D. Irynei Bilyk, Bispo da diocese de Buchach: uma Igreja a renascer e a libertar-se do medo
Buchach é uma diocese ucraniana com apenas 3 anos de existência. D. Irynei Bilyk é, desde essa altura, Bispo dessa região diocesana, num país que ainda vive com os fantasmas de um passado recente em que a sua fé era, quase sempre, hostilizada. Conversámos com ele, em Évora, por onde passou recentemente.
Depois de 1989 e com a divisão da grande União Soviética em vários países, a Ucrânia levantou-se aos poucos, mas as carências económicas são demasiadas e são muitos os emigrantes deste país espalhados por todo o mundo.
D. Iriney recorda o passado, sempre com um sorriso, enquanto fala, mas com a tristeza da memória estampada nos olhos e recorda momentos difíceis em que ter fé era quase um crime. Celebrações litúrgicas que aconteciam dentro de casas particulares completamente fechadas, na penumbra do medo; o verdadeiro medo de, muitas vezes, os homens e mulheres assumirem a sua fé; os riscos de vida a que uma opinião contrária poderia ser severamente sancionada.
Falámos com D. Iriney antes do Natal católico. Passou, durante 4 dias, pela diocese de Évora, para visitar os dois párocos ucranianos a trabalhar na Arquidiocese de Évora. Veio também dar uma palavra de esperança e alento a tantos imigrantes do seu país nesta região.
D. Irynei Bilyk conhece os padres Ivan e Antoniy da altura do Seminário, noutra diocese, pois Buchach não existia ainda, como tal. O Bispo que veio do leste, sabe das dificuldades que levam os seus compatriotas a deixar o seu país. Muitos nem ganhavam 13 Euros por semana, a média na Ucrânia.
Mas isto provoca um problema e dilacera socialmente aquele país. Os jovens entre os 20 e os 40 anos saem daquele país, deixando os mais velhos e crianças. A situação económica apenas desenvolverá para algo melhor com mão-de-obra, e as crianças ainda vão demorar algum tempo a crescer.
E até dentro da Igreja a situação passa um pouco por aí. Com o rito Bizantino e o rito Ortodoxo a marcar posições no território ucraniano é ainda assim difícil saber quem são os “praticantes” ou não. A verdade é que poucos ainda admitem a sua fé. O medo continua a fazer parte do dia-a-dia daquele povo, se bem que já tenham passado 14 anos sobre a queda do muro. Mas a esperança renova-se nas crianças.
Mas o problema social vai mais além. Existem famílias quase totalmente divididas. Os pais estão no estrangeiro. Buscam a hipótese de auferir algum dinheiro para depois voltar ao seu país e poderem ter uma vida digna.
Mas muitos são explorados no países onde estão imigrados. Muitos não chegam a ver venci- mentos. Muitos estão ilegais. Muitos saltam de país para país, sem nunca parar. Muitos afastam-se de Deus e da Igreja. Muitos não têm esperança de melhorar as suas condições.
D. Irynei, ainda assim, fala em esperança. Sabe que a sua presença pode ser a palavra amiga que faltava.
E um dos caminhos poderá passar pela inclusão de seminaristas ucranianos, de futuro, em Portugal, como já acontece em Itália. Isto para que possam aprender a língua enquanto estudam, para depois ficarem a trabalhar no país.
Quanto a Évora, a situação é aceitável, mas também está difícil. Há condicionalismos legais que podem não ser propícios a este fim. Mas o tempo o dirá.
Até lá, D. Irynei Bilyk vai continuar o seu périplo pelos países em que estão os seus compatriotas em busca de uma vida melhor.
Semanário “A Defesa”, 07/01/2004