Pastoral da família na Diocese contempla «casos difíceis»
Infelizmente as agressões contra a família e santidade do matrimónio tornaram-se mais frequentes e a reintrodução do tema do aborto e de um possível referendo, agitaram de novo as consciências. A legislação de alguns países permitindo o casamento de pessoas do mesmo sexo, afectou a concepção humana e cristã do casamento e a diminuição de nascimentos inquieta os próprios Estados, principalmente os da Europa, tendo alguns países chegado ao ponto zero de crescimento demográfico, ou até um pouco pior como a Itália e a Espanha, aproximando-se deles o nosso país.
O Plano para este terceiro ano contempla a Pastoral familiar nos casos difíceis, tratada na Exortação Apostólica Familiaris Consortio de Sua Santidade João Paulo II, nos números 77 a 85 (famílias dos emigrantes, matrimónios mistos, matrimónios à experiência, uniões livres de facto, católicos unidos só em matrimónio civil, separados e divorciados em segunda união, divorciados que contraem nova união e os sem família).
A carta pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa: «A família, esperança da Igreja e do mundo», trata do mesmo tema no cap. VI «A solicitude da Igreja traduzida em acções concretas».
O ensinamento do Magistério, principalmente dos Papas, neste campo é muito abundante. Aos sacerdotes e responsáveis pela pastoral familiar compete apresentar formas concretas de pastoral que levem essas famílias a terem confiança em Deus que os ama e a todos quer salvar, e a conseguir a tranquilidade e a esperança que é possível obter em situações tão difíceis, principalmente para o cônjuge inocente. Estas famílias não podem julgar-se abandonadas ou marginalizadas pela Igreja, embora esta não tenha uma resposta fácil, nem mesmo solução para a situação difícil, por vezes dramática, em que se encontram.
Para todas as famílias a Igreja procurará ter uma palavra de verdade, de bondade, de compreensão, de esperança, de participação viva nas suas dificuldades por vezes dramáticas…» (F.C. nº 65).
Debilidade da posição cultural
Infelizmente as agressões contra a família e santidade do matrimónio tornaram-se mais frequentes e a reintrodução do tema do aborto e de um possível referendo, agitaram de novo as consciências. A legislação de alguns países permitindo o casamento de pessoas do mesmo sexo, afectou a concepção humana e cristã do casamento e a diminuição de nascimentos inquieta os próprios Estados, principalmente os da Europa, tendo alguns países chegado ao ponto zero de crescimento demográfico, ou até um pouco pior como a Itália e a Espanha, aproximando-se deles o nosso país.
Outros dados sobre a família são tão graves que é difícil tocar neles, como seja o aborto selectivo em certas regiões da Índia e da China. Por razões culturais e económicas, muitas crianças não têm o direito de nascer por serem do sexo feminino. Dentro de alguns anos vão faltar na Índia cerca de 15 milhões de mulheres, problema de uma dimensão tão vasta que representará um perigo para a sociedade.
De algumas dezenas de anos para cá, as ideias de Malthus, mesmo sem o conhecimento da pessoa, alastraram e influenciaram fortemente os Estados e as famílias. Malthus, um pastor da igreja anglicana, defendia a tese de que o mundo não tinha mais comida suficiente para manter a sua população e que era necessário diminuí-la. Com os anticoncepcionais, a manipulação química, mecânica e outros instrumentos, a população nos países mais desenvolvidos chegou aos extremos que nos preocupam.
Acreditar na família
A pastoral familiar tem como prioridade acreditar na família, em todas as famílias. As famílias devem ser ajudadas a acreditar naquilo que são, a reconhecerem o mistério de comunhão que trazem em si e a missão a que são chamadas na Igreja e na sociedade.
Devemos acreditar na família, tendo a convicção que ela não é perfeita. Todos conhecemos as fragilidades e rupturas de famílias, mas não devemos esquecer que existem óptimas famílias em todas as idades, mesmo entre os jovens, atentas à sua missão eclesial e social. Elas mostram que podemos olhar para o futuro com optimismo e confiança.
