Cardeal diz que Átrio dos Gentios foi «surpresa»
Iniciativa decorreu em Guimarães e Braga, reunindo centenas de pessoas em volta do tema «O Valor da Vida»
Braga, 17 nov 2012 (Ecclesia) – O presidente do Conselho Pontifício da Cultura (CPC), organismo da Santa Sé, revelou à ECCLESIA a sua “surpresa” pela forma como decorreu em Guimarães e Braga o Átrio dos Gentios, projeto de diálogo entre crentes e não crentes.
“Há duas dimensões que não esperava: por um lado a multiplicidade de intervenções e de temas; por outro, porque esta foi a primeira vez que o átrio se construiu, de forma grandiosa, exclusivamente pela diocese, numa arquitetura autónoma”, disse o cardeal Gianfranco Ravasi, no final do evento.
Segundo este responsável, a sessão portuguesa do Átrio dos Gentios abrangeu “quase todo o horizonte da cultura, da humanidade, da sociedade, da espiritualidade contemporânea”.
O cardeal italiano observou que o debate foi “transversal” porque o tema escolhido, ‘O Valor da Vida’, permitiu superar as divergências que muitas vezes surgem entre crentes e não crentes sobre “o tema do mistério, do divino, do remoto”.
“Todos somos seres vivos, com uma mesma consciência, liberdade, desejo de colocar perguntas, pelo que somos muito iguais”, precisou.
Antes de deixar Portugal, D. Gianfranco Ravasi desafiou os católicos a terem “olhos abertos sobre o mundo”, com solidariedade e também na promoção da justiça, mesmo que isso exija “palavras duras”.
O responsável falou ainda num país "particularmente vivo" do ponto de vista cultural e não apenas religioso.
Bento XVI enviou uma mensagem aos participantes nesta sessão do Átrio dos Gentios, na qual convidou crentes e não crentes a “afirmar o valor da vida humana sobre a maré crescente da cultura da morte”.
“Seria bom se os não-crentes quisessem viver ‘como se Deus existisse’. Ainda que não tenham a força para acreditar, deviam viver na base desta hipótese; caso contrário, o mundo não funciona”, escreveu.
A iniciativa foi inaugurada na sexta-feira, em Guimarães, com uma conferência de Marcelo Rebelo de Sousa, comentador e professor universitário, sobre a identidade de Portugal, antes do debate entre o neurocirurgião João Lobo Antunes e o cardeal Ravasi sobre ‘O valor e o sentido da vida de cada ser humano’.
No sábado, a edição portuguesa do Átrio dos Gentios nas capitais europeias da cultura e juventude englobou seis debates sobre ‘estilo de vida e salvaguarda do universo’, para além de momentos culturais.
O padre e poeta José Tolentino Mendonça defendeu, durante o evento, que a Igreja Católica tem de assumir o “desafio” do diálogo para superar a “clandestinidade cultural” a que está a ser remetida.
“Hoje, a Igreja está colocada perante o grande desafio do diálogo e de uma presença consistente, coerente, desafiadora, criadora no meio do mundo”, afirmou o diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura.
O bispo português D. Carlos Azevedo, delegado do CPC, alertou por sua vez para a necessidade de a Igreja Católica recuperar a capacidade de interpelar os artistas e criadores contemporâneos.
“A cultura contemporânea pede que nos revistamos, que tenhamos uma linguagem, uma expressão que seja do nosso tempo”, observou.
O ‘Átrio dos Gentios’ concluiu-se na Catedral de Braga, lotada, com a apresentação da ‘Missa Brevis’ de João Gil, que também a interpreta integrado no grupo ‘Cantate’.
D. Jorge Ortiga, arcebispo local, disse o átrio permanece "aberto" e está nas mãos de cada pessoa, para ajudar a recuperar a "esperança" que parece ter desaparecido da sociedade.
PTE/OC
Igreja/Cultura