permitir a estreia em data posterior. De forma geral os filmes iranianos revestem-se de uma grande qualidade formal. Na narrativa recorrem a um ritmo relativamente lento, o que levanta de imediato as suspeitas do espectador médio, mas conseguem manter motivos de interesse para que a acção se siga sem esforço. «Baran» é a mais recente incursão deste cinema, que em nada se assemelha à programação mais popular. «Baran» é um drama social que aborda a situação dos imigrantes clandestinos afegãos que trabalham na construção civil sem contrato de trabalho. Uma situação paralela à que hoje se verifica em Portugal com imigrantes de Leste, explorados sem escrúpulos e sem disporem de meios de defesa. Em «Baran» a ficção incide sobre as consequências de um acidente de trabalho com um desses trabalhadores ilegais, que leva a sua filha, disfarçada de homem, a tomar o seu lugar na obra para garantir o sustento da famÃlia. É um argumento simples, a que se adiciona uma componente romântica muito singela, que permite uma profunda análise de sentimentos e a definição de um quadro social muito complexo. Como é norma, o filme conta com imagens em que o cuidado estético é uma prioridade, servindo de fundo a um tratamento temático de grande sobriedade, não havendo, por isso, choques entre tema e forma cinematográfica, criando-se um todo muito apelativo. Fica, no final, um certo sentimento de amargura, pois o filme não deixa de fazer sentir o muito que falta caminhar para que se instale uma sociedade justa, em que os direitos humanos tenham o lugar que merecem. Francisco Perestrello Cinema Share on Facebook Share on Twitter Share on Google+ ...