Contudo devemos acreditar na família por um mistério que ela traz dentro de si, pela realidade teológica que ela representa. Através da família podemos contemplar o rosto de Deus. Cada uma delas exprime um traço do amor que circula na Santíssima Trindade, ela torna sacramentalmente presente o amor de Deus na história humana.
Devemos olhar para cada família pensando no mistério profundo que se esconde em cada uma delas. Acreditamos na família cristã porque Deus se comprometeu com os esposos no sacramento do matrimónio, não a abandona porque é um Deus fiel, mesmo quando o projecto familiar humano falha. Ao reflectir sobre a família não podemos fazer uma pastoral de elite. A pastoral deve ocupar-se de todas as famílias, pensando que onde há um traço de amor aí se encontra Deus. Um par humano que se ama, mesmo sem o saber nem pensar, está já a percorrer um caminho de Deus. Nenhum erro humano é tão grave que não possa ser reparado.
A pastoral familiar começa por acreditar nela, condição indispensável para construir no seu seio a Igreja de Jesus Cristo.
Ajudar as famílias em dificuldade de relacionamento
Se há famílias que rompem os laços matrimoniais, há outras que se arrastam com dificuldades de relacionamento, que se prepararam espiritualmente, começaram com entusiasmo mas não encontraram um apoio nos primeiros anos difíceis do matrimónio. O par humano consolida-se nas provas, mas para isso é necessário que os esposos tenham relações construtivas que, após um confronto ou conflito, se abram a novos horizontes para a relação conjugal e a responsabilidade de pais.
Algumas crises aumentam num clima de solidão, numa vida demasiado agitada para realizar muitos sonhos, para além da rotina quotidiana para educar os filhos. Uma família em crise não consegue normalmente sair dela por si própria. Aqui abre-se um espaço novo à responsabilidade da comunidade cristã e da pastoral familiar.
Antes de tudo deve-se prevenir, já no tempo de preparação para o matrimónio, e continuar com um acompanhamento adequado nos primeiros anos de matrimónio.
A pastoral familiar deve atender às famílias em crise de relações interpessoais. Não se trata de um problema privado, atinge toda a comunidade em maior ou menor grau, fere pessoas que são um bem precioso de toda a paróquia. Hoje os esposos em dificuldade aceitam mais facilmente ser ajudados, tanto mais que uma crise pode transformar-se numa oportunidade de crescimento.
Acolher as famílias em situações difíceis
A Igreja é chamada a dar mais atenção às famílias em situações difíceis ou irregulares – separados, divorciados, recasados com fé.
Conhecemos as posições da Igreja em relação a estes casos difíceis e as informações erradas apresentando a Igreja com severidade para os lares que romperam os laços matrimoniais. Há quem pense que uma separação na família ponha aquelas pessoas fora da Igreja e impeça a vida sacramental.
A comunidade cristã deve ser educada para um acolhimento na verdade e na caridade para com estas pessoas. São situações que devemos olhar com respeito e afecto, evitando juízos sumários que, muitas vezes, são injustos e cheios de presunção. Devemos optar por uma acção pastoral de acolhimento e de misericórdia para com todos.
Perante os separados recasados e com fé devemos evitar qualquer forma de desinteresse ou abandono. Eles continuam a ser cristãos e membros do povo de Deus. A comunidade paroquial deve considerá-los seus filhos, tratá-los com caridade, orar por eles, encorajá-los e apoiá-los na fé e na esperança, e evitar julgar o íntimo das suas consciências, onde só Deus entra, conhece e julga. A caridade pastoral leva a acolher estas pessoas e acompanhá-las na descoberta do amor de Deus que transforma e regenera.
Funchal, 20 de Novembro de 2005
† Teodoro de Faria, Bispo do Funchal