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Cáritas de Lisboa inaugura loja social

Voz da Verdade
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Procurando responder à crise económica e financeira, a Cáritas Diocesana de Lisboa aceitou o desafio de um grupo de leigos e vai abrir uma ‘loja social’, de apoio aos carenciados. “Além do problema de pobreza em Portugal – que não melhorou nos últimos vinte anos, ou que melhorou pouco –, há neste momento, nos sectores mais pobres e até na classe média-baixa e na classe média-média, problemas alimentares básicos, problemas de saúde básicos”. As palavras de Marcelo Rebelo de Sousa, expressas no seu espaço de opinião aos domingos na RTP, são o espelho das carências que o nosso país vive actualmente. Os problemas sociais das últimas décadas são agora agravados pela crise económica e financeira. Este cenário de carência preocupa a Igreja, que tem apelado às instituições e aos cristãos um aumento da solidariedade para com os mais necessitados. Em tempos de crise, as instituições ligadas à área social são obrigadas a recorrer à criatividade de forma a conseguirem desempenhar a sua função sócio-caritativa. Partindo desta premissa, a Cáritas Diocesana de Lisboa acolheu o projecto de um grupo, que gosta de se chamar ‘um grupo de pessoas amigas’, que propuseram à instituição a criação de uma ‘loja social’ que pudesse fornecer roupa aos mais necessitados. Da Cáritas, este grupo de cerca de 15 pessoas obteve não só a aceitação do projecto, como também a cedência de um espaço – em Carnide – e a disponibilização das roupas que a Cáritas conseguiu através de um protocolo com a Direcção Geral das Alfandegas, sobretudo ao nível das malas que ficam perdidas no aeroporto. Vai também ser disponibilizado nesta loja vários detergentes domésticos que entretanto a Cáritas conseguiu obter junto de um hipermercado que descontinuou uma linha de produtos de limpeza. Que tipo de loja será esta? O que levou um grupo de leigos a ir ao encontro da Cáritas Diocesana de Lisboa apresentar este projecto? “O objectivo desta loja é ajudar quem precisa”, explica Carmo, um dos rostos deste grupo de voluntários que se tem entregado de corpo e alma à causa desta loja. “Estamos numa sociedade onde há problemas. Por outro lado, tínhamos tempo disponível. Então, a questão colocou-se: ‘como vamos ajudar?’”, recorda. Todo o projecto nasceu da crise e do desejo de um grupo de jovens em ajudar. “O voluntariado é isto mesmo! Nós, na Cáritas, só temos de apoiar e acarinhar ideias como estas”, salienta, orgulhoso, José Frias Gomes, presidente da Cáritas Diocesana de Lisboa. Conseguida a aprovação por parte da instituição, havia que colocar ‘mãos à obra’. O segundo encontro após a aceitação do projecto foi nas instalações da futura ‘loja social’ em Carnide. Era tempo de perceber quais as reais necessidades do espaço. “O primeiro passo a dar foi limpar, pintar e apresentar”, conta Carmo. Para esta jovem de 34 anos, “importante não é só ‘o dar’, mas também o ‘como dar’”, daí a necessidade de reorganizar todo o espaço e embelezá-lo. Os últimos dois sábados foram passados no espaço da futura loja. “O que importa, ao nível da Cáritas, é criar, organizar e preparar para dar a quem mais precisa”, garante Frias Gomes. Esta futura ‘loja social’ visa atender os mais necessitados, que estão devidamente sinalizados pela Cáritas. A ideia passa por criar uma loja em que, como em todas as lojas, o cliente vá ao encontro das suas necessidades. “As pessoas vão poder entrar na loja, escolher, experimentar e, se gostarem do produto ou do artigo, vão poder levá-lo gratuitamente”, afiança Carmo. “A roupa e os detergentes vão depois num saquinho como se saísse de outra loja qualquer”, acrescenta. Não se pense que será uma loja com ‘tudo a monte’. “As pessoas não vão levar uma roupa amarrotada, mas roupa lavada, passada a ferro, que está em exposição num cabide com em qualquer outra loja”, assegura ainda esta jovem publicitária. O projecto inicial aponta para que os clientes da loja sejam pessoas carenciadas que estão devidamente sinalizadas pelas Cáritas. Num futuro próximo, poderá qualquer pessoa entrar na loja e comprar peças de roupa, como o faz em qualquer outra loja? “É uma matéria que estamos a estudar”, responde Frias Gomes. “O projecto de apoio às pessoas carenciadas também vai crescer e ele próprio nos vai dizer qual é o caminho a seguir”, acrescenta ainda o presidente da Cáritas Diocesana de Lisboa. A pobreza envergonhada é um problema crescente com que a Cáritas tem de lidar quase diariamente. Neste momento, a grande preocupação não é apenas dar, porque muitas pessoas não estão receptivas para receber uma vez que têm vergonha de assumir a sua condição de necessitados. “A missão desta loja passa também por dar com dignidade e tratar com dignidade quem recebe”, sublinha a jovem Carmo.


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