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Bracarenses definem João Paulo II como «arauto da tolerância ecuménica»

Diário do Minho
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Os bracarenses viveram de forma sentida a morte de João Paulo II, salientando de forma especial o legado que deixou na área do diálogo inter-religioso. Em relação ao seu sucessor, esperam que o futuro Papa saiba perceber os problemas das pessoas e seja um acérrimo defensor da paz. Para a enfermeira Maria José, João Paulo II foi um Papa que «marcou o mundo pelo seu carisma vincado, embora dual». Por um lado, fala «a sua absoluta coerência relativamente aos princípios da Igreja, que se traduziu numa posição fechada e intolerante face à realidade, nomeadamente em relação ao papel da mulher na Igreja e à utilização dos contraceptivos». Por outro lado, refere a sua «extrema simpatia e bondade, espelhadas na face e forma de comunicar, bem como o papel de arauto da tolerância ecuménica, visível nas inúmeras viagens e contactos que fez pelo mundo». Maria José gostaria que o sucessor de Karol Wojtyla fosse «mais aberto às transformações do mundo actual», sem deixar de seguir os princípios da Igreja Católica, «africano ou sul-americano». Para Marco António, de oito anos, e Luís Miguel, de 11 anos, João Paulo II «era um Papa espectacular e fixe, que amava e ajudava todas as pessoas». «Ele foi um amigo das crianças, ensinando-nos a ser bons, a rezar e, também, a amar muito Nossa Senhora», declaram. Luís e Marco gostariam que o futuro Bispo de Roma «fosse uma pessoa com qualidades, que saiba perceber os problemas das pessoas, olhe pelos países mais pobres e ajude a acabar com as guerras no mundo». Daniel Coelho, aluno do 10.º ano disse que João Paulo II «foi e será um amigo inesquecível dos jovens; um grande Papa, que nos vai deixar marcados pelo seu testemunho de paz, humildade, fortaleza de espírito e abertura a outras religiões». Marina Nascimento, estudante de Arquitectura, considera que a morte do Papa do «olhar meigo e sereno» é a «perda de uma personalidade importante a nível de culto e de crença». O facto de se ter mantido «consciente e lúcido» na luta contra a doença foi o que «mais comoveu» a jovem. «Vê-lo assim fez-me pensar em muitos outros doentes de Parkinson e idosos que não são acompanhados e também o mereciam», afirmou. Em relação ao sucessor, Maria Nascimento refere que devia ser «igual ou melhor ainda, porque João Paulo II foi o Papa dos jovens». «Tratava-nos como jóias dele, foi quase como um avô para nós. Conseguiu chamar os jovens em massa», explicou. Nessa linha, defende que o futuro Sumo Pontífice deve ser «alguém que cative os jovens, lute pela paz e seja capaz de fazer o mesmo ou mais que João Paulo II. Sobretudo, que seja ouvido pelos governantes das nações». Segundo Rui Lopes, aluno do 8.o ano no Seminário de Nossa Senhora da Conceição, João Paulo II foi «um homem exemplar para o mundo, o modelo de que nos devemos unir contra a guerra, além de que uniu as religiões e as nações». Rui considera que a cadeira de S. Pedro «deve ser assumida por alguém com um perfil aproximado ao do Totus Tuus». Padres destacam humildade O padre José Duarte, capelão da igreja de Santa Cruz, considera que o futuro Papa deve dar continuidade aos caminhos abertos durante o pontificado de João Paulo II. Do Papa polaco, prefere salientar a sua humildade como pessoa e a sua fé como Chefe de Igreja. O sacerdote não tem qualquer preferência sobre quem deverá suceder a João Paulo II. «O que é preciso é que seja escolhido por Deus», frisou. Para o padre Manuel Losa, sacerdote jesuíta da comunidade da Faculdade de Filosofia, «a proximidade ao povo, aos jovens, aos que sofrem e aos mais carenciados», constituem os traços mais marcantes do Papa devoto de Fátima. Sobre a sucessão de João Paulo II, o sacerdote não revela qualquer preferência, mas deseja que seja «uma pessoa na linha do Papa polaco, mas mais novo, para ser mais flexível, para mudar algumas coisas que na Igreja, apesar de tudo, deviam mudar». O padre José Manuel Ribeiro, director da Comissão de Arte Sacra e Obras da Arquidiocese de Braga, diz que «João Paulo II impressiona, sobretudo, pela humanidade, que foi talvez o traço mais característico dele, porque foi capaz de falar para fora da Igreja». «Porque às vezes a Igreja tem um discurso fechado, excessivamente eclesial, que é entendido pelos cristãos, mas que dificilmente passa para quem está fora da Igreja». E o Papa conseguiu-o de uma forma excepcional nos gestos, sinais, testemunhos que deixou. Inclusive, conseguiu-o nas palavras que dirigiu aos não-católicos e aos não crentes, e isso foi talvez o mais fascinante e o mais admirador da vida dele».


João Paulo II