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Cancro/Espiritualidade: «No meio da escuridão, descobrir um Deus que ama e sustém»

Agência Ecclesia
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Capela do Hospital de São João (pormenor), Porto
Capela do Hospital de São João (pormenor), Porto

Mariana Abranches Pinto integra grupo cristão para pessoas com doença grave ou crónica

Fátima, 30 mai 2017 (Ecclesia) – Mariana Abranches Pinto integra o grupo ‘Ao 3.º Dia’, uma comunidade de pessoas com doença grave ou crónica, e destaca a importância da espiritualidade para “dar sentido” ao sofrimento.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, recorda como a sua fé foi essencial perante as provações que bateram à porta, desde um cancro na mama ao drama da sua filha pequena, que teve de fazer também quimioterapia entre os dois e os quatro anos.

“Foi assim tudo ao mesmo tempo. E no meio dessa escuridão fui descobrindo um Deus mais frágil, que não livra das doenças, que não tira os problemas mas que ama e sustém”, conta Mariana Abranches.

Perante a doença, começaram a surgir “aquelas questões principais da existência humana”, que as pessoas muitas vezes “afastam” ou andam “alienadas delas”.

“Porque é que estou aqui, qual é a razão deste sofrimento, será que vou morrer, será que vou sofrer, e onde é que está Deus no meio disto tudo. Surgem imensas perguntas, e surgem medos. E a única forma de combater o medo é falar dele a outros, a outros que sabem ouvir, a outros que estão a fazer as mesmas perguntas”, realça.

Foi neste sentido que Mariana Abranches fundou o grupo ‘Ao 3º dia’, um espaço onde pessoas que também partilham do mesmo sofrimento podem partilhar o seu testemunho, as suas ideias sobre o que estão a passar.

O nome desta comunidade remete para a ressurreição de Jesus, que segundo o Evangelho aconteceu ao terceiro dia depois da sua morte. 

 “Existimos há quatro anos e tem sido um caminho muito profundo, muito bonito, de comunhão. O objetivo é viver o melhor possível essa realidade, animarmo-nos uns aos outros”, realça a arquiteta paisagista, de 45 anos.

No grupo estão pessoas com cancro, com Parkinson, com esclerose múltipla, artrite reumatoide, com variadas doenças, que partilham também a fé cristã.

Mais do que a sua doença, a situação da sua filha, hoje já restabelecida, foi a maior provação que enfrentou.

No entanto, a sua fé e a caminhada no grupo mostrou-lhe que “o que interessa é a maneira como se vive” as dificuldades, e perceber que existe um Deus que “ama, que é ternura”.

Sobre a forma como hoje o mundo da Saúde, e da Pastoral da Saúde da Igreja Católica, lidam com as pessoas com doença grave ou crónica, em final de vida, Mariana Abranches considera “que é precisa uma nova linguagem”

“E falo muito quando nos dizem ‘tens que acreditar, Deus fecha uma porta, abre uma janela, Deus só te dá o que precisas’. Que imagem de Deus é que se está a transmitir quando dizemos isto a uma pessoa que está frágil e que está doente?”, questiona a fundadora do grupo ‘Ao 3.º Dia’.

“Será que Deus anda mesmo a enviar doenças, a fechar portas, a abrir janelas, eu não acredito nisso. Acho que a doença existe, faz parte da vida, o sofrimento, faz parte da vida estar doente, vem no pacote da vida. E Deus está nisso mas a amar-nos e a sustentar, e é muito importante isto”, conclui Mariana Abranches.

JCP



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