Nacional

Bispo de Coimbra fala dos momentos marcantes do Sínodo

D. Albino Cleto
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“Também no nosso tempo, tal como nos séculos passados, os muitos mártires do Séc. XX sofreram corajosamente o martírio porque se alimentaram da Eucaristia”. Esta afirmação convicta feita no Sínodo por Andrea Riccardi, leigo fundador da Comunidade de S. Egídio, foi sendo concretizada em testemunhos que se ouviram durante os últimos dias, em que se escutaram os derradeiros depoimentos dos participantes. Entre eles impressionou-nos o daquele humilde padre do Casaquistão russo, que, com sua mãe, participava como criança na Missa, clandestinamente celebrada por sacerdotes, dois deles presos e mortos. Ou a narrativa daquele Bispo de Cuba, padre nos primeiros tempos da revolução, que, no campo em que estava retido com jovens católicos, se sentava com eles no chão, pelo escuro da noite, para celebrarem a Eucaristia. Enfim, juntando a estes depoimentos o testemunho de um casal que falou sobre o lugar da Missa na sua vida, bem como o de uma religiosa que sublinhou a importância da Eucaristia na sua vocação, e depois de escutadas 233 intervenções de Bispos, uma coisa ficou bem clara: a Eucaristia é o coração da vida da Igreja. Dar boa saúde a este coração é a finalidade do Sínodo. De facto, já nos tinha sido lembrado que esta Assembleia Sinodal não se destinava a reflectir questões teológicas, embora elas não sejam impedidas. As que surgiram, vindas sobretudo de países com forte presença protestante, dizem respeito à fé na presença real, à tese da transubstanciação e ao valor fundamental da Eucaristia como Sacrifício. O que se verificou, porém, ao terminar a segunda semana, quando se ouviram as sínteses dos 12 grupos de discussão, constituídos por afinidades linguísticas, foi que as propostas apresentadas são marcadamente de cunho pastoral. De entre elas destacam-se: a revalorização do domingo, o maior cuidado no estudo e apresentação da Palavra de Deus, a exactidão na catequese sobre a Eucaristia, a coerência entre a Missa e a vida bem como o compromisso social dos que comungam o Corpo de Cristo, a revisão do esquema das celebrações presididas por diáconos ou leigos. Estas e outras questões estão a ser apuradas na última semana, para que fiquem como “propostas” para consideração nas mãos do Santo Padre. Também aparecem questões delicadas, como a hipótese de ordenação de homens casados ou o impedir-se a comunhão eucarística aos divorciados recasados. Diga-se, porém, que a sensibilidade dos que falam, e livremente o fazem, é muito diferente do que se tem lido em certos jornais. Concluindo, repetirei: o importante é que os cristãos vivam a Eucaristia como fonte unificadora da sua vida. Certamente esta é uma prece que muitos Bispos fazem numa pequenina mas bonita capela, junto à grande sala das reuniões, onde o Senhor está exposto durante as horas livres. Como foi também o pedido insistente expresso por todos na hora de adoração da passada segunda feira, presidida pelo Papa na Basílica de S. Pedro. + Albino Mamede Cleto


Sínodo dos Bispos