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Brexit: «Não podemos desistir» da Europa, considera cardeal-patriarca de Lisboa

Agência Ecclesia
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(Lusa)
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D. Manuel Clemente e Adriano Moreira falam na necessidade de salvaguardar projeto de União

Lisboa, 28 jun 2016 (Ecclesia) – O cardeal-patriarca de Lisboa admitiu hoje que tem “pena” do resultado do referendo que ditou a saída do Reino Unido da União Europeia (UE) e pediu que os Estados-membros rejeitem a tentação de “desistir” do projeto comunitário.

“A Europa é um projeto bonito da qual não podemos desistir, garantiu-nos várias décadas de paz, o que não é muito vulgar na longa história europeia”, disse D. Manuel Clemente à Agência ECCLESIA.

“Os problemas que existem são melhor resolvidos dentro do que fora”, acrescentou o cardeal, em declarações à margem da apresentação do novo livro do professor Adriano Moreira – ‘Portugal e a Crise Global - Só a Águia Voa Sozinha’.

O patriarca de Lisboa considera que faz sentido continuar a evocar as raízes cristãs da Europa, porque “mais lembradas ou mais esquecidas” existem.

“[As raízes cristãs] motivam muitos cidadãos europeus no sentido da construção de um continente que nos contenha a todos e  também nos projete como identidade particular no mundo”, desenvolveu D. Manuel Clemente, recordando que a globalização partiu de Portugal e como europeus existe “uma particular responsabilidade” nesse sentido.

Já o professor universitário Adriano Moreira observou que depois do resultado do referendo que ditou o ‘Brexit’, “o imprevisto está à espera de uma oportunidade”.

À Agência ECCLESIA, o estadista e politólogo comentou que há dois factos que lhe chamam à atenção: o facto de o governo inglês, principalmente primeiro-ministro, que inscreveu o plebiscito “por razões publicitárias” não esperava que a conclusão “pusesse em perigo a coroa britânica”, devido aos “separatismos anunciados” da Escócia e Irlanda do Norte.

“Isso interessa muito à Europa pela razão de que o grande conflito que neste momento multiplica as direções dos países é o conflito entre a segurança e o humanitarismo. A Inglaterra é a maior força militar da Europa e, portanto, vai ter problemas com a NATO que acho que são sérios”, desenvolveu Adriano Moreira.

O professor universitário de Ciência Política e Relações Internacionais e antigo presidente do CDS-PP explica que o segundo aspeto se refere ao facto de a reunião dos seis países fundadores da UE se terem reunido sem os outros, “como se fossem os curadores da Europa”.

“A Europa não tem curadores, tem herdeiros, 27, sem benefício de inventário”, observou Adriano Moreira.

Os eleitores da Escócia, Inglaterra, Irlanda do Norte e País de Gales decidiram na quinta-feira, dia 23 de junho, que o Reino Unido vai sair da União Europeia, depois de o 'Brexit' ter conquistado 51,9% dos votos no referendo.

CB/OC



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